domingo, 9 de dezembro de 2007

Homenagem à Vera Magalhães

Assistindo sua entrevista na Tv Câmara, descobri que no último dia 04 morreu a economista e socióloga Vera Silvia Magalhães, 59, a única mulher no grupo de guerrilheiros do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) que, em 1969, seqüestrou o embaixador americano Charles Burke Elbrick, na mais famosa ação armada durante a ditadura militar brasileira. Ela sofreu um infarto e morreu em casa, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

Vera foi a responsável por levantar informações sobre os hábitos do embaixador. Para tal, seduziu o chefe da segurança de Elbrick.

"Em poucas perguntas soube hora, roteiro [do embaixador], placa [do carro]... Mas eu não dei", disse em uma entrevista à TV Câmara em 2003.

Nascida em família de classe média, Vera ingressou na militância política aos 15 anos. Segundo dizia, a leitura do "Manifesto do Partido Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels aos 11 anos -presente de um tio- determinou seu engajamento. Foi a primeira pessoa a ser indenizada em vida como reparação por torturas durante a ditadura.

No crematório do Caju, ontem de manhã, o deputado federal Fernando Gabeira (PV), seu ex-companheiro e colega de seqüestro, disse que "era mulher intensa, inteligente, sensível, com muito humor".

"Ela tinha uma personalidade muito semelhante ao do seu primeiro companheiro [José Roberto Spigner]." Ela casou-se outras quatro vezes.
Também do grupo que seqüestrou Elbrick, o ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social) afirmou que Vera "viveu intensamente e à frente de seu tempo". Para Martins, ela era uma otimista, que acreditava "que as coisas dariam certo".

"Tive o privilégio de ter sonhado os mesmos sonhos que ela, chorado nos mesmos momentos, e comemorado as mesmas conquistas que ela."

O ex-líder estudantil Vladimir Palmeira destacou que Vera, mesmo com seqüelas da tortura, mantinha militância política, mas não partidária. "Era muito bonita e a mais inteligente do nosso círculo."

Vera estava aposentada por invalidez. Até 2004, dava palestra a presidiários e em favelas sobre cidadania pela ONG Casa Alto Lapa-Santa. "Quero que as pessoas aprendam a pensar. Quero que os excluídos saibam porque são excluídos", disse à TV Câmara.

Vera foi uma das que mais apoiaram o uso da luta armada contra a ditadura. Em 1969, a Dissidência Comunista da Guanabara, da qual fazia parte, abandonou a linha pacifista, optando pelas armas.

Após alguns assaltos a bancos e supermercados, passou a ser conhecida pela imprensa popular como a "Loura 90": dizia-se que usava duas pistola 45 mm e uma peruca loura nas ações. "Eu tinha mal um 38 que emperrava toda hora".

Viu o primeiro marido morrer em confronto com a polícia no início de 1970. Um mês depois, foi presa na favela do Jacarezinho fazendo panfletagem. Ao trocar tiros com a polícia, foi baleada na cabeça.

Ficou presa por três meses. Foi torturada nas dependências do quartel da Polícia do Exército, na Tijuca. Saiu da prisão em junho, libertada com outros 39 presos em troca do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben.

No exílio, passou por Argélia, Cuba, República Tcheca, França, Alemanha, Chile, Argentina e Suécia. Formou-se em economia, com mestrado em sociologia na França. Voltou ao país após a aprovação da Lei da Anistia, em 1979.

Internada na semana passada em razão de uma hemorragia pulmonar, morreu na madrugada de terça ao sofrer um infarto. Deixou um filho.

Foi por causa da dedicação de pessoas como Vera que hoje temos democracia, mesmo que limitada sobre vários aspectos, no Brasil. Seu exemplo na luta por democracia e justiça em nosso país sempre será seguido.
Informações da Folha de São Paulo.

Nenhum comentário: