quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Nota de repúdio ao IZP

NOTA DE REPÚDIO
As entidades dos trabalhadores da comunicação de Alagoas, abaixo relacionadas, vêm a público repudiar a atitude autoritária do diretor presidente do Instituto Zumbi dos Palmares, José Américo, que ordenou a retirada do ar do programa Revista Educativa, da Rádio Educativa FM, de produção independente e comandado pelo músico alagoano Mácleim.
A medida foi uma represália ao conteúdo do editorial (abaixo) veiculado no programa, no dia 07 de dezembro, em que os Poderes constituídos do Estado foram questionados pela ausência no lançamento da Orquestra Jovem de Alagoas, no último dia 27 de novembro, também aniversário de dois anos do Teatro Gustavo Leite.
Antes de ter o programa suspenso, o produtor do programa chegou a ser “alertado” de que deveria mudar o conteúdo de seus editoriais, ou até mesmo, suspendê-los, mesmo tendo dito a verdade, sem ofensas pessoais ou interesses particulares. Indignado com a tentativa clara de reprimir a liberdade de expressão, Mácleim, corajosamente, recusou-se a aceitar tal medida impositiva, digna dos mais sombrios tempos da ditadura militar.
Em decorrência disso, a direção do IZP decidiu por retirar o Revista Educativa, da grade de programas da rádio 107,7 FM. As chamadas do programa já foram retiradas e no próximo dia 14 de dezembro, o semanário não irá mais ao ar.
Alertamos a sociedade alagoana de que a atitude do diretor presidente constitui a mais pura forma de CENSURA dentro de uma emissora pública. Não bastasse a demanda de assuntos do governo que os profissionais do Instituto têm que cumprir, as vozes verdadeiramente comprometidas com o povo alagoano vêm sendo caladas ao longo do ano. Lembramos aqui do programa Vida de Artista, que foi tirado do ar por burocratismos legalistas referendados pelo mesmo diretor presidente.
As entidades subscritas pedem o apoio da sociedade alagoana CONTRA A PRÁTICA DA CENSURA DENTRO DAS EMISSORAS PÚBLICAS DE COMUNICAÇÃO DE ALAGOAS!
Nossa missão, enquanto comunicadores, e ainda mais, comunicadores públicos, é defender o acesso à informação livre como direito humano fundamental, assim como prevê a Constituição brasileira.


ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES DO IZP

SINDICATO DOS JORNALISTAS DE ALAGOAS
EDITORIAL
Poder Desafinado

O teatro Gustavo Leite, no dia 27 de novembro, comemorou dois anos de sua inauguração. Pela programação idealizada pelo superintendente do Centro de Convenções, Francisco Pinto, tinha tudo para ser uma noite memorável e de congraçamento cultural através da música. E foi! Foi; pelo que dependeu do esforço empreendido pela organização e gestão do evento. Foi; pelo que dependeu da individualidade de cada músico e seus dons geniais. Foi; pela interatividade e recepção do público presente, aplaudindo e respaldando, de coração aberto, o que lhes era apresentado. E, finalmente, foi uma noite memorável pelo cerne da questão: a estréia, o lançamento da “nota” fundamental da Orquestra Jovem de Alagoas.
Então, qual a rusga, qual o senão capaz de maiores questionamentos a tudo o que foi visto e proposto naquela noite? No palco e na estrutura para a realização do espetáculo, que culminou com a apresentação da orquestra, tudo o que poderia ser criticado também pode ser facilmente desculpado. Nada de grave aconteceu. Pelo contrário, ali estava o espírito empreendedor de técnicos, gestores e artistas. Ali estava a abnegação e solidariedade de pessoas sensíveis que se comprometem pelo entendimento de que o ser humano evolui através das artes. Do genial Fernando Melo ao mais jovem componente da orquestra, no palco, todos eram voluntários de uma causa maior, de uma proposta construtiva para esse miserável Estado que, vergonhosamente, detém os piores índices do desenvolvimento humano. A começar pela mortalidade infantil, passando pelo analfabetismo, até chegar à expectativa de vida do nosso povo.
Mas, então, onde estava o que não cabe mais tolerar? A resposta, como de costume, em nossa cena, é repetitiva, enfadonha e reincidente como a dor de um espinho cravado no pé de quem tenta dar um passo adiante. Mais uma vez, o descaso e descompromisso de alguns gestores públicos e autoridades estabelecidas ficaram evidentes e rivalizaram com os propósitos elevados de parcela importante da comunidade.
O que justificaria tantos lugares vazios, com as marcas “reservado”, e as ausências significativas do secretário de cultura do Estado, do presidente da Fundação Cultural de Maceió, do prefeito e do governador? Todos, formalmente convidados. Talvez, a arrogância em não querer admitir e renderem-se ao fato de que, este ano, um projeto oriundo da iniciativa pessoal do Sr. Francisco Pinto, foi o único projeto de ação cultural realmente significativo para Alagoas. Desprestigia-lo, por não ter saído das secretarias, pastas, ou qualquer que seja o nome burocrático que se dê à inoperância desses gestores, é sórdido e, isso, ficou bem evidente.
Sabemos que sem o apoio estatal será uma tarefa quase impossível a consolidação da nossa orquestra, com um desempenho técnico que realmente possa nos orgulhar. Orquestras bem sucedidas, que atingiram níveis de excelência, principalmente em países do terceiro mundo, como Brasil e Venezuela, por exemplo, tiveram e continuam a ter o braço governamental como base de sustentação. O envolvimento da sociedade alagoana é extremamente necessário e, apesar dos pesares, acreditamos ser possível pelo apelo inquestionável deste projeto. No entanto, uma orquestra significa unidade, trabalho em conjunto, sincronia, garra e emoção. O naipe estatal não pode permanecer desafinado, sob pena do comprometimento geral de toda a orquestra.

Editorial N. 84 Revista Educativa
07/12/2007.
Mácleim.

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