terça-feira, 13 de maio de 2008

REFLEXÕES SOBRE O 13 DE MAIO

REFLEXÕES SOBRE O 13 DE MAIO

Clara Suassuna Fernandes*

Treze de maio, que felicidade, uma data importante para se comemorar. Princesa Isabel neste dia libertou os negros da escravidão. E agora? O que aconteceu? Mudou tudo? O negro poderia trabalhar livremente? Poderia escolher onde morar? Ter direito à educação, à saúde? Na verdade, o que aconteceu? Ele foi integrado?

Sim, mas de forma excludente, ele foi integrado ao calendário, agora ele é mais uma data, portanto não pode reclamar, ele é peça fundamental, tal qual é o da mulher ou do índio, que são ditos minoria e precisam ser valorizados. Contudo, não deixa de ser somente um dia na mídia, nas escolas, um dia no calendário de 365 dias. Agora pergunto: há dia para o branco ou para o homem? Porque não existem tais dias? Vamos pensar.

Logicamente, a data de fato existe, é real, mas as reflexões e as conseqüências políticas e sociais do momento histórico vêm sendo estudadas e debatidas no meio acadêmico ou por grupos sociais de forma sistemática. A partir da década de 1980, seja pelo Movimento Negro, através dos núcleos de pesquisa afro-brasileiros e pesquisadores, começam a divulgar análises que divergem dos dados e comemorações oficiais.

Não podemos esquecer a queima dos documentos feito por Rui Barbosa, na tentativa de apagar o registro escravista que a colonização portuguesa impôs até 1888. É uma reflexão necessária, porque a nossa história, como qualquer outra, é recheada de contradições e ações “impensadas”. Mas, em contrapartida, tivemos Castro Alves, na poesia, Rebouças, na construção civil, e Lélia Gonzáles na militância do movimento Negro.

Não estamos minimizando a responsabilidade e o descaso estabelecido naquele momento histórico, mas o sistema político tinha em mente branquear a população brasileira e precisava criar o sistema de migração, desta vez branca e especializada, com a entrada de italianos e espanhóis em larga escala. Tal justificativa está tão bem representada na pintura Redenção de Cã.

A data deveria simbolizar a luta dos negros contra o preconceito, ou mesmo sobre democracia racial, mas reflete o descaso do Estado com os afro-descendentes, que ajudaram e ajudam a construir o país.

*Diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFAL

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