domingo, 1 de novembro de 2009

Besouro : um filme com muita raça e classe

Estreou nos cinemas brasileiros a produção nacional “Besouro”. Besouro narra a historia do capoeirista Manoel Henrique Pereira discípulo de Mestre Alípio e que ganhou fama mítica ao resistir contra a opressão ao povo negro da sociedade de sua época.

Sua saga da na região de Santo Antonio da Purificação no recôncavo baiano em meados da década de de 1920.

Artigo de Clédisson “Jacaré” Junior*


Após mais de 3 décadas em que a escravidão fora legalmente abolida no Brasil, a condição de vidas dos ex escravos e dos negros nascidos após a ela, não mudara muito. No interior do pais e principamente nas fazendas usineiras da região nordeste as leis ainda eram feitas pelos coroneis e aplicadas pelos jagunços. É a partir deste enredo que temos o pano de fundo para a historia de nosso herói contada no filme de João Daniel Tikhomiroff.

Para alem de ter a capoeira como principal elemento deste filme e este elemento não é de menor importância, também podemos acompanhar a relação “mão de obra escrava versus meios de produção capitalista” sugeridas pelo filme.

Segundo Florestam Fernandes “preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma rede da exploração do homem pelo homem e que o bombardeiro da identidade racial é prelúdio ou o requisito da formação de uma população excedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal pago...” construimos referencias com passagens do filme aonde Besouro em ato de resistencia para dar fim aos desmandos e maus-tratos sofridos, cristaliza sua ação em ataques ao canavial e ao maquinário da usina , por compreender ser o meio de produção o principal motivo da opressão vivida pelo povo negro.

Analisando o filme a partir da obra de Florestam Fernandes “luta de raça e de classes” é exposto a idéia de que o “trabalhador” negro necessita superar ideologias que as classes dominantes do capitalismo criaram. Relaciona-se à idéia de que os negros fazem parte de uma raça inferior, não dotada de razão e civilidade, em relação aos brancos. Sendo assim o negro carrega nas costas o peso de ideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é pouco propenso ao trabalho e de que é “inferior”.

A luta do povo negro é a de desmistificar as razões pelo qual foram escravizados e o porque de sua submissão ao racismo pela elite fundamentalmente branca. Atingir tal nível de compreensão é tarefa revolucionaria para um projeto de nação que queremos e alavancar de vez os niveis de sociabilidade e mobilidade do povo negro.

O escolha por resistir de Besouro, mesmo após a abolição de 1888, nos responsabiliza canalizar em nossas formulaçoes e ações a busca pela abolição “de fato”, que devera partir de baixo para cima ao contrario de que foi a primeira.

O que esta implícito no filme é a relação dicotômica na estrutura da classe trabalhadora brasileira aonde ela é composta não somente pela questão social, mas também pela questão racial, o que concretiza a particularidade da luta de classes no Brasil.

Ao final do filme fica a mensagem de que nós temos com importante tarefa travar uma batalha contra as desigualdades sociais e raciais, quanto também buscar uma unidade de grupo (negros e negras) realmente definido e coeso perante a sociedade. Neste sentido, para que possamos de fato dar continuidade ao ato de resistência de Besouro e avançarmos na luta contra-hegemônica ante ao capital que oprime e descrimina, devemos garantir formação que nos instrumentalize para a luta política-ideológica e que essas sejam ligadas aos rumos teóricos pelos quais a relação raça/classe se desenvolveram.



* Clédisson “Jacaré” Junior é diretor de Combate ao Racismo da UNE e capoeirista.

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