quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Estado é laico, porra!


Ontem iniciou-se no Supremo Tribunal Federal – STF o julgamento da descriminalização de aborto para fetos anencefálos.  A sessão foi interrompida em 5 a 1 pela descriminalização e recomeça hoje a tarde. E como tudo no que diz respeito a contradizer questões religiosas isso também era polêmica no Brasil.

Antes de abordar o tema gostaria de deixar claro que não faço aqui julgamento de fé alheia. Isto não me interessa. Apenas abordo a questão do Estado.

Em temas como este, entre os que defendem uma visão religiosa há os de boa fé, aqueles que são realmente sinceros em suas defesas. E, com certeza, tem um monte de “esperto” só fazendo proselitismo pra tentar ganhar sei lá o quê ou passar a imagem de sabe-se lá quem...

Aos segundos desejos a vocês o mesmo calor do inferno que vocês desejam pra mim...

Aos primeiros, meu respeito, mas minha divergência.


Primeiro que fetos anencefálos não possuem vida. A mãe, mulher, gera um defunto dentro de si. Submetê-la a nove meses de gestação de um cadáver é de um sadismo imensurável. Coisa de fazer inveja aos agentes da inquisição da Idade Média.

O que mais me espanta é ver gente dizendo o seguinte despautério: “mesmo que seja só quinze minutos de vida, o feto tem que nascer”. O estranho é que só defende tal asneira quem nunca teve um filho anencefálo.

Mas será que tem vida mesmo? O fato de o coração bater não significa vida? Quem comanda o corpo é o cérebro e não o coração. O coração é um músculo involuntário e mesmo assim é tão incipiente nesses casos que só bate por pouco tempo.

Segundo que o Estado brasileiro é laico. Não é anti-religião ou tem alguma. É laico. Ponto. Isto significa que ele não pode sofrer intervenções religiosas em sua estrutura.

As pessoas podem ter a religião que quiserem, o Estado nenhuma. Esta é a única forma de garantir a liberdade religiosa. Que  tão oportunísticamente muita “gente de Deus” tagarela por aí.

Terceiro que o fato da interrupção de gravidez em casos de fetos anencefálos ser descriminalizado não significa que todas as gestantes de fetos assim vão correr feitos loucas à hospitais para realizar o procedimento.

Isso é de uma insanidade. A mulher que não quiser fazer, não vai fazer. Seguirá sua orientação moral ou religiosa.

Mas tem uma coisa que me dá nos nervos são os argumentos de quem é contra. Desde fotos de fetos abortados nas redes sociais até a afirmação: “se sua mãe pensasse que nem você, você não estaria aqui”. Isso é de uma canalhice.

Se nasci porque o Estado obrigou minha mãe (ou qualquer mãe) a me ter, eu lamento profundamente por ela e tomara que consigamos um dia ter um Estado que não obrigue mais as mulheres a fazer nada que não queiram.

Sobre as fotos, deveriam mostrar a igreja de ossos humanos, de fetos e bebês, inclusive, existente na cidade de Évora em Portugal. Os padres engravidavam as freiras que abortavam ou matavam seus bebês porque padres não podem ter filhos e com ossos foi construída a igreja. (clique aqui)

Não tenho a pretensão de mudar a fé de ninguém, mas também não posso aceitar a intromissão das religiões no Estado. Isso não.

Não podemos ter a volta da Idade Média.

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