terça-feira, 19 de junho de 2012

Contradições e conservadorismo


A cada dia os discursos sobre comportamento e política, especialmente política, estão mais conservadores. É comum vermos no Facebook, por exemplo, imagens com discursos de negação da participação política ou de políticas sociais. Mensagens com falas na boca dos outros com um teor que além de conservador, extremamente deselegante. O principal deles é o do Oscar Niemeyer afirmando que deveria ter construído Brasília no formato deum camburão. Niemeyer nunca disse isso. Não nem o seu estilo. Leia mais aqui

Outra é a foto do Lula lendo um livro que estaria de cabeça pra baixo. A inteligência rara que fez a imagem só esqueceu-se de inverter a posição da capa do livro. Se ele está de cabeça pra baixo, a capa deveria estar na mão direita.

Tal imagem é fruto de preconceito contra o ex-presidente Lula. Pessoa do povo que saiu em um pau de arara do Nordeste para São Paulo. Mais aqui

Outra na lógica das politicas sociais é sobre o seguro para presos. É de uma ignorância sem tamanho. Nele se expressa também o preconceito contra os pobres. Típico discurso do eleitorado do Serra na última eleição. (foto abaixo bastante educativa feita por Jonas Albert)


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O que chama a atenção é a onde de jovens conservadores. Acho que nunca tivemos uma geração jovem tão conservadora. Em todos os aspectos.

É claro que o polo mais progressista existe e é considerável em tamanho, mas a ferocidade conservadora chama a atenção. Basta meia hora de rede social para perceber este fenômeno.

É claro que o entendimento das contradições nas relações políticas não é fácil. Mesmo, muitas vezes, pra quem vive no meio da política.

O discurso da realidade de forma reta, ignorando tais contradições, é o mais fácil de fazer. Preto é preto; branco é branco e ponto final. Não existe cinza, ou branco pérola.

Este é apenas um dos motivadores para o afloramento do conservadorismo.

O principal é o preconceito arraigado nas entranhas de parte de nossa população. Em média mais presente na (clássica) classe média.

Basta olharmos nossa imprensa. Moralista até a tampa. Criou os Demóstenes da vida. O próprio Collor em 89 com sua caça aos marajás, também foi fruto, entre outras coisas, do moralismo.

E moralismo é por essência, conservador.

A grande imprensa é responsável pela disseminação desse moralismo. Propaganda de mosqueteiro da ética, todos os dias os editorias tratam de que o Brasil é uma corja de corruptos, que todo mundo é igual na sujeira. Além de deseducar politicamente, passa uma falsa impressão da realidade.

E quando a imprensa se viu na berlinda de ser julgada justamente por condutas éticas, desesperou-se. Basta um olhar mais atento ao caso Veja / Cachoeira.

Agora a bola da vez é a eleição para a prefeitura de São Paulo.

Primeiro vale ressaltar que a modus operanti da democracia brasileira não favorece o debate mais programático. Sem reforma política estaremos fadados ao pragmatismo. Que por si só não é ruim. Só não pode estar sempre só no jogo político.

Segundo que sobre o Maluf em São Paulo, este já havia apoiado as candidaturas do PT. A última da Marta, por exemplo, teve seu apoio. Até onde sei foi apoio sem palanque.

Se Maluf apoiasse o Serra, não seria o poço de contradição que a imprensa tenta explorar. E nega a similaridade de perfil consigo e com seus aliados. Falseamento da realidade.

Contradições fazem parte do nosso dia a dia. Na politica não é diferente. E num ambiente onde não se prevalece o debate mais programático, elas são mais evidentes.

Não existe, por si só, abandono de programa. Essa é outra falácia que a imprensa joga a todo o tempo para a população.

Mas essas contradições ocorrem em todo o Brasil. Heloisa Helena quando se elegeu senadora em 1998, teve apoio de setores conservadores da política alagoana. Celso Luís, protótipo de coronel do sertão é o melhor exemplo. O próprio Cícero Ferro, outro do mesmo tipo de Luís também a apoiou em 1998.

Quem não gosta de contradição, não pode se envolver com política. Na verdade, não pode se envolver com nenhum tipo de relação humana.

Quando fizermos / tivermos uma reforma política que realmente mude a forma de exercer a democracia no país, com os partidos mais fortalecidos onde se possa fazer o debate programático e a diferenciação entre eles ficar mais evidente aos olhos de quem não vive / acompanha a política para além da imprensa, poderemos cobrar postura mais programática do jeito que tem se cobrado por aí.

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