quinta-feira, 12 de julho de 2012

Demóstenes e a indiferença política


Ontem tivemos a cassação de Demóstenes Torres, ex-DEM, ex- mosqueteiro da ética da grande imprensa, no Senado Federal. Seu mandato foi cassado pro suas relações com o bicheiro Carlos Cachoeira. Bicheiro que ao lado do ex-senador, pautava Veja e Globo, por conseguinte o restante da grande mídia, para chantagem política em busca de seus interesses privados e da direita brasileira. Leia mais aqui

A votação foi 59 votos a favor; 19 contra e 05 abstenções.

Seu suplente é ex-marido da esposa do Cachoeira. Mais do mesmo.

Demóstenes disse que vai ao STF reaver seu mandato. Já tem a quem procurar lá. Leia mais aqui

Mas o que me chama a atenção é a campanha anti política nas redes sociais. Várias e várias imagens com campanhas contra campanha eleitoral nas redes.

Isso já não é uma campanha?

Ora, rede social é para, além de contatos com amigos e pessoas de áreas afins, expressar opinião.

O que tem de gente afirmando que vai bloquear outra por ter compartilhado uma propaganda de candidato, não tá no gibi.

Infelizmente uma boa parte dessas pessoas são jovens.

Se valem de um discurso eticista. De que quem participa da política institucional é inferior a ela e, portanto, não podem dividir espaço na timeline do seu perfil na rede social.

Eticismo. Mesma bandeira do Demóstenes cassado ontem pelo Senado.

Muito desses que não gostam de democracia. Não gostam, porque não gostam de política. Política é voz da democracia.

Não o banco ou ONG ou mesmo seu perfil no facebook ou twitter.

Esses aí, como diria Bertolt Brecht, além de analfabetos políticos, são imbecis: “...O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

Odeiam as campanhas políticas por causa de corrupção, mas na hora de votar, votam em quem dá um empreguinho pra si ou pra alguém próximo.

Odeia eleição porque só se preocupa consigo mesmo. “Não preciso de política”, tagarela a inteligência rara.

Não sabe, esse jumento batizado, que até para ele dizer isso livremente, da forma que quiser e onde quiser, foi necessário uma coisa: política.

Foi a política que possibilitou que ele fosse um pateta afirmando essas bobagens na internet.

Muita luta política, na verdade. Nas ditaduras e nas democracias. A todo instante existe luta política.

E o “melhor” de todos que não quer ver campanha eleitoral, não sabe é que sua postura de negação da politica, além de ser uma posição politica, serve a interesses políticos.

Será que a classe dominante se incomoda com a postura “apolítica” de algumas pessoas?

Essa postura, junto com o moralismo (são quase uma só), é o centro da postura política dos setores conservadores de nossa sociedade.

O pateta nem sabe que atende a um interesse político.

É um miserável “das costa ôca”.

Brincadeiras e ironias à parte, de fato muita coisa precisa mudar na forma de fazer política no Brasil.

Corrupção é intrínseco ao sistema capitalista. Um sistema que privilegia o ter e não o ser. Depois do neoliberalismo, o individualismo ganha uma força descomunal. Não vamos confundir com individualidade.

É o cada um por si e tchau.

É preciso fazer uma reforma política no país. Urgentemente. Não dá pra parlamentares ou membros do executivo serem lobistas de empresas privadas. Financiamento público de campanha é mais que urgente.

Além de facilitar a fiscalização dos gastos, porque ao invés de fiscalizar contas individuais, vai se fiscalizar contas partidárias, apenas, torna mais igualitária a disputa eleitoral.



Voto em lista ao invés de votar em nomes. Assim acaba o personalismo e os programas partidários passam a ter mais força no debate politico.

Rever a relação do Judiciário com os outros poderes. Na verdade, a relação entre os três. Mas o Judiciário, como parte do Estado, também precisa ser reformado.

Pra mim o fato dos magistrados terem poder vitalício torna este Poder o pior de todos. O mais anti-povo dos três.

E a postura, acultura política das pessoas. Que precisam se envolver na vida política que as cerca. Seja na associação de moradores, seja no grêmio da escola ou no diretório acadêmico da faculdade, filiação partidária, posicionamentos sobre os temas da vida em comunidade. Tudo isso é envolvimento político.

A indiferença é a antessala da injustiça.

Não seja um indiferente.

Como disse o pensador italiano, Antonio Gramsci: “Viver significa tomar partido”.



Um comentário:

RLocatelli Digital disse...

Parabéns pelo post, passando uma descompostura nessa classe média idiotizada que se diz "apolítica" mas lê Veja (revista política) e assiste Jornal Nacional (porta-voz de um partido político).