quinta-feira, 25 de outubro de 2012

1989 nunca acabou para a Globo

Edição do debate favoreceu Collor, apoiado pela grande imprensa
Mesmo quem não acompanha política ou tem um olhar mais atento às práticas jornalísticas no Brasil, já ouviu falar da famosa edição do debate Lula/Collor na eleição presidencial de 1989. Já ouviu falar em como a Globo ajudou o candidato da grande imprensa a parecer mais preparado que Lula para assumir a Presidência da República.

Até o Boni – todo poderoso da Globo até pouco tempo atrás – admitiu a manipulação. A edição inverídica foi ao ar no Jornal Nacional na véspera da votação daquele pleito.

No último dia 23/10, o mesmo Jornal Nacional da mesma Rede Globo, dedicou 18 minutos dos seus 32 ao julgamento da Ação Penal 470 chamada de “mensalão”.

Desde o início do segundo turno que o tema é abordado logo após o guia eleitoral na TV.

O PT disputa o segundo turno em seis capitais e a base aliada em todas. Em todas as cidades onde tem segundo turno, o PT ou partidos da base têm pelo menos uma candidatura. Em Belém, apesar do candidato ser do PSOL, que faz oposição ao governo Dilma, conta com o apoio do PT.


Essa postura da Globo é a mesma desde sua fundação alicerçada na estrutura da ditadura militar. Mudou apenas o pano de fundo. Se no período militar a realidade era um “mar de rosas”, desde 2003 com o início do governo Lula, vivemos um “mar de lama”. “Mar de lama” aliás, que sempre foi o discurso da direita de da grande imprensa diante da presença de governos de cunho progressista no país.

Se em 1989 a Globo tinha Boni e o próprio Roberto Marinho, agora ela tem Ali Kamel e os filhos do Roberto – segundo o Paulo Henrique Amorim, ele são tão sem identidade que não têm nomes, são apenas os filhos do Roberto Marinho. Mas sua face golpista a “poderosa” nunca perde.

É como se 1989 nunca tivesse acabado, para ficarmos apenas no período pós ditadura militar.

As manipulações globais são inúmeras, tendo como um dos ápices a famigerada “bolinha de papel”.

Em 2010, num encontro entre caminhadas de campanha de Serra e Dilma, uma bolinha de papel foi arremessada na confusão e atingiu a cabeça do tucano. Minutos depois o “vampirão” simulou tonturas e mal estar como se tivesse sido atingido por uma pedra. Fez até tomografia.

A Globo preparou uma longa reportagem com exposição de frame para mostrar a pedra na cabeça do Serra. Nenhum outro veículo acompanhou a “rede plim plim” em seu devaneio. Em resumo ela perdeu a linha. O SBT chegou a desconstruir a simulação feita por Ali Kamel dias depois do JN exibir tal peça de ficção.

Boechat na Bandeirantes ridicularizou o episódio. Nem o “mamãe eu sou reaça” do Boris Casoy deu eco à ficção global. Os impressos também não.

Algo similar aconteceu depois dos 18 minutos de 32 do JN de 23/10. Até a Folha de São Paulo, um dos “quartetos do apocalipse midiático” mostrou incômodo com a “poderosa”, fazendo questão, inclusive de contar os minutos que cada parte da exibição do tema usou.

A ONG “Movimento dos Sem Mídia”, presidida pelo jornalista Eduardo Guimarães entrou com uma ação contra a emissora dos filhos do Roberto Marinho. Ela baseia-se em descumprimento das Leis brasileiras por parte da emissora.

A Lei 9.504/97, a chamada Lei Geral das Eleições, em seu artigo 45, diz que:
A partir de 1º de julho, ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, conforme incisos:

II – usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito;

III – Veicular propaganda política, ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes;

IV – Dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;


A representação pede o fim da concessão de Rede Globo por crime eleitoral.

Outra Lei infligida, segundo a ONG “ Movimento dos Sem Mídia”, foi a Lei de Concessões. É proibido o uso de uma concessão pública de televisão com fins político eleitorais.

Já circula nas redes sociais que a Globo prepara um Globo Repórter sobre o julgamento. O programa vai ao ar as sextas-feiras. Dois dias antes do segundo turno. Se isso acontecer, certamente teremos uma “edição especial” do JN no sábado, véspera da eleição.

Vivemos em um país onde uma única rede de televisão tem um poder maior que o Estado. Vivemos num país onde temos na Constituição direitos básico e valores democráticos garantidos, mas que no caso da comunicação social ainda falta a regulamentação e desde 1988 nada foi feito.

A postura da Rede Globo em relação ao povo brasileiro e à democracia no país demonstra bem o quanto ela nos despreza. Felizmente a cada dia o povo vai desprezando-a cada vez mais. Não é a toa que mesmo com a novela “julgamento do século” a votação da esquerda e em especial do PT cresceu.

O que mais ela, em permanência no ano de 1989, vai inventar?

Um comentário:

Lucas de Oliveira disse...

Excelente texto, a Rede Globo é um dos alicerces que mais prejudicam o Brasil em toda a história. 89 foi um dos momentos mais vergonhosos para o Brasil.