terça-feira, 23 de outubro de 2012

Kaiowá Guarani e os silêncios ensurdecedores

Já em 1999, CartaCapital denúnciava os suicídios
Que o problema fundiário histórico, gritante e extremado em suas relações todos sabemos. Não precisa dominar geografia para perceber que o latifúndio domina a divisão das terras brasileiras e que trabalhadores rurais e indígenas há tempos travam lutas pela sobrevivência contra o Estado brasileiro.

Luta contra o Estado, não governo. Apesar de que em muitos governos sequer existir o diálogo.

O fato mais recente que tem chamado a atenção nas redes sociais foi o manifesto contendo anúncio de suicídio coletivo de 170 índios Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul, na cidade de Iguatemi, por conta de uma decisão judicial da Justiça Federal expulsando-os das terras em que viviam.

“Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje. Comemos uma vez por dia”

Desde os anos 80 que essa tribo comete suicídios coletivos como forma de livrar-se de maus tratos. Fazendeiros desde sempre que os tratam à bala e sua mulheres foram prostituídas e muitos viveram como mendigos. O total de suicídios até hoje é de 863 índios, entre eles crianças.

O índice de mortes na reserva de Dourados, local onde vivem os Kaiowá Guarani é maior que no Iraque, segundo o Conselho Indigenista Missionário, são 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque, esse índice é de 93 pessoas para cada 100 mil.


O silêncio da grande imprensa é ensurdecedor. Sempre quando conflitos oriundos de questões estruturais como a questão fundiária no Brasil precisam estar à tona, a mídia se cala finge que nada acontece. A não ser quando tem caminhada às cidades dos movimentos de luta pela terra, onde o trânsito fica congestionado ou alguma ocupação de prédio público.

Tudo com o viés de criminalizar trabalhadores e indígenas.

Outro mal que o silêncio da grande imprensa provoca é a confusão sobre os fatos. Muita gente compartilhou nas redes sociais que o suicídio coletivo era culpa da Presidenta Dilma. A decisão da retirada dos Kaiowá Guarani das terras foi da Justiça Federal e não do governo federal.

É claro que a crítica ao tratamento dispensado aos povos indígenas no Brasil é aquém do que deveria. Mesmo podendo afirmar que houveram melhoras nos últimos anos, mas ainda bastante insipiente.

O trato é deplorável desde a chegada dos europeus por aqui. Infelizmente.

O governo federal pode até não ter responsabilidade direta neste suicídio coletivo de 170 pessoas, mas pode intervir para que ele não aconteça. Deve intervir para que ele não aconteça.

Já passou da hora para o Estado brasileiro parar de atender as vontades das elites e se voltar de uma vez para os que realmente precisam.

E tem gente que acha que não existe luta de classes.


Abaixo assista o comentário de Bob Fernandes à TV Gazeta de São Paulo. Os dados dessa postagem foram retirados dele.

Um comentário:

Rox disse...

Partiipei de uma manifestação no último domingo, no Rio e filmei uma índia que vive na aldeia maracanã fazendo um discurso emocionado e esclarecedor. De início ela fala em tupi-guarani mas depois continua em português. Me levou e levou mais alguns lá às lágrimas. www.youtube.com/watch?v=h8HBMhNNHaw

e um video da manifestação www.youtube.com/watch?v=pu7VNsbdhPY

Se puder divulgar...