quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Outro desserviço da Globo à democracia

A Globo decidiu cancelar o debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo. O argumento da emissora é que só com até 06 participantes se é possível fazer um debate proveitoso. Uma decisão judicial garante que todos os concorrentes participem dos debates. Então a Globo decidiu não realizá-lo. Com o mesmo argumento, a TV Gazeta, afiliada de Rede Globo também decidiu cancelar o debate entre candidatos em Maceió.

A Globo, ao destacar um teto de participantes para a realização de “debate produtivo”, sinaliza para as suas afiliadas que com mais de 06 participantes não tem debate. Este estaria fora do “padrão Globo de qualidade”. É claro que a Globo não verbalizou tal postura às retransmissoras, mas um olhar não muito atento já percebe o recado.

E quem tinha esperança de ver confronto de ideias pela última vez, se é que viu a primeira, em São Paulo e Maceió, se deu mal.

Se com mais de 06 participantes não dá para realizar “um debate produtivo” que se aumente o tempo do mesmo. Afinal sinal de TV é concessão pública. E não existe neste momento nada mais importante no país do que as eleições municipais.


Quer se goste ou não de política.

As emissoras de rádio e TV pouco ou quase nada organizam debates acerca dos problemas das cidades, estados ou do país. Enquanto países como Portugal, boa parte da grade é composta com programas com esse tipo de conteúdo, aqui nos dão apenas novelas, futebol e telejornais pirotécnicos.

De acordo com matéria publicada no site da revista Mundo Estranho, 851 milhões de reais deixarão de ser pagos pelos meios de comunicação em forma de isenção no imposto de renda das emissoras. Cerca de 80% do que seria arrecadado com publicidade.

De gratuito, o horário eleitoral não tem é nada.

E ainda tem gente que acha que os meios de comunicação não precisam de regulamentação.

Mas como só não se dá jeito para a morte, não se faz o debate por que não quer.

Nas redes sociais circulam informações de pesquisas e trackings sobre a disputa em São Paulo que dão conta da derrocada de José Serra. Ele estaria sendo superado pelo Chalita, candidato do PMDB. O eterno presidenciável e, segundo muitas línguas, vampiro nas horas vagas, estaria rumando ao quarto lugar na disputa eleitoral. Um melancólico fim de carreira.

Serra terá mais tempo para ficar no twitter.

Tanto ele quanto Russomano têm tido desempenhos pífios nos debates que já ocorreram. A intenção da grande imprensa é evitar a desmoralização de Serra.

E aqui, segue-se a lógica nacional. Afinal quem manda é a Globo. TV Gazeta, de fato, não existe. A TV Gazeta preenche espaços dedicados à programação local da Globo.

A indústria cultural pasteuriza tudo, até os valores. Muita gente diz concordar com o posicionamento oficial da emissora em não realizar o debate. “Com muita gente é mesmo muito ruim”, dizem.

Fica ruim porque querem fazer no mesmo tempo como se fossem dois ou três debatendo. Se acha ruim, porque estão a gerações ensinando que política é ruim.

Os debates, por exemplo, são quase de madrugada. O “debate” sobre política no chamado horário nobre e criminalizatório.

Como se interessar por política se ela é sempre maculada, sempre apresentada como a pior das atividades humanas?

Quem perde somos nós. Não debatemos os rumos das coisas como se deve. Não conseguimos discernir os fatos dos interesses da grande imprensa, ficando suscetíveis aos ditames de nossas elites.

Esse é mais um dos motivos do ódio ao ex-presidente Lula. Ele passa ao largo da grande imprensa. Mas esse debate volta por aqui em outro momento.


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