sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sabotar Mais Médicos é coisa de espírito de porco



Discordância. Algo tão salutar para fomentar construções no campo das ideias. É na discordância e contradição que muitos avanços surgiram na humanidade. Exemplos não faltam. Por mais que discorde da posição de alguns médicos, sobre o Mais Médicos, do governo federal, não dá para dizer que essa postura não é legítima. Mas a sabotagem, não dá para aceitar.

Na primeira semana de inscrição para o programa mais de 11 mil médicos, de 753 cidades se cadastraram, 80% deles formados no Brasil. O tempo de participação no programa é de três anos. Porém há rumores de que muito o fizeram para não assumir a vaga que pleitearam apenas para atraso de cronograma e criar confusão. Pensam essas almas sebosas estarem sabotando o governo federal, mas sabotam o povo mais pobre, especialmente os de locais mais distantes e dos 700 municípios brasileiros onde não existe um único médico sequer.

Os que discordam alegam, entre outras coisas, que falta estrutura em hospitais públicos e postos de saúde. Forma às ruas com essa premissa. O gozado é que nunca o fizeram antes. Nunca “pintaram” as ruas de branco com seus jalecos cobrando das autoridades melhores estrutura hospitalar pública no Brasil. Então por que agora?

Toda a “revolta” começou após o governo federal anunciar a vinda de médicos estrangeiros – cubanos! – para suprir vagas na atenção básica, em cidades do interior. Se a informação fosse de que viriam profissionais dos EUA, por exemplo, talvez o ranger dos dentes fosse menor. Para disfarçar o preconceito contra a ilha com a melhor medicina preventiva do planeta, passaram a cobrar a infraestrutura.

É mais do que justo reclamar desse problema. Ninguém em sã consciência se nega a fazer isso. Mas também não dá para negar o aumento em investimentos nessa área na última década. A saúde no Brasil é municipalizada. Se o dinheiro vem e não é aplicado, cobre da sua prefeitura. Em alguns casos, como hospitais gerais, do governo estadual.

Depois cobraram plano de carreira para que os médicos pudessem voltar do interior para as capitais. Chegaram a comparar com a carreira de juízes, onde o Estado dá mais garantias do que devia, vamos combinar. Será que os médicos estariam dispostos a abrirem mão das clínicas particulares para se dedicarem exclusivamente ao SUS? No Judiciário juízes e promotores não podem advogar. Com a palavra o Conselho Federal de Medicina (CFM) ou a Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

Outro argumento é o do aumento do curso de Medicina em dois anos a partir de 2015. Esses anos a mais são para atendimento de atenção básica no SUS. Entre as diversas alegações está o de que o internato – etapa obrigatória nos cursos de Medicina – já se dá pela rede do SUS. Mas ninguém de jaleco diz que essa etapa é feita de forma fragmentada pelas especialidades médicas. O que se propõe é que nos dois anos de SUS os estudantes atendam o paciente como um todo e com o devido acompanhamento das universidades.

Aí falam que as instituições de ensino superior não estão preparadas para essa mudança e que os reitores não foram consultados. Sobre o preparo, essas mudanças no curso de Medicina somente passam a valer a partir de 2015. Ou seja, os que ingressarem nos cursos a partir dessa data é que passarão por essas mudanças. Sobre os reitores, sim, eles deveriam ter sido consultados.
Sobre as remunerações não há o que dizer. Dez mil reais, mas ajuda de custo com o deslocamento que pode chegar a R$ 30 mil.

E o Revalida?

O exame para revalidação do diploma médico existe para que profissionais médicos de outros países atuem no Brasil. Outras nações aplicam testes semelhantes. Como quase tudo na vida, há um porém: se os médicos estrangeiros que vierem para trabalhar no Mais Médicos fizerem o Revalida, após o término do três anos de programa, eles poderão atuar onde quiserem no país. O que geraria disputa de mercado com os médicos brasileiros. Essa não é a intenção do governo federal.

Ainda sobre esse exame: os brasileiros que estudam no exterior estão na sexta colocação do ranking de aprovados no Revalida. Venezuela e Cuba são os primeiros colocados, respectivamente. E por que não aplicar a prova aos formandos em Medicina, assim como faz a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para os bacharéis em Direito que desejam exercer a advocacia? O que tem de médico que não olha para o paciente e seus diagnósticos são sempre a maldita virose, não tá no gibi.

Ninguém nunca, em lugar algum, afirmou que a vinda dos médicos estrangeiros ou a ida dos médicos brasileiros para o interior e as periferias das grandes cidades é a salvação da lavoura ou que todo o resto vai de vento em popa. Mas que isso ajuda e muito a questão do atendimento preventivo e na atenção básica, ajuda sim.

De todo jeito, sempre vale o debate. A sabotagem, não. Você é médico e não quer participar do Mais Médicos, acha que um absurdo ser “escravizado” com salários de R$ 10.000,00 atendendo pobres, simplesmente não se inscreva no programa. E depois tem gente que acha ruim quando se afirma que médicos (sempre há exceções!) são elitistas.

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