sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A política atual sob a Casa Grande e a Senzala





Governo é diferente de poder. No sistema capitalista o verdadeiro poder é o econômico, do capital. Foi esse sistema que criou as regras de participação política que temos hoje, que na visão deles são democráticas. E até são, mas dentro dos limites de seus interesses. Usemos a relação Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.


É como se a senzala tivesse conseguido o direito de brincar dentro da casa, mas apenas na sala de estar, nunca sozinhos. Os senhores fazem isso para mostrar benevolência em relação ao povo, dando-lhes o direito, desde que consigam cumprir suas regras, de entrar na Casa Grande, mas sempre tendo que se submeter aos seus interesses.

A grande questão do ponto de vista político é que esses donos – a elite – não tem nomes para brincar na sala de estar também, junto com os representantes da senzala. Também existe o grupo do meio, que não são da Casa Grande, nem são da senzala. Desse grupo há três tipos de comportamento: um que afirma estar ao lado da senzala, mas torce e faz o que pode para atrapalhar a brincadeira; o segundo, toma as dores da Casa Grande. Num fetiche de um dia ser aceito por completo por seus membros e poder transitar livremente por toda a casa.


E tem o terceiro grupo que realmente está ao lado da senzala. Não é parte dela, mas entende sua perspectiva e tem a consciência de que com a senzala dentro da casa, todos ganham.

A dor de cabeça dos donos da Casa Grande é a falta de gente para ficar na sala de estar. Aécio não emplaca, ninguém quer brincar com ele. Marina saiu da senzala e não tem a sua confiança, apesar de seus esforços e de ter ganho a simpatia de alguns dos donos; Eduardo Campos atraiu Marina para seu lado, joga um bocado de conversa bonita para os membros da Casa Grande, mas também não convence. E tem o Serra. Ele tem mais simpatia dos donos da Casa Grande, mas as pessoas não querem brincar com ele porque trapaça, joga sujo.

E, embora os representantes da senzala, – pelo menos até agora – não tenha tirado um único móvel do lugar da sala de estar da Casa Grande, mudou alguns de lugar. E isso já irrita por demais os donos da casa. Daí a sede de expulsá-los da brincadeira. Porém não podem fazê-lo assim de supetão. Isso é contra as regras que ele mesmos criaram para se poder brincar na casa. Para isso eles usam subterfúgios.

Imagine que a segunda sala é a imprensa e uma terceira o poder judiciário. A cozinha é o lugar onde eles determinam os rumos do país em detrimento dos interesses da senzala. De vez quando um dos da senzala entra na cozinha e mexe em alguma coisa, como a redução das taxas de juro que, assim que saem, os donos rearrumam para tentar fazer as coisas voltarem pro lugar.

Na segunda sala, a da imprensa (apenas os que eles chama de grande) espalham que os membros da senzala desarrumaram toda a sala de estar, o que não condizente com os bons modos da elite. A Casa Grande conseguiu convencer a todos que seus valores, seus costumes, seus símbolos são os corretos. Mesmo que as pessoas da Casa Grande não deem a mínima para isso, apenas cobrem da senzala que sigam à risca o que lhes é dito.

Na terceira sala, o do judiciário, fazem o que podem para tirá-los da Casa Grande, sem que pareça transgressão das regras. Tudo para fazer a senzala pensar que quem não quer ficar ali são os que foram mandados por ela.

Capas e mais capas de revistas e jornais, mudanças nos ritos dos processos legais, programas de tevê que vendem a imagem de debates, mas apenas fala o mesmo lado – mesmo em programas com mais de um convidado! Tudo para fazer crer que existe apenas um pensamento único sobre as coisas. O objetivo disso? Adormecer a senzala.

É isso que todos presenciamos no Brasil atualmente. Aqueles que têm um olhar mais atento conseguem perceber e quem não aceita essa lógica faz o que pode para tentar mudá-la. Mas essa briga não é fácil, há todo um simbolismo em torno da Casa Grande que impede que a senzala entre porta adentro. Mas aos poucos a coragem de fazê-lo vai tomando conta.

Em 124 anos de República esse é o melhor momento que vive o país em questões econômicas e sociais. Nunca nossa desigualdade – apesar de alta – nunca foi tão baixa. Nunca nossa economia esteve tão forte, conseguindo até passar por crises financeiras com desenvoltura fazendo que nós, o povo, a senzala, pouco ou nada a percebamos.

Foram as eleições de Lula e Dilma na presidência da República primeiramente e depois eleições como a de Fernando Haddad na capital financeira do Brasil que fizeram a senzala pôr os pés na Casa Grande, brincando na sala de estar, - em outro momento histórico isso foi feito com João Goulart e prontamente a Casa Grande tratou de tirá-lo da brincadeira –, mas ainda são eles, os donos da Casa Grande, que detém o real poder político em solo tupiniquim.

O pesadelo da elite é que não tem nomes para apresentar, inclusive para as pessoas da senzala, para brincar na sala. Rumando para ter em sua companhia, dentro de sua casa, mesmo que apenas na sala de estar, membros da senzala, do povo. O medo é que a senzala toda resolva entrar e tomar para si a Casa Grande, aí das duas uma: ou eles desistem e a dividem com todos ou se tornam a senzala. Mesmo com todo o poder que ainda tem, os pensamentos não devem estar nada fáceis para os donos da Casa Grande.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente, Cadu Amaral! Muito bem colocado!
Maria Olimpia J.Mancini Netto