sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sobre a (não) industrialização de Alagoas



Alagoas é o segundo menor estado da Federação e suas relações econômicas, políticas e sociais se mantém semelhantes as do século XVIII. Tudo em Alagoas gira em torno da cultura da cana-de-açúcar. Não à toa que é comum os discursos dos governantes locais de promoção da industrialização. Se o ditado popular diz que se precisa combinar com os russos, em terras Caetés se precisa combinar com os usineiros (nome moderno para senhores de engenho).
                    
O professor do curso de Economia da Universidade Federal de Alagoas, Fábio Guedes, escreveu um artigo onde desmonta a propaganda oficial de “boom” na industrialização do estado. Na verdade, Guedes vem escrevendo uma série de artigos sobre o tema.

O economista mostra bem a relação da produção de cana na economia alagoana. Como Alagoas é dependente de esse setor. E não precisa ser doutor em economia para saber que a dependência de um único setor econômico torna a economia de qualquer que seja o local mais frágil. No caso de Alagoas, pior. Por que não só as relações são as mesmas do século XVIII, como a mentalidade empresarial dos usineiros alagoanos.

Abaixo o último artigo do professor Fábio Guedes (publicado originalmente no portal Cada Minuto)



Os Descaminhos da "Industrialização" Alagoana

 

 
Por Fábio Guedes Gomes*

Na série de cinco artigos publicados nesse espaço, defendemos o argumento que a economia alagoana não enfrenta um surto industrial, ou como queiram, uma “explosão” industrialista. Muito pelo contrário, a vinda de algumas poucas indústrias não caracteriza um fenômeno intenso, provocando a diversificação do parque fabril, com forte expansão do emprego formal. Por isso sugiro a leitura dos demais textos, em sequência, para não se fazer uma avaliação parcial, equivocada ou tosca das análises.

Apresentamos o desempenho da geração de empregos formais na indústria de transformação em comparação com outros estados do Nordeste. Observou-se que entre 2007 e 2012, o estoque de empregos industriais no estado cresceu apenas 0,13%, bem diferente da realidade nordestina, que apresentou uma expansão de 20,1%. Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, na terça-feira [21/01], aponta um decréscimo no emprego industrial de 8,6%, entre 2007 e 2013!

Alguns fatores são responsáveis por esse medíocre e grave resultado no período. Pode-se elencar, entre outros: (1) a reestruturação tecnológica, com o emprego de novas máquinas de colheita no setor sucroalcooleiro; (2) a estiagem que afetou a plantação de cana; (3) a desaceleração do ritmo de exportações de açúcar; (4) a significativa diminuição da produção de biocombustíveis, em especial o etanol; e, (5) os problemas de gestão e financeiros que passam alguns grupos empresariais nesse setor. Somente para se ter uma ideia, entre 2011 e 2013 destruíram-se mais de 12,9 mil postos de trabalho, principalmente no complexo sucroalcooleiro, sem expectativa de reversão desse movimento nos próximos anos.

Soma-se aqueles elementos o resultado pífio, o rastejante crescimento do emprego formal em outras áreas industriais. Comemora-se no estado a instalação de novas fábricas e, para minha obtusa perplexidade, fala-se em 100 novas unidades industriais gerando 100 mil empregos, diretos e indiretos. Se esses números fossem reais, estaríamos não somente compensando a perda de empregos na indústria sucroalcooleira e em outras áreas, mas, talvez, alcançando um saldo favorável espetacular no estoque total de assalariados.

Mas, para aumentar nossa incredulidade na religiosa mensagem e propaganda oficial, os dados sobre o emprego, entre outros já utilizados nessa sequência de artigos, não permitem que sejamos tão crentes assim no sucesso da política de desenvolvimento estadual. Muito pelo contrário, os resultados de nossas análises nos trazem para a realidade estrutural, e não para o caminho da pregação panfletária e ideológica.

O Ministério do Trabalho e Emprego disponibiliza o estoque de empregos formais total em todos os setores econômicos, e para todos os estados, até 2013. Ainda não estão disponíveis os dados desagregados por subsetores econômicos. Para analisar a estrutura do emprego formal na indústria alagoana, tivemos que recorrer ao banco de dados do IBGE, conhecido pelos especialistas pela sigla SIDRA. São 23 subsetores industriais e destacamos aqueles que apresentam mais de 1% de participação do total da força de trabalho assalariada no setor. Com isso chegamos alguns resultados interessantes.

Conforme o leitor pode observar no quadro abaixo, o setor produtor de gêneros alimentícios continua sendo o maior empregador na indústria do estado, alcançando quase 84% do total, em 2011, com destaque para a fabricação e refino de açúcar [78%]. As usinas de açúcar aumentaram a participação na geração de empregos formais entre 2007 e 2011, principalmente em virtude do excepcional momento para as exportações do produto, nos anos de 2010 e 2011, conforme discutimos no artigo intitulado Aparências e Evidências, o primeiro da série [para conferir clique aqui]. Por sua vez, o subsetor produtor de outros produtos alimentícios diminuiu sua participação de 1,8% para 1,6%, significando, portanto desemprego nessa área. Com os novos dados Divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com certeza a participação da Indústria açucareira diminuiu sensivelmente.



A produção de biocombustíveis, principalmente o etanol, já chegou a representar 15,4% da geração de empregos do estado, em 2007. Caiu 11,4 pontos percentuais (p.p.) em 2011, alcançando 4% do total, em 2012. Em termos absolutos, isso significou uma redução de aproximadamente 13.000 empregos formais nesse subsetor, no período.

Com exceção da indústria de produtos metálicos [exceto máquinas e equipamentos], que praticamente ficou estagnada na geração de empregos [1,2% contra 1%], os demais ampliaram a participação entre 2007 e 2012. Destacaram-se as indústrias de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, muito influenciada pelas usinas de açúcar, [aumento de 0,6 p.p.] e de material plástico, influenciada pela consolidação da cadeia de químico-plástico [aumento de 0,7 p.p].

Importa notar que os empregos perdidos na indústria química foram, praticamente, compensados pela ampliação de vagas na indústria de plásticos, conforme indica o gráfico abaixo.

Nos demais 17 subsetores da indústria alagoana a evolução do percentual de participação no emprego total assalariado foi praticamente nulo, passando de 4,4%, em 2007, para 4,6%, em 2012.



Desse sumário levantamento, considerando, ainda, as análises realizadas nos artigos anteriores, podemos tecer as seguintes considerações:

1) O setor usineiro continua sendo, majoritariamente, o maior empregador industrial em Alagoas. Entretanto, o momento de reestruturação tecnológica por que passa, os problemas na produção e comercialização internacional e o fechamento de unidades fabris, trarão sérios problemas ao mercado de trabalho local;


2) O forte desemprego no subsetor produtor de biocombustíveis em Alagoas, piorou, sensivelmente, os resultados do mercado de trabalho e contribuiu para a tímida evolução da indústria alagoana, do ponto de vista da expansão da oferta de vagas de trabalhos formais;


3) Observa-se na indústria de transformação alagoana uma velocidade incrível de destruição de empregos em alguns subsetores importantes do estado [Complexo sucroalcooleiro e indústria têxtil), ao tempo que é muito lento e insuficiente o aumento de postos de trabalhos em outros subsetores;


4) A expansão da cadeia químico-plástico, por sua natureza intensiva em capital, apresenta limites à criação de empregos.

Pode-se afirmar, sem receios de incorrer em equívocos, que se não fosse a expansão da economia pelo lado do comércio, serviços e construção civil, fenômeno também observado em todo o Nordeste [vale a pena repetir novamente], em virtude das políticas econômicas, de expansão do mercado interno, e sociais, através dos Programas do Governo Federal, a situação econômica do estado de Alagoas seria ainda mais dramática, dependesse do desempenho industrial nos últimos anos. Vale salientar que a construção civil já começou apresentar desaceleração na geração de empregos entre 2012 e 2013, acusando a perda de pouco mais de mil postos de trabalho

Outro importante aspecto que tem contribuído para minimizar a situação dramática de geração de empregos na indústria alagoana, é o investimento realizado no Porto de Maceió. Por decisão do Governo Federal, instalou-se naquele local uma empresa de engenharia com a responsabilidade de montar quatro plataformas para a indústria petrolífera, com perspectiva de ampliação para mais duas. Com um investimento de cerca de 1,5 bilhão de reais, esse empreendimento, no auge de sua operação, gerará cerca de 2.500 empregos, diretos e indiretos. Entretanto, essa operação teve data para começar e finalizar suas atividades no estado no curto prazo.

Infelizmente, a ampliação da planta industrial da Braskem, em meados de 2012, com um investimento anunciado de 1,1 bilhão de reais, não provocou forte impacto na geração de empregos. A planta é automatizada, criando poucos postos de trabalho [cerca de 200], com impactos marginais do ponto de vista do estoque total de empregos no estado.

Concluindo, se tivéssemos 100 novas indústrias instaladas em Alagoas entre 2007 e 2013, o quadro do emprego não seria esse analisado e em noutros artigos já publicados nesse espaço.

Temos realmente uma situação estrutural muito difícil no tocante a geração de emprego e renda em nossa indústria. As escolhas de política de desenvolvimento industrial, nos últimos anos, foram muito tímidas e lenientes em fazerem a leitura do que estava acontecendo no Nordeste e diagnosticar nossa real situação estrutural. Não foi muito bem calculado como a região estava se inserindo no rol dos grandes investimentos nas indústrias de base [metalúrgica e petroquímica) e transportes, infraestrutura e logística. Isso diminuiu nossas possibilidades de intergração inter-regional do ponto de vista dos investimentos e efeitos de encadeamento industriais.

Infelizmente, o indivíduo otimista em Alagoas quanto à propaganda industrialista, não passa de um pessimista mal informado. A culpa realmente não é dele.




*Doutor em Administração com ênfase em Instituições e Políticas Públicas (NPGA/UFBA). Mestre em Economia Regional e graduado em Ciências Econômicas (UFPB). Professor da Graduação e Pós-Graduação em Economia da FEAC/UFAL.

Um comentário:

Unknown disse...

BOM AS OPORTUNIDADES PARA O ALAGOANO MUDAR ISSO ESTAO AI EM OUTUBRO DE 2014 TIRAR O GOVERNADOR QUE ´[E INIMIGO DO POVO E DA PRESIDENTE E ELEGER UM GOVERNADOR DO PT PARA MUDAR A ESTRUTURA DO ESTADO.E ALAVANCAR O PROGRESSO NA REGIAO.