quarta-feira, 5 de março de 2014

Zé Ramalho: confuso e ignorante

O músico Zé Ramalho concedeu uma entrevista ao Estadão, tendo como tema central sua carreira, novos e antigos discos. Ramalho é um dos melhores artistas musicais brasileiros, sem a menor sombra de dúvida. Porém, o curto diálogo publicado no site do jornal paulista mostra um homem bem confuso e ignorante sobre o que vem a ser comunismo.

Antes de comentar as falas de Ramalho, cabe o destaque para a aflição da imprensa grande em promover mal-estar. A entrevista era sobre a carreira do cantor, mas já no final, o tema se torna as manifestações de junho de 2013 e o governo Dilma.

Não que artistas não possam ou devam comentar sobre a política nacional, tampouco veículos de imprensa perguntar a entrevistados o que pensam sobre a política. Nada disso! Mas esse não era o tema da entrevista. É difícil dizer, mas se as respostas do Zé Ramalho tivessem sido diferentes em relação ao governo, provavelmente elas não teriam sido publicadas.


E onde está a confusão do Zé Ramalho na entrevista? Ora, ao “acusar” o governo Dilma de “social-comunismo” ele demonstra que, além de ser ignorante sobre o que venha a ser o comunismo, se mostrou uma pessoa extremamente elitista.

Comunismo é, em pouquíssimas palavras, uma corrente filosófica que defende o fim do Estado, assim como o Anarquismo. A diferença entre eles é o Socialismo como etapa. O governo atual no Brasil em nada tem de comunista. Isso é devaneio de esquerdófilo. Aliás, nunca houve um governo comunista no mundo. No comunismo não há governo.

Ramalho afirmou ser “chato” dividir as riquezas. Ser uma “m****” as pessoas terem mais oportunidades e usou, como de costume entre a classe média tradicional, o acesso a viagens de avião. “andar de avião com todas as cadeiras chapadas, não há mais primeira classe, executiva, é pra tudo ser igual”.

Se autoridades do Estado brasileiro usam “jatinhos” para se locomover enquanto as demais pessoas comem “kit Bauducco”, isso não é culpa ou construção desse governo, ou mesmo dos anteriores – pelo menos uns cinco deles – e sim, da lógica da sociedade brasileira: capitalista e atrasada. E é bem verdade que em países de todo o planeta, autoridades não usam os mesmos serviços ofertados à população. Seja ele bom ou ruim.

Ao mesmo tempo que condena o governo federal pelo seu “social-comunismo” e o uso de “regalias”, Ramalho parece defender a realização da Copa do Mundo ao criticar a realização de protestos contra o evento e quem, de acordo com ele, participa dessas manifestações. “Protestar contra a realização da Copa do Mundo é uma idiotice. Porque todos os que estão protestando estarão no estádio assistindo. É uma mesquinhez, um pensamento mesquinho, escolher este motivo para protestar contra gastos do governo”, afirmou.

Ramalho chama de mesquinho quem protesta contra a Copa, mas condena o fato do governo Dilma querer que todos tenham as mesmas condições de consumo. Dá para entender?

Ainda para completar, ele se esquiva de opinar sobre o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão federal responsável pela cobrança de direitos autoriais, por exemplo. Justo na esfera específica à sua carreira, seu trabalho, Zé Ramalho sai pela tangente. “Eu é que não vou me desgastar”, esquivou-se.


Zé Ramalho na verdade – e se a edição da entrevista não tiver comprometido suas respostas – se mostrou o típico cidadão da classe média tradicional. Confuso sobre esquerda e direita; confuso sobre se condena o governo distributivo de riquezas ou a “mesquinhez” de ser contra a Copa do Mundo. Mas mesmo com essa confusão e certa dose de ignorância, há sinceridade – pelo menos a meu ver – em suas palavras. Em resumo, Zé Ramalho foi sincero, confuso e ignorante.

Um comentário:

Unknown disse...

O mais lamentável em tudo isso, é saber da ignorância desse grande artista brasileiro que tanto admiro,não por ele ser contra ou a favor do governo,todos somos livres para dá opiniões,mas sim pelas suas justificativas de ser contra o governo.