sábado, 12 de março de 2011

Sobre Alagoas


Jogando conversa fora com uns amigos, e é claro numa mesa de bar, começamos a conversar sobre o atraso histórico que vive Alagoas. De como nossos vizinhos Pernambuco e Sergipe estão anos-luz à nossa frente e de como por aqui não conseguimos acompanhar o desenvolvimento econômico, social e democrático pelo qual nosso país passou nos últimos anos.

Muitas falas de que não dava pra ficar por aqui, ir morar fora e coisas do tipo...

Sempre afirmei que não gostaria de sair daqui porque se todos que querem que Alagoas se desenvolva verdadeiramente livrando-se das relações econômicas, sociais e políticas dos tempos de comarca de Pernambuco, que aqui deveriam ficar os defensores dessa idéia e não sair diante da frustração de nosso Estado estar nessas condições.

Alagoas ainda vive sobre as relações de poder de séculos passados. Ainda temos a cultura do sobrenome como balizador de todo o tipo de relação social por aqui. Estamos bem melhores que em outras épocas, basta lembrarmos a Operação Taturana da Policia Federal como exemplo, quando imaginaríamos que deputados em Alagoas fossem algemados e neste momento temos um ex-deputado federal preso por acusação de assassinato, mas ainda temos isso muito arraigado entre o povo alagoano. São os espaços políticos passando de pai pra filho como se fosse uma propriedade privada, um bem familiar; esses bens são seus currais eleitorais. Coronelismo puro!


No Poder Judiciário quando lemos os sobrenomes dos desembargadores em sua esmagadora maioria são descendentes das 27 famílias que dividiam a então comarca de Alagoas com seus 27 engenhos de açúcar. Este pra mim o pior poder.

Penso que não só a elite alagoana é mais atrasada que a do resto do Brasil, a concepção de capitalismo da nossa “doce” elite alagoana parou no tempo a 200 anos atrás, por aqui a usinas de açúcar não deixam nenhuma indústria se instalar e também não investem no desenvolvimento local, só o Bolsa Família gera três vezes mais riqueza que o PIB das usinas. É a lógica da mosca de padaria: não f*** nem sai de cima, mas também sentia que a própria classe trabalhadora alagoana também é mais atrasada que a dos demais estados brasileiros, reproduzindo a doce cultura das elites caetés. Mas isso não se dá de forma consciente, orquestrada.

Em Alagoas não tivemos uma formação de operariado, aqui até hoje não temos indústrias, fomos formados a partir de bóias frias e servidores públicos que até pouco tempo o único critério para se tornar um por aqui era o peso do seu QI (Quem Indica). E os bóias frias até hoje vivem nas mesmas condições de trabalho desumano e beirando a escravidão (em muitos casos AINDA na escravidão). Mas aos poucos estamos mudando essa cultura política.

Essa cultura reflete na qualidade dos nossos parlamentos e representações parlamentares federais. Refletem na participação popular em espaços políticos como associações, sindicatos e até em eleições.

Hoje por exemplo o maior partido político de Alagoas é a Cooperativa dos Usineiros. Ela detém o poder econômico, o político com a reeleição de Téo Vilela para o governo estadual, o judiciário, meios de comunicação...  Não são à toa os ataques à reforma agrária recentes por aqui.

Mas como otimista que sou, acredito piamente que vamos mudar esse quadro. Somos herdeiros da tradição libertadora de Zumbi, Nise da Silveira e Graciliano Ramos. Nosso povo é guerreiro e batalhador e começa, mesmo que de forma ainda incipiente, a romper com essas indesejáveis tradições

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