quinta-feira, 30 de junho de 2011

Afinal, quem está dividindo a classe trabalhadora?


Temos assistido nas últimas semanas uma ofensiva por parte de algumas Centrais Sindicais em questionar as ações e princípios da CUT, afirmando especialmente que esta Central está em crise, rompendo com a unidade de classe e que seu destino é o isolamento das demais Centrais Sindicais. Negritaremos aqui alguns pontos que nos permitem reafirmar porque a CUT é forte, representativa, de massas, e, essencialmente, DIFERENTE DAS OUTRAS CENTRAIS SINDICAIS. Neste momento, a tarefa do movimento sindical combativo é ir às ruas, mobilizar e pressionar o governo, em todas suas esferas, para avançar e aprofundar as mudanças necessárias ao país.

Por Rosane Silva, Rosana Sousa e Dary Beck Filho*

Ao longo de quase três décadas de existência este compromisso com a classe trabalhadora, conquistado e reafirmado cotidianamente através da luta, foi-se traduzindo nos números que hoje consolidam a CUT como a maior Central Sindical do Brasil, da América Latina, e a 5ª maior Central do mundo. Longe de estar em crise, a CUT atualmente tem mais de 2milhões e 300mil trabalhadores e trabalhadoras filiados, a Força Sindical, pouco mais de 870 mil, a UGT 490 mil, a CTB 483 mil, a NCST 437 mil e a CGTB 436 mil. Somando as quatro demais centrais sindicais, temos cerca de 2 milhões e 400 mil sócios/as representados/as por outras Centrais, muito perto dos mais de 2 milhões e 300 mil representados/as pela CUT.

Todavia, ainda que reivindicamos o protagonismo da CUT na esquerda brasileira e como referência política para a classe trabalhadora. Construímos um movimento com a profundidade e capilaridade social necessária para disputa de hegemonia. Partimos da compreensão da necessidade de construir lutas unitárias com os diversos movimentos sociais que sejam capazes de intervir na conjuntura.


Desde sempre reivindicamos que a CUT construa alianças prioritárias com os movimentos sociais. O entendimento aqui é que a classe trabalhadora organiza-se para além do movimento sindical. Há movimentos sociais que reivindicam o protagonismo popular na construção de uma sociedade sem classes, livre do machismo, do racismo e da homofobia. E é ao lado destes movimentos representativos e com legitimidade social que a CUT deve posicionar-se. 

Divisionistas contra a CUT

Para avançarmos ainda mais em nossa estratégia, é preciso considerar as acertadas experiências internacionais, que vem buscando unidade em torno de plataformas de interesse geral da classe trabalhadora no contexto de globalização da exploração do capital. A CSI (Confederação Sindical Internacional) e a CSA (Confederação Sindical das Américas) são os instrumentos concretos de construção do novo internacionalismo sindical.

Movimento contrário ao que vivenciamos em nosso país atualmente, com inúmeras centrais sindicais, com distintas concepções e práticas, tais como posturas sectárias, conservadoras, oportunistas e combativas.

Reivindicamos a unidade da classe trabalhadora e por isso, já em 2007, quando a Corrente Sindical Classista (PCdoB) saiu da CUT, afirmávamos ser um erro histórico tal ruptura (leia aqui o texto sobre a saída da CSC da CUT). Levantamos inclusive que este partido já tinha cometido outro erro de igual monta e sentido inverso antes, quando em 1983 se recusou a fundar a CUT, mantendo uma aliança com o sindicalismo pelego e atrelado. Erraram na década de 80 por apostar na unidade com setores reacionários com os quais não era possível ter nenhuma identidade política; Erraram em 2007 por atacar a unidade arduamente construída entre os setores sindicais progressistas e de esquerda num momento histórico crucial para a classe trabalhadora. E parecem insistir novamente no erro agora em 2011 ao privilegiarem mais uma vez construir um campo político comum com o sindicalismo pelego, expresso pela Força Sindical, fundada em 1991 com apoio político e financeiro do governo Collor para combater a CUT.

Todas as experiências de centrais sindicais criadas após a CUT tiveram o sentido de enfrentamento e contraposição à Central Única dos Trabalhadores. São resultados de divisões do movimento sindical. Divisionistas em ação.

Desde sua fundação a CUT tem um compromisso intrínseco com a classe trabalhadora.  Entre seus princípios históricos está a luta pelo fim do imposto sindical e pela liberdade e autonomia sindical.

Somos contrários ao imposto sindical porque partimos do princípio militante sobre o financiamento das organizações populares. A idéia de independência de classe e de autonomia política decorre também desse princípio. O sindicato, portanto, deve ser sustentado financeiramente pela própria classe trabalhadora que ele representa e organiza. Esta, por sua vez, deve ser soberana na definição dos mecanismos de arrecadação, de sustentação e de utilização dos recursos materiais de sua entidade representativa de classe. Defendemos, assim, um sindicato que afirme a democracia na sua prática cotidiana.

Ao reafirmar que é contra o imposto sindical, a CUT definiu que utilizará os recursos oriundos desse imposto, enquanto ele durar, seja em: 1) mobilizações e fortalecimento das agendas de luta, como passeatas, greves, materiais de agitação de massa; 2) iniciativas de formação política sindical; 3) inserção internacional da CUT nas lutas da classe trabalhadora, principalmente na América Latina. E é exatamente isto que fazemos, vide, por exemplo, o 1º de maio da CUT este ano, que teve como foco principal a luta pelo fim do imposto e por liberdade e autonomia sindical.

É importante construir amplos movimentos em torno de campanhas e ações políticas em defesa de direitos da classe trabalhadora. Porém, a unidade deve ser construída em torno de programas políticos e não de maneira pontual e pragmática.

A CUT, mesmo não sendo a única Central, continua sendo o principal patrimônio sindical da classe trabalhadora brasileira. Em sua trajetória e em sua cultura estão projetadas as principais conquistas organizativas e políticas da classe trabalhadora brasileira desde a redemocratização. Isso não se inventa em um escritório ou em um pedaço de papel, isso é resultado da experiência concreta de milhões de trabalhadores e trabalhadoras na luta de classes! Por isso, o que não aceitamos, é que em nome de uma suposta unidade das Centrais Sindicais tenhamos que abrir mão dos princípios históricos da CUT.

Ouvimos, em um tom quase autoritário, uma outra central sindical acusar a CUT de estar se isolando das demais Centrais Sindicais, citando como exemplo o 1º de Maio supostamente unitário das Centrais sem a CUT e que foi um verdadeiro palco para estrelas da oposição ao nosso projeto político, como Kassab, Alckimin e Aécio Neves.

Para além do já afirmado aqui e também por Artur Henrique, (em seu artigo disponível aqui), há demais pontos em divergências com as Centrais que nos impedem atualmente de atuarmos conjuntamente com elas.

A agenda prioritária neste momento é aquela que impulsiona o projeto democrático e popular e conquista avanços concretos nas condições de vida do povo trabalhador. Os movimentos sociais com representatividade e legitimidade social são fundamentais e estratégicos para esta pressão ser vitoriosa. Por isso estamos junto ao MST, a Marcha Mundial das Mulheres e a CMP no dia Nacional de Mobilização em Defesa da Classe Trabalhadora na luta por trabalho decente, educação, defesa das reformas agrária, política e tributária, e pela transformação das condições de vida de mulheres e homens brasileiros.

Para impulsionar esta agenda chamamos todos e todas militantes CUTistas às ruas no próximo dia 06 de julho, dia Nacional de mobilização da CUT com os movimentos sociais!

Somos diferentes! Somos Fortes! Somos CUT!





*Rosane Silva – Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT
 Rosana Sousa – Secretária Nacional de Juventude da CUT
Dary Beck Filho – Diretor da Executiva Nacional da CUT

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