sexta-feira, 30 de março de 2012

O que comemoram os pelancos da ditadura


Enquanto a Organização do Estados Americanos – OEA resolve abrir investigação sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog no período da ditadura militar (veja aqui); enquanto países como a Argentina abriram os arquivos de suas ditaduras; enquanto no Brasil cresce o debate sobre a comissão da verdade, seu papel e seus limites para trazer à tona o que realmente aconteceu nos porões da ditadura militar no Brasil, tem militar brasileiro fazendo festa em comemoração ao golpe de 64.

Esta é uma ferida que ainda não fechou. Tem muita gente poderosa querendo que as informações deste período fiquem onde estão: enterrados com as centenas de pessoas desaparecidas pela ditadura.

Pequena recapitulação do golpe

O golpe de 64 organizado pelos militares brasileiros em conluio com a o Departamento de Estado do Estados Unidos se deu após um somatório de eventos que ocorreram a partir de diversas tentativas de golpes militares contra Juscelino Kubitschek em 1955 e do vice-presidente João Goulart em 1961. Tendo como bandeira pública evitar a instalação de um governo totalitário comunista no Brasil. Isso porque Jango ao assumir após renúncia de Jânio Quadros, não só tratou os países socialistas como países autônomos,c omo também realizou visitas oficiais a estes. Quando Jânio renunciou, por exemplo, Jango estava em visita à China. Jango recebeu Che Guevara como chefe de Estado. Até tentar fazer com que Jango não assumisse foi feito. O arranjo foi o parlamentarismo.


Pra além disso, João Goulart, defendia o que se chamava na época de reformas de base. O que incluía reforma agrária e urbana. Nada mais “comunista” os milicos e as elites brasileiras da época. Tinha-se uma eferverscência dos movimentos sociais no Brasil naquela época, tanto os de esquerda quanto os de direita. Isso mesmo, movimento social declaradamente de direita. Vide a marcha pela tradição, família e propriedade.

Um dos primeiros atos da ditadura foi destruir a sede da União Nacional do Estudantes – UNE.


Até hoje tem um monte de pelanco desse troço aí.

Outros personagens foram centrais na época, como o Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul.

Saldo do golpe militar de 64

O que este período nefasto de nossa História nos deixou foi uma lacuna de vinte anos sem projeção de lideranças políticas no Brasil. Tanto é que ainda hoje temos figuras dessa época atuando no cenário político. Um dele é o senador pelo DEM (ex-PFL que por sua vez é ex-ARENA o partido da ditadura), Agripino Maia do RN. (cliqueaqui e veja o esporro que a Dilma, então ministra Chefe da CasaCivil do governo Lula, deu nele ao comparar a ditadura militar noBrasil com democracia). O povo se desacostumou a participar da vida política. Por medo, deixou de se organizar.

Muita gente até hoje tem ojeriza a militares por causa da ditadura. Ainda tem gente que pensa que comunista come criancinha, ainda tem gente que pensa que o jornalista Vladimir Herzog cometeu suicídio. Será? Olha a foto...


Ainda tem centenas de famílias que não conseguiram enterrar seus mortos por causa da sede de sangue dos militares durante a ditadura; ainda tem gente que não dorme direito à noite por lembrar de torturas sofridas naquele período. A “coisinha mais meiga” era o arrancar das unhas com alicate.

Os saudosistas desse período

Todos os anos alguns saudosistas da ditadura comemoram o golpe de 1º de abril de 1964. Eles afirmam que foi dia 31 de março por causa do dia da mentira. A diferença dessa vez foi que Dilma proibiu que os militares comemorassem o golpe no dia 31. então alguns deles resolveram antecipar a “festa”.

Criada a polêmica, atos em represália à comemoração dos milicos forma convocadas e algumas já ocorreram.

Quem quer comemorar tal período no Brasil, está comemorando torturas, assassinatos, sequestros, ocultações de cadáveres, cerceamento das liberdades politicas e um imensurável atraso em nosso desenvolvimento sócio politico, nosso desenvolvimento enquanto cidadãos e cidadãs.

N foram as pessoas e organizações que combateram o regime militar. N são as pessoas e organizações que querem que os arquivos da ditadura sejam abertos. Mas são conhecidos os rostos dos desaparecidos políticos (lista completa aqui) e a luta dessas famílias se junta à luta de uma nação para curar suas feridas.

E a grande mídia no Brasil, que sempre apoiou a ditadura, tem uma parcela significativa de culpa nesse processo. À ela também não interessa abrir tais arquivos. Sua relação podre com este podre período também será revelado. (clique aqui e veja os editorias dos jornalões logo na implantação do golpe de 64)

Nunca poderemos andar pra frente se não sabermos de onde realmente viemos. Não punir os torturadores, não abrir os arquivos da ditadura, não revelar o que de fato aconteceu no país naquele período significa que sempre estaremos olhando para trás e com uma enorme desconfiança do futuro.

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