De hoje
03 de agosto, até setembro de 2012, viveremos dias de intensos
debates políticos. Não necessariamente qualificados, mas bastante
intensos. Não somente por conta do período eleitoral, isto que por
si só já acalora os debates sobre concepção de sociedade. Me
refiro aos ingredientes extras.
Um que
surge no roteiro por conta de um “acaso”. Não fosse a Operação
Monte Carlo da Polícia Federal para desvendar as relações do
bicheiro Carlinhos Cachoeira com “figurões” da política e da
imprensa nacional, não teríamos a CPMI (ou só CPI, como é chamada
popularmente) do Cachoeira.
Comissão
que já ocasionou a cassação de Demóstenes Torres (ex-DEM). O
baluarte da ética e queridinho de plantão de Veja, Globo, Folha,
Estadão... Toda a patota da grande imprensa. A Monte Carlo também
revelou que o editor-chefe de Veja em Brasília, Policarpo Júnior,
mantinha relações mais que íntimas com o bicheiro (e não
empresário, como insiste a Folha). Dessa relação saíram diversas
matérias para atender aos interesses de Cachoeira e da grande
imprensa, assumida e ferrenha opositora aos governos de Lula e Dilma.
Até a
esposa do Cachoeira foi presa ao tentar chantagear o juiz do caso com
um dossiê feito por Policarpo Júnior. Policarpo irá depor na CPI
do Cachoeira.
A outra é
orquestrada pela grande imprensa e os poderosos setores conservadores
do país. Trata-se do julgamento do suposto “mensalão”. Não que
com o processo judicial aberto o mesmo não devesse ir a julgamento,
não é isso.
É sim o
fato deste ser um processo de 2005 e termos um dos anos 90 em Minas
Gerais. Neste estão envolvidos além do governador do estado na
época, o hoje senador, Eduardo Azeredo, como também o então membro
da AGU e hoje ministro do STF, Gilmar Mendes. Até FHC, que era
Presidente da República na época recebeu, em 98, mais de R$ 500
mil. Todas as denúncias publicadas originalmente da revista
CartaCapital. Eles receberam R$ 4,5 milhões, R$ 185 mil e R$ 573
mil, respectivamente.
Por que o
que tem o PT como partido central é julgado primeiro, se o do PSDB é
mais antigo?
Sem falar
da lista de FURNAS, cujo o Ministério Público de Minas Gerais
apresentou denúncia. Ou seja, vai virar processo judicial. Nesse
esquema, FURNAS mantinha financeiramente os caciques do PSDB. De
Aécio a FHC. Não sobrou uma pena de um tucano sequer sem receber a
mesada.
Nada sai
na grande imprensa.
Falam que
o suposto “mensalão” é o maior esquema de corrupção do país.
Será?
A própria
imprensa diz que o esquema teria desviado perto de R$ 100 milhões.
Só em Alagoas, foi descoberto pela Operação Taturana da Polícia
Federal um desvio de R$ 300 milhões da Assembleia Legislativa. Três
vezes maior.
Outra
informação ocultada é que em 50 mil páginas de processo do
suposto “mensalão” não há uma prova sequer contra quem quer
que seja. Sequer que o esquema existiu.
É uma
invenção da grande imprensa que aproveitou um rompante do então
deputado federal Roberto Jeferson. Este, desesperado por uma denúncia
feita, inclusive, pela parceria cachoeira / imprensa sobre corrupção
nos Correios no fim do governo FHC, atacou pra se salvar. Segundo ele
próprio já, em juízo inclusive, afirmou. Nunca existiu mensalão.
Mas isso
não passa no Jornal Nacional, nem é capa de Veja ou manchete na
Folha.
Implicitamente
a grande imprensa reconhece não haver provas. Ou seja, não ter
havido o esquema. Tanto que lança mão de editoriais defendendo
julgamento políticos. Ignorar a falta de provas, ignorar os autos do
processo. “Ouvir a opinião pública”, como disse o FHC.
Ele quis
dizer publicada.
Condenar
sem provas. Julgamento político. Mas isso não é coisa das
ditaduras?
Está o
Brasil em Estado exceção?
É mais
do que evidente que a direita brasileira perdeu as estribeiras.
Não tem
agenda, não tem nomes e o suposto “mensalão” é seu último
sopro de discurso moralista.
E como o
julgamento vai render até setembro. Vão tentar, via
espetacularização da informação, desvirtuar o debate político
durante as eleições. Basta vermos as “novelinhas” a cada
telejornal da Globo, por exemplo.
Ainda tem
a questão de Gilmar Mendes, Toffoli e Gurgel.
Argumentam
que Toffoli não pode participar do julgamento por ter sido advogado
do PT antes de ser ministro do Supremo. Pois bem, e o Gilmar?
Tem
denúncia nova de recebimento de propina. Já denunciou áudio sem
grampo, já acusou Lula de tentar pressioná-lo sobre este
julgamento. Num encontro a três. Dois desmentem Gilmar. Mas adivinhem
quem a grande imprensa deu ouvidos.
Gurgel é
Procurador Geral da República. Acusado de prevaricar na Operação
Vegas, anterior à Monte Carlo. Conhece os autos do processo. Conhece
a denúncia feita por seu antecessor, sabe que não há provas, mas
insiste em repetir a ladainha da mídia.
Se
Toffoli está sob suspeição. Gilmar e Gurgel também.
Especialmente, Gilmar.
E nesse
meio tempo, e desde que se soube da entrada em pauta, fala-se em
julgamento histórico.
Vi até
falarem que o Ayres Brito, presidente do STF, só topou fazer esse
julgamento no período eleitoral por estar perto de se aposentar e querer entrar pra História.
Julgamento
histórico fez o povo brasileiro ao reeleger Lula em 2006. Um ano
depois de estourar as denúncias do suposto “mensalão”. Isso pra
não falar da força política que se tornou o ex-presidente Lula ou
a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff.
Ayres
Brito pode entrar para a História. Ou como o Presidente do Supremo
que fez valer a autoridade da instituição, mantenedora da confiança
de boa parte dos brasileiros, e expurgar a pressão da mídia ou
entrar pra História como o Presidente do Supremo que, às portas de
ir embora, deixou a grande imprensa passar a mão em seu traseiro.
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