quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O justo reconhecimento de Jango



A memória do ex-presidente João Goulart, o Jango, será finalmente reconhecida. Como parte da celebração da Proclamação da República, seus restos mortais serão recebidos no Palácio do Planalto com honras de Chefe de Estado pela presidenta Dilma Rousseff.

Jango era o presidente do Brasil quando o golpe civil-militar de 1964 eclodiu. Fugiu para a Argentina e lá faleceu. A causa da morte foi dada oficialmente como ataque cardíaco, mas uma autópsia nunca havia sido realizada.

O estopim de sua cassação foi o discurso por ele realizado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Na ocasião Jango defendeu com voracidade suas reformas de base, com ampliação dos direitos dos trabalhadores e a reforma agrária. Não é a toa que o movimento social mais odiado pelas elites brasileiras é o dos trabalhadores rurais sem terra.

Jango em seu último discurso em praça pública se pôs frontalmente contra as elites nacionais e denunciou a concepção elitista de democracia, ainda hoje tão bem propagada por aí.

“A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam”, logo em seguida afirmou que “a democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício”.

Você pode ler a transcrição desse discurso clicando aqui e um vídeo com trechos dele clicando aqui

Assassinato
Em 2006, o ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro, disse a João Vicente Goulart, filho de Jango, que ele espionava o ex-presidente e que teria trocado seus remédios por veneno. O crime teria feito parte da Operação Condor, que era o conjunto de ações entre as ditaduras do Cone Sul sob a tutela da Companhia de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) para combater opositores.

Mario Neira Barreiro estava preso em uma penitenciária no Rio Grande do Sul por crimes comuns quando revelou toda a história para João Vicente. Em 2007, a família de Goulart pediu que seu corpo fosse exumado que investigações sobre sua morte fossem realizadas. Mas o pedido só foi aceito em maio desse ano pela Comissão Nacional da Verdade.

Toda a história do Brasil naquele período é nebuloso. Aos poucos os bastidores da ditadura começam a ser revelados. Desde a influência dos Estados Unidos no golpe até os métodos dos assassinatos e seus autores.

O caso de Jango é emblemático por duas razões. Primeiro, se confirmado seu assassinato, isso poderá acelerar as investigações sobre os crimes praticados pelo Estado Brasileiro entre 1964 e 1985. E tomara que não fique apenas nos agentes militares da ditadura, mas se revele os nomes dos civis que orquestraram e deram sustentação aos 21 anos de trevas que o Brasil viveu.

Segundo que, ao conceder honrarias de Chefe de Estado a Jango, o Estado brasileiro reconhece que cometeu abusos, que impôs ao país a paralisação do fortalecimento de sua democracia, do amadurecimento de seu povo sobre convívio em sociedade, cidadania. O Estado reconhece que deve desculpas ao povo brasileiro. Mais uma vitória da democracia.

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