A
memória do ex-presidente João Goulart, o Jango, será finalmente reconhecida. Como parte da celebração da Proclamação da República, seus restos
mortais serão recebidos no Palácio do Planalto com honras de Chefe de Estado
pela presidenta Dilma Rousseff.
Jango
era o presidente do Brasil quando o golpe civil-militar de 1964 eclodiu. Fugiu para
a Argentina e lá faleceu. A causa da morte foi dada oficialmente como ataque cardíaco,
mas uma autópsia nunca havia sido realizada.
O
estopim de sua cassação foi o discurso por ele realizado na Central do Brasil,
no Rio de Janeiro. Na ocasião Jango defendeu com voracidade suas reformas de
base, com ampliação dos direitos dos trabalhadores e a reforma agrária. Não é a
toa que o movimento social mais odiado pelas elites brasileiras é o dos
trabalhadores rurais sem terra.
Jango
em seu último discurso em praça pública se pôs frontalmente contra as elites
nacionais e denunciou a concepção elitista de democracia, ainda hoje tão bem
propagada por aí.
“A
democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do
anti-sindicato, da antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam”, logo em seguida
afirmou que “a democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais,
é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas
ao supremo sacrifício”.
Você
pode ler a transcrição desse discurso clicando aqui e um vídeo com trechos dele clicando aqui
Assassinato
Em
2006, o ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro, disse a João Vicente Goulart,
filho de Jango, que ele espionava o ex-presidente e que teria trocado seus
remédios por veneno. O crime teria feito parte da Operação Condor, que era o
conjunto de ações entre as ditaduras do Cone Sul sob a tutela da Companhia de
Inteligência dos Estados Unidos (CIA) para combater opositores.
Mario
Neira Barreiro estava preso em uma penitenciária no Rio Grande do Sul por
crimes comuns quando revelou toda a história para João Vicente. Em 2007, a
família de Goulart pediu que seu corpo fosse exumado que investigações sobre
sua morte fossem realizadas. Mas o pedido só foi aceito em maio desse ano pela
Comissão Nacional da Verdade.
Toda
a história do Brasil naquele período é nebuloso. Aos poucos os bastidores da
ditadura começam a ser revelados. Desde a influência dos Estados Unidos no
golpe até os métodos dos assassinatos e seus autores.
O
caso de Jango é emblemático por duas razões. Primeiro, se confirmado seu
assassinato, isso poderá acelerar as investigações sobre os crimes praticados
pelo Estado Brasileiro entre 1964 e 1985. E tomara que não fique apenas nos
agentes militares da ditadura, mas se revele os nomes dos civis que
orquestraram e deram sustentação aos 21 anos de trevas que o Brasil viveu.
Segundo que, ao conceder
honrarias de Chefe de Estado a Jango, o Estado brasileiro reconhece que cometeu
abusos, que impôs ao país a paralisação do fortalecimento de sua democracia, do
amadurecimento de seu povo sobre convívio em sociedade, cidadania. O Estado reconhece
que deve desculpas ao povo brasileiro. Mais uma vitória da democracia.
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