sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Mais um ótimo artigo do Professor Fábio Guedes sobre a economia alagoana



Imagem da detentora da economia e da política em Alagoas




A economia alagoana como ela é...conclusões “impertinentes”





Até agora apresentamos alguns dados e estatísticas, analisamos a evolução e dinâmica recentes da economia Alagoana e lançamos alguns argumentos que, infelizmente, contrariam a opinião comum e certas estratégias de marketing. Acreditamos que é chegado o momento de realizar uma síntese dos primeiros oito artigos que publicamos nesse espaço. Para facilitar a vida dos leitores que não tiveram contato com alguns deles, cada título pode ser clicado e automaticamente o interessado será redirecionado ao texto específico.

No primeiro artigo, intitulado Aparências e Evidências no Crescimento do PIB Alagoano, argumentamos que a principal causa do avanço em 6,7% da riqueza do estado em 2011 com relação a 2010, foi a expansão da indústria de transformação. Essa expansão foi responsável por aumentar a participação do setor de 9,3% para 13,3% no PIB estadual. A principal razão para esse movimento foi o extraordinário momento para a produção e refino de açúcar em 2011, quando as exportações alcançaram seu maior nível em duas décadas no Estado. Os preços internacionais do açúcar alcançaram seu melhor nível no mercado internacional. Portanto, o crescimento do PIB alagoano no ano de 2011 além de ter sido influenciado pela expansão dos setores de comércio, serviços e construção civil, contou com aquela particularidade, não apontando para uma expansão industrial com diversificação produtiva.

Em O Paradoxo de Solow e os Indicadores Econômicos em Alagoas, buscamos confrontar a propaganda governista sobre uma suposta industrialização no estado com os dados da geração de empregos formais e expansão do seu estoque. Vimos que o comando na geração de empregos no estado, nos últimos 8 anos, está nas atividades de construção civil, serviços e comércio. A indústria de transformação, até 2012, praticamente não expandiu seu estoque de empregos. O crescimento no estoque de empregos formais de apenas 0,13%, entre 2007 e 2012, ficou muito aquém das impressões que boa parte da sociedade alagoana tem a respeito de uma suposta retomada do crescimento industrial no estado. Apontamos, muito sumariamente, que esse resultado também repercute o processo de reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro, diminuição da produção de açúcar e biocombustíveis, bem como dificuldades administrativas e financeiras de alguns grupos.

Entretanto, para isolar a influência do maior setor industrial da economia de Alagoas [setor sucroalcooleiro], recorremos, no artigo intitulado A Realidade dos Indicadores e a Psicologia do Autoengano, à análise das estatísticas do número de consumidores e volume de consumo de energia por classe econômica. Percebeu-se, muito claramente, que o número de consumidores industriais aumentou, entre 2007 e 2012, somente 0,15% e o consumo de energia 0,9%. Essas taxas de crescimento revelam, acintosamente, uma convergência com o nível de expansão do emprego na indústria alagoana no mesmo período. Isso aponta para três hipóteses muito fortes sobre a dinâmica da indústria alagoana entre 2007 e 2012: i) a atividade apresentou estagnação; ii) ocorreu desindustrialização em lugar de industrialização; e, iii) ocorreu elevação da produtividade industrial, com diminuição do emprego e economia de energia [premissa muito pouco provável].

Diante do que as estatísticas sobre a economia alagoana revelavam, sobretudo olhando-se, atentamente, para o setor industrial, aproveitamos uma viagem particular à Paraíba, no início de janeiro para percorrermos, observando com mais atenção, a região metropolitana de Recife, principalmente o Complexo de Suape, no litoral sul do estado. Inebriados pela propaganda governista de que Alagoas vive um surto industrial, saímos em direção à Pernambuco com certa ansiedade de conferir que se passava por lá para efeito de comparação com a nossa realidade. Ao nos defrontarmos com as instalações de uma montadora de veículos e uma fábrica de cerveja, ao lado norte da região metropolitana de Recife, bem como com a Refinaria Abre e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, o Porto de Suape e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco, nossas dúvidas desapareceram e nos veio à tona o verdadeiro significado de um surto industrial, com o desenvolvimento de um novo polo de crescimento regional. De nossas impressões, tiramos algumas conclusões, no artigo Vão Ver de Perto... Pernambuco, Industrialização e Sucesso, que levam a pensarmos sobre as razões do sucesso da retomada da industrialização pernambucana, seus efeitos sobre a Paraíba e os desafios impostos à economia alagoana nesse campo.    

Depois do “passeio” e experiência em Pernambuco e Paraíba, buscamos, novamente, confrontar as estatísticas e dados sobre a indústria alagoana com os demais estados nordestinos. Dessa vez recorremos a um estudo publicado recentemente para balizar nossos argumentos centrais. Portanto, no artigo Acontece um Surto Industrial em Alagoas? verificamos que a expansão do estoque de empregos industriais em Alagoas ficou muito aquém do resultado para o Nordeste, entre 2007 e 2012 [0,13% contra 20,1%, respectivamente]. Concluímos, então, que esse resultado, mesmo considerando a sazonalidade do setor sucroalcooleiro, foi muito ruim relativamente e denota que, efetivamente, pelo menos no período considerado, não existem elementos que atestem um surto industrial no estado.

Em Os Descaminhos da “Industrialização” Alagoana, analisamos a evolução do estoque de empregos formais na indústria de transformação alagoana, com ênfase na desagregação de seus principais subsetores. Os dados revelaram que apesar de ser responsável por quase 80% dos empregos industriais no estado, o setor sucroalcooleiro vem, desde 2012, diminuindo a oferta de trabalho de forma dramática por razões estruturais e por causa do fechamento de alguns grupos empresariais. Esse processo não tem sido compensado pela criação de novos empregos em outros subsetores da indústria de transformação. A atividade químico-plástica, por sua vez, tem criado poucos postos de trabalho por razões tecnológicas e com efeitos reduzidos nos setores de serviços. Nos demais subsetores industriais a criação de empregos é muito marginal. Resultado, se a tendência continuar como vem ocorrendo desde 2012, a indústria em Alagoas em sua totalidade desempregará em escala sem precedentes. O alento vem da continuidade do crescimento dos setores de serviços, comércio e construção civil com geração de empregos.

Com o objetivo de incrementar ainda mais a análise, no texto Financiamento e“Industrialização” em Alagoas discutimos, rapidamente, a importância do sistema financeiro-bancário no tocante a concessão de crédito numa economia capitalista. Com base em minucioso estudo recém divulgado, comparamos a captação de créditos por parte dos setores econômicos em Alagoas com os demais estados do Nordeste. Verificou-se entre 2003 e 2011 uma diminuição significativa da participação de Alagoas no total de créditos concedidos pelo Banco do Nordeste do Brasil [BNB]. A taxa de crescimento da captação de recursos por parte da indústria do estado no BNB foi a menor registrada na região. Mais uma vez outro dado importante parece indicar que a dinâmica industrial local, em período muito recente, não acompanhou nem de perto outras realidades da região, como Sergipe, por exemplo.

Por fim, trouxemos Amartya Sem [Prêmio Nobel de Economia] à Alagoas, metaforicamente, para através das lentes de seu binóculo teórico argumentar que a falta de desenvolvimento industrial em Alagoas reflete-se, diretamente, em baixa intensidade na criação de riquezas no estado. Para isso, observamos no artigo [Amartya Sen em Alagoas] que o IDH-Renda [que compõe o IDH-Municipal] de Alagoas cresceu muito devagar em três décadas. Sem dúvidas, esse fraco desempenho na geração de riquezas impacta diretamente no IDH-Municipal do estado, colocando-o entre os últimos da federação. Talvez muitos economistas e parte da opinião pública não tenham condições analíticas para associar que grande parte dos problemas sociais que o estado ainda enfrenta e a escalada da violência, têm relação direta com baixa capacidade de geração de riqueza no estado e sua forte concentração em poucos grupos muito privilegiados.

Em dezembro de 2013, na audiência pública para discussão e aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias 2014 do estado de Alagoas, o deputado pelo Partido dos Trabalhadores, Judson Cabral, questionou ao então Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas o porquê dos “favoráveis” resultados econômicos apresentados pelo gestor não se refletirem em melhorias nas condições e realidade social do estado. O parlamentar chegou a declarar o seguinte: “O PIB de Alagoas pode ter crescido mais que o do Brasil, como mostra o secretário. Porém, o desenvolvimento social não acompanha. São índices alarmantes que colocam Alagoas entre os piores do país. A exaltação dos números não representa nenhum avanço” Talvez nossas análises contribuam, minimamente, para esclarecer as dúvidas do nosso parlamentar e da grande maioria da população. Sem maior dinamismo e distribuição da riqueza produzida, não se avança, em hipótese alguma, no âmbito social, principalmente numa sociedade subdesenvolvida economicamente como a alagoana.

Um dos maiores pecados, senão o maior, da atual gestão governamental em Alagoas foi não ter iniciado com um Plano de Desenvolvimento para o Estado. Infelizmente, ao contrário do que muitos imaginam, o Programa Alagoas tem Pressa trata-se de uma estratégia de monitoramento e gestão de políticas públicas com vistas a alcançar metas pré-estabelecidas. Foi concebido entre o final do primeiro mandato e início do atual, atendendo uma necessidade de alinhar as ações e programas de secretarias que não resultavam, de forma alguma, em reversão dos lamentáveis índices socioeconômicos que insistiam em aparecer aqui e acolá na mídia.

E antes que alguém levante essa “lebre”, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano Plurianual são estruturas e instrumentos mais operacionais. Um Plano de Desenvolvimento é concebido dentro de uma filosofia moldada por diretrizes, que se relacionam diretamente com os sentimentos e prioridades coletivas, que brotam da sociedade e refletem seus sonhos, no médio e longo prazos. Alagoas, portanto, foi conduzida, nos últimos anos, pelas demandas ocasionais e circunstanciais.   



*Doutor em Administração com ênfase em Instituições e Políticas Públicas (NPGA/UFBA). Mestre em Economia Regional e graduado em Ciências Econômicas (UFPB). Professor da Graduação e Pós-Graduação em Economia da FEAC/UFAL. Tutor do Programa de Educação Tutorial em Economia [FEAC/UFAL]. Membro do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento [Rio de Janeiro].

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