Imagem da detentora da economia e da política em Alagoas |
A
economia alagoana como ela é...conclusões “impertinentes”
Até
agora apresentamos alguns dados e estatísticas, analisamos a evolução e
dinâmica recentes da economia Alagoana e lançamos alguns argumentos que,
infelizmente, contrariam a opinião comum e certas estratégias de marketing.
Acreditamos que é chegado o momento de realizar uma síntese dos primeiros oito
artigos que publicamos nesse espaço. Para facilitar a vida dos leitores que não
tiveram contato com alguns deles, cada título pode ser clicado e
automaticamente o interessado será redirecionado ao texto específico.
No
primeiro artigo, intitulado Aparências e Evidências no Crescimento do PIB Alagoano, argumentamos que a principal causa do avanço em 6,7% da
riqueza do estado em 2011 com relação a 2010, foi a expansão da indústria de
transformação. Essa expansão foi responsável por aumentar a participação do
setor de 9,3% para 13,3% no PIB estadual. A principal razão para esse movimento
foi o extraordinário momento para a produção e refino de açúcar em 2011, quando
as exportações alcançaram seu maior nível em duas décadas no Estado. Os preços
internacionais do açúcar alcançaram seu melhor nível no mercado internacional.
Portanto, o crescimento do PIB alagoano no ano de 2011 além de ter sido
influenciado pela expansão dos setores de comércio, serviços e construção civil,
contou com aquela particularidade, não apontando para uma expansão industrial
com diversificação produtiva.
Em
O Paradoxo de Solow e os Indicadores Econômicos em Alagoas, buscamos
confrontar a propaganda governista sobre uma suposta industrialização no estado
com os dados da geração de empregos formais e expansão do seu estoque. Vimos
que o comando na geração de empregos no estado, nos últimos 8 anos, está nas
atividades de construção civil, serviços e comércio. A indústria de
transformação, até 2012, praticamente não expandiu seu estoque de empregos. O
crescimento no estoque de empregos formais de apenas 0,13%, entre 2007 e 2012,
ficou muito aquém das impressões que boa parte da sociedade alagoana tem a
respeito de uma suposta retomada do crescimento industrial no estado.
Apontamos, muito sumariamente, que esse resultado também repercute o processo
de reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro, diminuição da produção de
açúcar e biocombustíveis, bem como dificuldades administrativas e financeiras
de alguns grupos.
Entretanto,
para isolar a influência do maior setor industrial da economia de Alagoas
[setor sucroalcooleiro], recorremos, no artigo intitulado A Realidade dos Indicadores e a Psicologia do Autoengano, à análise das estatísticas do número de
consumidores e volume de consumo de energia por classe econômica. Percebeu-se,
muito claramente, que o número de consumidores industriais aumentou, entre 2007
e 2012, somente 0,15% e o consumo de energia 0,9%. Essas taxas de crescimento
revelam, acintosamente, uma convergência com o nível de expansão do emprego na
indústria alagoana no mesmo período. Isso aponta para três hipóteses muito
fortes sobre a dinâmica da indústria alagoana entre 2007 e 2012: i) a atividade
apresentou estagnação; ii) ocorreu desindustrialização em lugar de
industrialização; e, iii) ocorreu elevação da produtividade industrial, com
diminuição do emprego e economia de energia [premissa muito pouco provável].
Diante
do que as estatísticas sobre a economia alagoana revelavam, sobretudo
olhando-se, atentamente, para o setor industrial, aproveitamos uma viagem
particular à Paraíba, no início de janeiro para percorrermos, observando com
mais atenção, a região metropolitana de Recife, principalmente o Complexo de
Suape, no litoral sul do estado. Inebriados pela propaganda governista de que
Alagoas vive um surto industrial, saímos em direção à Pernambuco com certa
ansiedade de conferir que se passava por lá para efeito de comparação com a
nossa realidade. Ao nos defrontarmos com as instalações de uma montadora de
veículos e uma fábrica de cerveja, ao lado norte da região metropolitana de
Recife, bem como com a Refinaria Abre e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, o
Porto de Suape e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco, nossas dúvidas desapareceram
e nos veio à tona o verdadeiro significado de um surto industrial, com o
desenvolvimento de um novo polo de crescimento regional. De nossas impressões,
tiramos algumas conclusões, no artigo Vão Ver de Perto... Pernambuco, Industrialização e Sucesso, que levam a pensarmos sobre as razões do
sucesso da retomada da industrialização pernambucana, seus efeitos sobre a
Paraíba e os desafios impostos à economia alagoana nesse campo.
Depois
do “passeio” e experiência em Pernambuco e Paraíba, buscamos, novamente,
confrontar as estatísticas e dados sobre a indústria alagoana com os demais
estados nordestinos. Dessa vez recorremos a um estudo publicado recentemente
para balizar nossos argumentos centrais. Portanto, no artigo Acontece um Surto Industrial em Alagoas? verificamos que a expansão do estoque
de empregos industriais em Alagoas ficou muito aquém do resultado para o
Nordeste, entre 2007 e 2012 [0,13% contra 20,1%, respectivamente]. Concluímos,
então, que esse resultado, mesmo considerando a sazonalidade do setor
sucroalcooleiro, foi muito ruim relativamente e denota que, efetivamente, pelo
menos no período considerado, não existem elementos que atestem um surto
industrial no estado.
Em
Os Descaminhos da “Industrialização” Alagoana, analisamos a evolução do
estoque de empregos formais na indústria de transformação alagoana, com ênfase
na desagregação de seus principais subsetores. Os dados revelaram que apesar de
ser responsável por quase 80% dos empregos industriais no estado, o setor
sucroalcooleiro vem, desde 2012, diminuindo a oferta de trabalho de forma
dramática por razões estruturais e por causa do fechamento de alguns grupos
empresariais. Esse processo não tem sido compensado pela criação de novos
empregos em outros subsetores da indústria de transformação. A atividade
químico-plástica, por sua vez, tem criado poucos postos de trabalho por razões
tecnológicas e com efeitos reduzidos nos setores de serviços. Nos demais
subsetores industriais a criação de empregos é muito marginal. Resultado, se a
tendência continuar como vem ocorrendo desde 2012, a indústria em Alagoas em
sua totalidade desempregará em escala sem precedentes. O alento vem da
continuidade do crescimento dos setores de serviços, comércio e construção
civil com geração de empregos.
Com
o objetivo de incrementar ainda mais a análise, no texto Financiamento e“Industrialização” em Alagoas discutimos, rapidamente, a importância do
sistema financeiro-bancário no tocante a concessão de crédito numa economia
capitalista. Com base em minucioso estudo recém divulgado, comparamos a
captação de créditos por parte dos setores econômicos em Alagoas com os demais
estados do Nordeste. Verificou-se entre 2003 e 2011 uma diminuição
significativa da participação de Alagoas no total de créditos concedidos pelo
Banco do Nordeste do Brasil [BNB]. A taxa de crescimento da captação de
recursos por parte da indústria do estado no BNB foi a menor registrada na
região. Mais uma vez outro dado importante parece indicar que a dinâmica
industrial local, em período muito recente, não acompanhou nem de perto outras
realidades da região, como Sergipe, por exemplo.
Por
fim, trouxemos Amartya Sem [Prêmio Nobel de Economia] à Alagoas,
metaforicamente, para através das lentes de seu binóculo teórico argumentar que
a falta de desenvolvimento industrial em Alagoas reflete-se, diretamente, em
baixa intensidade na criação de riquezas no estado. Para isso, observamos no
artigo [Amartya Sen em Alagoas] que o IDH-Renda [que compõe o
IDH-Municipal] de Alagoas cresceu muito devagar em três décadas. Sem dúvidas,
esse fraco desempenho na geração de riquezas impacta diretamente no
IDH-Municipal do estado, colocando-o entre os últimos da federação. Talvez
muitos economistas e parte da opinião pública não tenham condições analíticas para
associar que grande parte dos problemas sociais que o estado ainda enfrenta e a
escalada da violência, têm relação direta com baixa capacidade de geração de
riqueza no estado e sua forte concentração em poucos grupos muito
privilegiados.
Em
dezembro de 2013, na audiência pública para discussão e aprovação da Lei de
Diretrizes Orçamentárias 2014 do estado de Alagoas, o deputado pelo Partido dos
Trabalhadores, Judson Cabral, questionou ao então Secretário de Planejamento e
Desenvolvimento Econômico de Alagoas o porquê dos “favoráveis” resultados
econômicos apresentados pelo gestor não se refletirem em melhorias nas
condições e realidade social do estado. O parlamentar chegou a declarar o
seguinte: “O PIB de Alagoas pode ter
crescido mais que o do Brasil, como mostra o secretário. Porém, o
desenvolvimento social não acompanha. São índices alarmantes que colocam
Alagoas entre os piores do país. A exaltação dos números não representa nenhum
avanço” Talvez nossas análises contribuam, minimamente, para esclarecer as
dúvidas do nosso parlamentar e da grande maioria da população. Sem maior
dinamismo e distribuição da riqueza produzida, não se avança, em hipótese
alguma, no âmbito social, principalmente numa sociedade subdesenvolvida
economicamente como a alagoana.
Um
dos maiores pecados, senão o maior, da atual gestão governamental em Alagoas
foi não ter iniciado com um Plano de Desenvolvimento para o Estado.
Infelizmente, ao contrário do que muitos imaginam, o Programa Alagoas tem
Pressa trata-se de uma estratégia de monitoramento e gestão de políticas
públicas com vistas a alcançar metas pré-estabelecidas. Foi concebido entre o
final do primeiro mandato e início do atual, atendendo uma necessidade de
alinhar as ações e programas de secretarias que não resultavam, de forma
alguma, em reversão dos lamentáveis índices socioeconômicos que insistiam em
aparecer aqui e acolá na mídia.
E
antes que alguém levante essa “lebre”, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o
Plano Plurianual são estruturas e instrumentos mais operacionais. Um Plano de
Desenvolvimento é concebido dentro de uma filosofia moldada por diretrizes, que
se relacionam diretamente com os sentimentos e prioridades coletivas, que
brotam da sociedade e refletem seus sonhos, no médio e longo prazos. Alagoas,
portanto, foi conduzida, nos últimos anos, pelas demandas ocasionais e
circunstanciais.
*Doutor em Administração com ênfase em Instituições e
Políticas Públicas (NPGA/UFBA). Mestre em Economia Regional e graduado em
Ciências Econômicas (UFPB). Professor da Graduação e Pós-Graduação em Economia
da FEAC/UFAL. Tutor do Programa de Educação Tutorial em Economia [FEAC/UFAL].
Membro do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o
Desenvolvimento [Rio de Janeiro].
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