Sede do BNDES (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil) |
Bastou o presidente Lula (PT) defender que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) volte a investir em obras no exterior, realizadas por empresas nacionais, que o faniquito dos financistas e vira-latas de bolsos cheios com especulação financeira começou a gritar. E sempre com a mesma ladainha de que se “vai mandar dinheiro público para fora do Brasil”.
A má-fé dessa gente alimenta o imaginário de que os males brasileiros tem somente a corrupção como causa. A Lava Jato, capiteneada pelo marreco de Maringá, ajudou a hipertrofiar essa narrativa.
Primeiro, é imprescindível ressaltar que um país não empresa dinheiro a outro. Quem empresa dinheiro a países são organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo. O que o BNDES faz é financiar empresas brasileiras com projetos a serem executados no exterior e tais empresas gerarão empregos no Brasil.
A prática é realizada por diversos países mundo afora, inclusive o paraíso da direita abestalhada, os Estados Unidos.
Financiar obras de empresas brasileiras no exterior as fortalecem e, consequentemente, a economia nacional. Geram-se empregos em praticamente toda a cadeia produtiva e até em outros setores, uma vez que com mais gente empregada, se tem mais dinheiro circulando. Se tem mais dinheiro circulando, mais compras no comércio, seja de bens ou de serviços.
Na narrativa vira-lata sempre se fala em calote dos empréstimos feitos pelo BNDES. Bom, de acordo com um levantamento feito pelo Portal 360, a inadimplência equivale a 10% do total. Ou seja, “troco”. Sem falar que essas operações são protegidas por seguros.
Ainda de acordo com o mesmo levantamento, no auge dessas operações, as empresas brasileiras eram responsáveis por 3,2% dos negócios de exportação de engenharia, mas depois da Lava Jato, esse percentual caiu a 0,5% e o faturamento das empresas brasileiras nessa seara despencou de R$ 108 bilhões, em 2015, para R$ 12 bilhões, em 2019.
A quem interessa não ter o BNDES investindo em empresas brasileiras no exterior?
Uma coisa é questionar financiamento A ou B, tendo por base dos argumentos critérios técnicos. O problema do faniquito é que a base argumentativa é ideológica e sob verniz de preocupação com o dinheiro público. Outra é atuar para a não expansão das atividades de empresas brasileiras em nível internacional. Isso é, inclusive, antipatriótico.
Jair Bolsonaro pegou carona nessa narrativa e ainda candidato bradou aos quatro ventos que “abriria a caixa preta do BNDES”. Pois bem, o capitão fujão torrou R$ 48 milhões para comprovar o que qualquer pessoa com honestidade intelectual já sabia: não existe a tal caixa preta.
Por conta dessa narrativa, o próprio BNDES, em 2019, divulgou nota na qual apresentou seus números de financiamento a empresas brasileiras no exterior entre 1998 e 2017. O país que mais recebeu atuações de empresas nacionais foi os Estados Unidos, com financiamento de US$ 17 bilhões.
Na sequência, Argentina, US$ 3,5 bilhões; Angola, com US$ 3,4 bilhões; Venezuela, US$ 2,2 bilhões; e Holanda, US$ 1,5 bilhão. Ao todo, o BNDES financiou, nesse período, a atuação de empresas brasileiras em mais de 40 países.
O critério nesse tipo de investimento – como qualquer outro, aliás – tem de ser o pragmático. Até pode haver algum motivador de ordem política, como o fortalecimento de regiões etc., mas o pragmatismo deve prevalecer, na medida do tamanho e risco do dinheiro empregado.
Quanto mais empresas nacionais tiverem presença forte em outros países, mais o Brasil ganha importância na economia global. Mais o Brasil se aproxima do centro econômico do planeta. Quanto mais perto desse centro, mais peso nas decisões globais se tem.
E pelo tamanho do Brasil geográfica e populacionalmente, além da potencialidade econômica e por suas reservas naturais – que tanto tentam destruir –, nosso país merece e deveria estar nessa grande mesa global. Caminhávamos para isso, mas ai veio o processo que culminou no golpe de 2016 que tirou Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República.
Desde então, esse movimento de expansão da engenharia – principalmente – brasileira pelo mundo arrefeceu.
Repetindo: quem interessa não ter o BNDES investindo em empresas brasileiras no exterior?
Querem o Brasil pequeno e subalterno
ResponderExcluir