domingo, 31 de dezembro de 2023

2023 nos deu esperança, mas também mostrou enormes dificuldades a superar

 Quatro dos principais momentos políticos de 2023: posse de Lula, ataques de 8/01, unidade dos poderes e promulgação da reforma tributária (Fotos: reprodução)


O ano de 2023 começou de maneira eufórica. A posse de Lula na Presidência da República simbolizou o tom de seu terceiro governo, que tem como objetivo ser inclusivo e reconstruir o Brasil após seis anos – de Michel Temer a Jair Bolsonaro – de desmonte de políticas públicas e conquistas do povo brasileiro.

Ainda mesmo antes de tomar posse, Lula articulou garantias para que seu governo pudesse, de fato, ter início. A PEC da transição foi criada para garantir a volta do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida, do reajuste do salário mínimo acima da inflação, reposição de recursos às universidades, volta do Farmácia Popular etc. A PEC também ajudou à (des) gestão da dupla “bolsoguedes” a fechar as contas de 2022.

Mas logo na primeira semana de 2023, o Brasil e o mundo viram milhares de aloprados ensandecidos destruírem as sedes dos três poderes, inflados por Jair Bolsonaro e sua horda nas redes sociais e, infelizmente, já em espaços políticos. O que os patriotários esperavam não ocorreu e aquele episódio gerou unidade entre os poderes do Estado brasileiro. “Sem golpe”.

Ao menos não daquela maneira.


O ano também começou com um intricado xadrez para conquistar base de apoio no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados. A esmagadora maioria dos parlamentares eleitos em outubro de 2022 é do chamado centrão que, após o golpe de 2016, ficou mais acintoso em sua forma de pressionar o Poder Executivo.

Se em 2003, a divisão de poder com espaços em ministérios e órgãos estatais já garantiam apoio no parlamento para quase a totalidade dos temas pautados pelo Planalto, agora – vinte anos depois, não mais. Apesar de a quantidade de parlamentares ideologicamente próximos a Lula ser praticamente a mesma da eleita em 2002, a forma de “matar a fome” desse setor da política nacional mudou.

Após o golpe de 2016, estes parlamentares foram ampliando seu poder em Brasília e, consequentemente, o acesso a recursos do Orçamento da União. As emendas foram se tornando cada vez mais obrigatórias, tirando do Poder Executivo sua função primária: executar o orçamento público.

Parlamentares do centrão não defende agenda alguma para a sociedade, não defende ponto de vista algum. Eles apenas se comportam como “mini-executivos” levando recursos para suas bases eleitorais e assim perpetuando seus mandatos. Com o orçamento secreto criado no (des) governo Bolsonaro, isso piorou demais. E fazer esse tipo de desmame é bem difícil e complexo.

Mas Lula, em bom grau, conseguiu construir uma base no parlamento. Difusa e nem sempre alinhada, esta base garantiu uma série de vitórias ao Planalto, tendo o melhor exemplo a primeira parte da reforma tributária e o investimento público na ordem de R$ 1,7 trilhão em todos o país e nas diversas áreas, de obras à cultura, educação e saúde. (CLIQUE AQUI E VEJA POR ESTADO)

Cabe destacar o papel desinformador da imprensa sobre a relação entre Lula e sua base. Sempre que há votos contrários ao governo vindos de parlamentares das siglas que compõe a Esplanada dos Ministérios, as manchetes alardeiam como se tudo estivesse ruindo. Sempre foi assim, tanto os falsos alardes da mídia, quanto a existências de votos contrários dentro das bases de apoio.

Mas é fato que a atual base tem bem mais agressividade que as anteriores, essencialmente pelos motivos que já pontuei acima.

Além disso, temos uma parcela da sociedade e do parlamento que aderiu ao que chamamos de bolsonarismo, mas que é, na verdade, o fascismo à brasileira, com feições atuais e dentro de nosso contexto histórico.

Eles são menores do que parecem, mas estão aí e levará muito para serem, de fato, derrotados.

Por quê?

Por que não se elimina uma ideia assim tão rápido. Achar que o fascismo à brasileira foi derrotado porque Bolsonaro perdeu a eleição em 2022, é o mesmo que os reacionários acharam sobre o PT após a prisão ilegal de Lula.

Repito, uma ideia, por mais repugnante que seja, não morre de forma tão simples e rápida assim.

E este é um dos grandes desafios que precisamos superar enquanto povo: eliminar o fascismo à brasileira. Precisaremos de décadas de unidade política, inclusive com setores mais à centro-direita (não confundir com o centrão) da sociedade.

Pode até parecer contraditório, mas seria bom para o país e para a política que a centro-direita conseguisse construir uma liderança nacional para se pôr como alternativa à extrema-direita. Nem todos que votaram em Bolsonaro são fascistas. Estes estão órfãos do PSDB, que se acabou por inflar uma onda golpista.

Para bagunçar ainda mais o coreto, a horda fascista brasileira reduziu o debate público a discussões de quinta série no recreio das escolas. A tática do não-debate faz os setores mais comprometidos com a democracia no Brasil correr atrás do próprio rabo.

Se rebate as sandices, se perde tempo e energia que deveriam estar voltados à reconstrução do país. Se não rebate, a horda acumula força entre os incautos. Não temos uma tarefa fácil aí e é muito mais complexa do que cobrar uma “comunicação melhor” do governo, do PT, da esquerda e do Lula. E precisamos resolvê-la, já que se a política estiver bagunçada, a economia jamais irá bem.

Somente para pontuar a comunicação, a rede fascista começou lá trás, bem antes de 2018. Nós é que só passamos a percebê-la há cinco anos.

Estes são os desafios que temos pela frente e que 2024 será fundamental para avançarmos: melhoria significativa da qualidade de vida de nosso povo, especialmente os mais pobres e os trabalhadores; e qualificar a política brasileira, tirando esse bode fascista da sala.

Só poderemos conquistar êxito com unidade, inclusive de contrários. Entendendo os limites da aliança e sabendo que logrando vitória nessa peleja, estes voltam a ser nossos adversários. Mas isso só depois.

Lutemos, em unidade, contra o fascismo à brasileira.

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Cadu Amaral