sábado, 20 de janeiro de 2024

Aldo Rebelo e a importância da autovigilância ideológica

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, e Aldo Rebelo (Foto: Prefeitura de São Paulo)


O ingresso de Aldo Rebelo (PDT) no secretariado de Ricardo Nunes (MDB) na cidade de São Paulo voltou a criar certo reboliço com a postura do outrora comunista, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff e ex-presidente da Câmara dos Deputados. Pelo histórico do alagoano de Viçosa, a cobrança de firmeza ideológica é grande, mas esse movimento à direita – bem à direita – de Aldo Rebelo não é novidade na política. Tampouco o inverso.

Outro alagoano ilustre da política nacional que vem movimento semelhante, mas no sentido oposto, foi Teotonio Vilela, o “Menestrel das Alagoas”. De apoiador do golpe de 1964, o também viçosense morreu na linha de frente contra a ditadura e chegou a defender “pegar em armas” pela América do Sul. Essa fala está registrada no documentário “O evangelho segundo Teotonio”. (ASSISTA ABAIXO)


Recentemente, Aldo Rebelo até se aproximou do grupo Nova Resistência, de extrema-direita que atua dentro do PDT. Mais frio que Ciro Gomes, ele deixa transparecer menos sua mágoa com o PT e com o restante da esquerda. Mas esse sentimento – aposto – foi o catalisador para que ele guinasse à direita na política nacional.

Após deixar o PCdoB, onde Aldo Rebelo já vinha há muito tempo tendo atritos internos – e eu sei disso porque já militei no PCdoB –, ele saiu migrando de partido em partido até parar no PDT. Com Ciro Gomes como expoente, encontrou o parceiro ideal para dividir a raiva que sente do PT e do restante da esquerda como um todo. 

E essa movimentação de Aldo Rebelo só reforça a importância de nos mantermos vigilantes ideologicamente com nós mesmos. A vida é dura com quem é de esquerda, ao contrário do que pensa a horda da extrema-direita. Como dizia Leonel Brizola, “quem é de esquerda é condenado para a Sibéria”.

Brizola usa essa figura de linguagem para ressaltar que as pessoas ideologicamente de esquerda tinham os espaços em locais de trabalho fechados, menos oportunidade e sempre perseguidos se por ventura conquistassem algum bem material. O que é o tal “comunista de iphone” se não uma forma de intimidação, cujo objetivo é fazer as pessoas de esquerda se esconderem do convívio em sociedade.

Ser de esquerda é uma luta diária contra o cotidiano. Os valores dominantes – que são o da classe dominante – nos impõe teste de força ideológica diariamente. É mais fácil aderir ao modelo hegemônico do que transitar por ele sabendo que da necessidade de sua superação.

Quando isso vai para a esfera da política institucional, muitos que se sentem preteridos, injustiçados ou mesmo perseguidos – seja lá pelo que for – acabam migrando para onde lhe é dado sombra e encosto. Geralmente, se sai da esquerda para a direita, em maior ou menor grau.

Ter paciência histórica, compreender avanços e reveses e nunca perder a consciência de que a realidade é dialética e contraditória, é o mais duro dos exercícios ideológicos a se fazer para quem é de esquerda. Muitas vezes, a vontade é mandar tudo às favas, chutar o balde e cuidar da própria vida ou ir para o outro lado, devido à sedução por “facilidades” e “aceitação”, batem à porta.

A guinada à direita de Aldo Rebelo é mais uma amostra do que pode acontecer se nos deixarmos levar por ranhuras ou distratos nas relações políticas, esquecendo nosso objetivo estratégico, nosso horizonte.


4 comentários:

  1. Ótima análise.

    Rita Costa

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  2. Cadu, excelente análise! Aldo quando expressa sua crítica ao identitarismo da esquerda pós- moderna - ele usa essa crítica para justificar seu afastamento da esquerda como um todo ( sabemos que na raiz essa não é sua real motivação para captular, nem muito menos ele deseja recuperar a categoria da Totalidade Social) - cai no seu próprio identitarismo, cria o seu próprio fragmento: O "nacionalismo", a"grande pátria" isolada, fechada em si, dogmática, fascista? Aldo foi aquém, bem, bem aquém!

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