Folha emprestava seus carro à ditadura de 1964 e teve um destruído pela resistência |
Um colunista da Folha de S. Paulo, Joel Pinheiro da Fonseca, escreveu artigo – publicado em 29 de abril, afirmando ser necessário um “bolsonarismo moderado” no Brasil porque a direita democrática, segundo ele, levará anos para ser – ou voltar a ser – viável eleitoralmente no Brasil. Ele também faz a falsa equivalência entre petistas e bolsonaristas.
Tirando o fato de que a direita democrática está sem horizonte eleitoral viável, o escriba da Folha, formado pela USP em Filosofia, usa argumentos falsos para do início ao fim de seu texto. Tudo para tentar esconder aquilo que não pode ser escondido: seu antipetismo.
Ao tentar se vender neutralidade política, Joel usa do artifício do canalhismo porque ele sabe – ou deveria saber – que não existe neutralidade em nenhuma atividade humana. No jornalismo, mesmo em artigos opinativos, o máximo que se tem é a objetividade. Na verdade, o filósofo da USP quer o “guedismo” de volta. Isso significa, a entrega do patrimônio público ao setor privado, os mais ricos pagando menos impostos e o Estado brasileiro agindo tão somente para aumentar as diferenças socioeconômicas em nosso povo.
Mas como não tem a coragem de afirmar tais ideias abertamente, faz uso do canalhismo retórico, mesmo que moderado, sem agredir personalidades dos espectros políticos aos quais diz discordar, bem aos moldes dos setores que apoiaram os golpes de 1964 e 2016, mas quando as coisas degringolaram, fingiram não ter nada a ver com a bagaceira.
O tal artigo sai no momento em que a mídia grande mais acentua sua campanha por Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, à Presidência da República. A mídia o vende como moderado e o próprio tenta se vender como tal. Não fala palavrão, divide palco com o presidente Lula com alguns sorrisos até e tem em sua base no governo paulista partidos que nacionalmente compõe a base do petista em Brasília.
No comportamento pessoal, o governador de São Paulo pode até aparentar ser mais “civilizado” que seu congênere, mas nem de longe é um moderado. Fosse assim, não largaria o “tô nem aí” quando questionado sobre a violência policial da PM que comanda. Tarcísio é oficial do Exército e parte central na engrenagem que ungiu Bolsonaro à Presidência da República e desta base eleitoral tira seus votos, sempre usando dos mesmos argumentos políticos. A diferença é somente a embalagem.
Esterco segue sendo esterco mesmo se estiver numa caixa da Dolce & Gabbana.
O fato é que historicamente os setores mais conservadores da sociedade brasileira nunca se incomodaram com o nazifascismo, desde que não se mexesse com ela ou que suas personas políticas se comportassem à mesa. Então, porque se incomodariam com a versão recente desse fenômeno político, que costumo chamar de “fascismo à brasileira”?
O problema é que Bolsonaro não fez isso, nunca se portou bem à mesa, causando vergonha em muitos da elite econômica – e seus porta-vozes. Estes, logo acentuaram sua pretensa neutralidade, seu canalhismo retórico.
O que chamamos de bolsonarismo não nada além de um movimento que se propõe à ruptura civilizatória, a destruição completa do Estado em seu papel de indutor da economia e de promoção da redução das desigualdades e da soberania nacional. Como nada é imutável, o neonazifascismo aderiu ao neoliberalismo doentio que ainda persiste nas mentes das classes dominantes e nas mãos e bocas de seus porta-vozes.
À direita democrática cabe se reorganizar e se fortalecer politicamente, senão os eleitores mais conservadores tenderão sempre a se somar com o fascismo à brasileira, seja por entenderem não haver opção, seja por estarem ludibriados com o canalhismo retórico de que há “bolsonarismo moderado”.
Tudo o que a elite econômica quer é domesticar o bolsonarismo – ou melhor, que lhe dar um banho de loja! – porque para ela tanto fazer se os mais pobres estão mais pobres, sem condições mínimas de vida, sem acesso a serviços como saúde, educação e transporte com qualidades minimamente razoáveis. Até porque nessas condições, os salários se achatam, uma vez que resta aos trabalhadores aceitar a degradação das relações de trabalho ou morrer de fome.
O Brasil e o mundo passam por tensionamento gerado pela extrema-direita e para não cometer o mesmo erro da primeira metade do século 20 e combatê-la, é preciso a soma de forças dos setores democráticos, sem meio termos e também sem expor suas diferenças. Isolar o neonazifascismo, fazê-lo diminuir à inanição, é central na luta política atual. E quem é democrático deve se somar a isso e assumir sua posição. O resto é canalhismo retórico.
E neste momento, tudo o que o Brasil não precisa é de canalhismo retórico, nem mesmo o moderado.
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