sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O medo dos ricos

O ódio conservador da elite brasileira diante de tudo que possui viés popular é histórico. Não são poucos os fatos ao longo do tempo que comprovam essa afirmação. Nos últimos anos – a partir de 2003, para ser mais exato – esse sentimento voltou a aflorar, como na década de 1960 que acabou culminando no golpe de 1964.

Em resumo dizem que as políticas sociais são eleitoreiras e servem para gerar “preguiçosos e vagabundos”. O que defende nossa torpe elite é que o Estado se volte apenas para ela. Como se em uma sociedade capitalista a “benevolência” do Estado por natureza com a burguesia já não fosse suficiente.

Abaixo reproduzo o relato de Maria Luiza Quaresma Tonelli publicado em 10 de dezembro em seu perfil no Facebook. Ela é de São Paulo. Em seu texto conta uma conversa que teve com um motorista de táxi.

Dá para perceber bem por que a direita odeia tanto a esquerda no Brasil, especialmente Lula e Dilma.

Abaixo o relato (publicado em 10 de dezembro de 2013).

Ontem, a caminho da PUC para assistir ao prêmio CUT 2013 no TUCA, conversei com o motorista do taxi durante todo o trajeto. Quanto perguntei se ele sabia onde era, respondeu todo orgulhoso que sim, que sua filha vai colar grau em Psicologia na PUC no dia 22 de dezembro. Um homem bem simples, um nordestino do interior do Ceará, que mora há décadas em São Paulo.

Ele perguntou o que haveria na PUC, se era alguma festividade. Então contei que era um evento da CUT.

Ao parabeniza-lo pela filha, ele falou que ela nunca faltava às aulas e que era muito esforçada, estudiosa demais.

Passou no ENEM com excelentes notas e cursou os 5 anos pelo PROUNI, sem pagar nada, fez Psicologia "numa faculdade de bacana, graças aos governos Lula e Dilma". Falou que a filha toma três conduções por dia para chegar na PUC e três para voltar para casa.

Disse que fez das tripas coração para que a filha pudesse pagar o transporte, que não precisar trabalhar enquanto estudava, que pudesse comer um lanche nos intervalos das aulas, que pudesse comprar os livros necessários para o curso e umas roupas arrumadinhas, para "não passar vergonha perante as colegas".

Além disso, falou que pagava a análise (terapia) que a menina precisou fazer, como estudante de Psicologia, pois ela quer clinicar. Disse que a filha quer fazer mestrado e Doutorado.

Na sequência da conversa, falou que o namorado da filha está se formando em engenharia pelo Prouni e que estava muito orgulhoso, pois seus netos terão uma vida muito diferente da vida que ele e que seus filhos tiveram.

Orgulhoso, contou que filho mais novo está cursando Direito, também pelo Prouni.

Enfim, quando falei para ele que o Brasil realmente mudou muito depois do Lula, com a abertura de oportunidades para os filhos das classes mais pobres ele disparou: "não é por acaso que inventaram esse tal de mensalão para tirar o PT do poder".

Mas o bom mesmo foi quando ele disse: "os ricos têm medo que os filhos dos pobres amanhã sejam os patrões ou chefes dos filhos dos ricos e a senhora tenha certeza de que isso vai acontecer, porque esses meninos das classes ricas não querem nada com nada, encontram tudo de bandeja, mas isso está acabando. O Brasil mudou e só os que tiveram tudo na vida ainda não perceberam".

E o melhor de tudo foi quando falou que num país onde a maioria esmagadora é pobre, então a maioria dos votos é dos pobres, que decidem quem vai ser eleito. Quando falei para ele que muita gente egoísta diz que os pobres votam no Lula por causa do Bolsa-Família ele disse"Oxi, e pobre por acaso não pode ter interesse"?

Gostei.

Um comentário:

marisa hirata disse...

Só os jovens absorverão esta maneira de pensar solidária. Os mais velhos já encroou, endureceram, e perderam o que o ser humano tem de melhor - a solidariedade.