segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dialogando com Nassif: parcialidade no jornalismo



Luis Nassif, um dos mais renomados jornalistas do país, publicou em seu site um artigo de sua autoria sobre a parcialidade na imprensa tradicional e na blogosfera.

Nassif usa o relato de um encontro com um membro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que lhe contou como ele participou – na condição de fonte – de matérias para a Folha e a Globonews sobre uma suposta reunião de emergência do Conselho para discutir racionamento de energia.

Tal reunião jamais aconteceu e a imprensa jamais reconheceu a “barrigada” que deu sobre o caso.

No mesmo texto, Nassif comenta divulgação de uma foto antiga de Joaquim Barbosa, presidente do STF, ao lado de um foragido da justiça brasileira chamado Antonio Mahfuz.

Mahfuz tem a prisão decretada num processo de cobrança de uma dívida superior a R$ 144 milhões com o Chase Manhattan Bank e vive nos Estados Unidos há 15 anos. Mas é praticamente impossível que Barbosa o reconhecesse. Será que alguém da polícia Federal ou do Poder Judiciário tem memorizado os rostos de todos os procurados do país?

Mesmo Joaquim Barbosa tendo uma postura duvidosa – digamos assim – na presidência do STF, o caso da foto em questão é falsa polêmica. Ela serve apenas para mostrar como a justiça brasileira não pôs fim à impunidade após o julgamento da Ação Penal 470.

O que denota na foto é a postura de pop star de Barbosa. Cedo ou tarde uma fotografia com alguém que está devendo na justiça brasileira apareceria.

Nassif comenta que está em voga uma postura de “vale-tudo” na imprensa e na blogosfera. Mesmo reconhecendo que no espaço de mídia alternativa os erros e a “barrigadas” da imprensa grande são desmascarados. Como no caso da reunião sobre racionamento de energia que nunca houve.

O texto nos leva a refletir sobre o que circula de informação no país. Se por um lado temos uma imprensa militante, não no sentido de praticar o bom jornalismo, mas de impor suas vontades políticas, a blogosfera não pode beber da mesma fonte. Senão nada mais será do que uma caricatura da imprensa grande.

Nassif diz que é “como se o estilo Veja-Cachoeira tivesse conquistado os dois lados”. E isso cabe uma importante reflexão: vale a pena ser o outro lado da mesma moeda?

De fato, com o acirramento dos embates políticos nas mídias o jogo do olho por olho tende a se tornar a tônica. A sobriedade é fundamental para quem, por qualquer que seja a ferramenta, passa algum tipo de informação a alguém. E isso não significa dizer que quem está nesse meio tenha que ser “sangue de barata”. Não mesmo.

Mas é preciso, mesmo diante da defesa de suas convicções, da exposição de seu lado no jogo político no país, mesmo que sua defesa seja engajada, impor-se limites para não fugir à verdade factual. Não é simples. Se fosse, não teríamos polêmica sobre isso.

O primeiro caminho, a meu ver, para conseguirmos esse equilíbrio é deixarmos de lado o mito da imparcialidade. Se leitores, ouvintes e telespectadores, tiveram a completa ciência de que não existe imprensa imparcial, há uma possibilidade, mesmo que pequena, de eles buscarem outras fontes de informação sobre o assunto que leem. O que seria ótimo não só para o jornalismo como para a democracia em nosso país.

3 comentários:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Pode ser que não haja imprensa imparcial, mas alguma fidelidade à verdade factual e alguma ética é imprescindível. Eu nunca atacaria o Barbosa, digamos, por ele ser 'gilette' (é uma hipótese argumentativa, apenas), mas sim por algum ato absurdo dele no cargo que ocupa ou usando de seu prestígio devido ao cargo. Também não inventaria nada sobre ele - como a mídia tradicional ligada ao tucanato faz. Acho que esse vale-tudo vem mais dessas hostes.

RLocatelli Digital disse...

Há uma diferença FUNDAMENTAL quando se trata de emissoras de rádio e tv: elas são CONCESSÕES PÚBLICAS, e não podem ser partidarizadas. Os veículos em papel podem ser parciais, sim. Mas não podem (em tese) cometer crime de injúria calúnia, difamação ou ainda terrorismo, como no caso da falsa epidemia de febre amarela.

Luiz Cezar disse...

Como muito se tem dito,strictu sensu, a imparcialidade no jornalismo não existe. O que há é uma certa isenção narrativa cujo papel é proporcionar ao leitor a sensação de verdade. A literatura é bem familiarizada com a abordagem, que, sendo uma técnica de estilo,foi transformada pelas escolas de jornalismo em premissa de relato autêntico.
Quando Nassif critica os jornalões por aí nada mais faz que defender um ponto de vista classista correntemente desmentido pela prátca do jornalísmo empresarial.
O que existem são perspectivas e a pespectiva bebe nas águas da ideologia. O resto são detalhes que a internet vem soterrando com necessária e inevitável ferrenha luta de idéias.