Luis
Nassif, um dos mais renomados jornalistas do país, publicou em seu site
um artigo de sua autoria sobre a parcialidade na imprensa tradicional e na blogosfera.
Nassif
usa o relato de um encontro com um membro do Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE) que lhe contou como ele participou – na condição de fonte –
de matérias para a Folha e a Globonews sobre uma suposta reunião de emergência
do Conselho para discutir racionamento de energia.
Tal
reunião jamais aconteceu e a imprensa jamais reconheceu a “barrigada” que deu
sobre o caso.
No
mesmo texto, Nassif comenta divulgação de uma foto antiga de Joaquim Barbosa,
presidente do STF, ao lado de um foragido da justiça brasileira chamado Antonio
Mahfuz.
Mahfuz
tem a prisão decretada num processo de cobrança de uma dívida
superior a R$ 144 milhões com o Chase Manhattan Bank e vive nos Estados Unidos
há 15 anos. Mas é praticamente impossível que Barbosa o reconhecesse. Será que
alguém da polícia Federal ou do Poder Judiciário tem memorizado os rostos de
todos os procurados do país?
Mesmo
Joaquim Barbosa tendo uma postura duvidosa – digamos assim – na presidência do
STF, o caso da foto em questão é falsa polêmica. Ela serve apenas para mostrar
como a justiça brasileira não pôs fim à impunidade após o julgamento da Ação
Penal 470.
O
que denota na foto é a postura de pop
star de Barbosa. Cedo ou tarde uma fotografia com alguém que está devendo
na justiça brasileira apareceria.
Nassif
comenta que está em voga uma postura de “vale-tudo” na imprensa e na
blogosfera. Mesmo reconhecendo que no espaço de mídia alternativa os erros e a “barrigadas”
da imprensa grande são desmascarados. Como no caso da reunião sobre
racionamento de energia que nunca houve.
O
texto nos leva a refletir sobre o que circula de informação no país. Se por um
lado temos uma imprensa militante, não no sentido de praticar o bom jornalismo,
mas de impor suas vontades políticas, a blogosfera não pode beber da mesma
fonte. Senão nada mais será do que uma caricatura da imprensa grande.
Nassif
diz que é “como se o estilo Veja-Cachoeira tivesse conquistado os dois lados”. E
isso cabe uma importante reflexão: vale a pena ser o outro lado da mesma moeda?
De
fato, com o acirramento dos embates políticos nas mídias o jogo do olho por
olho tende a se tornar a tônica. A sobriedade é fundamental para quem, por
qualquer que seja a ferramenta, passa algum tipo de informação a alguém. E isso
não significa dizer que quem está nesse meio tenha que ser “sangue de barata”. Não
mesmo.
Mas
é preciso, mesmo diante da defesa de suas convicções, da exposição de seu lado
no jogo político no país, mesmo que sua defesa seja engajada, impor-se limites
para não fugir à verdade factual. Não é simples. Se fosse, não teríamos
polêmica sobre isso.
O
primeiro caminho, a meu ver, para conseguirmos esse equilíbrio é deixarmos de lado
o mito da imparcialidade. Se leitores, ouvintes e telespectadores, tiveram a
completa ciência de que não existe imprensa imparcial, há uma possibilidade, mesmo
que pequena, de eles buscarem outras fontes de informação sobre o assunto que
leem. O que seria ótimo não só para o jornalismo como para a democracia em
nosso país.
3 comentários:
Pode ser que não haja imprensa imparcial, mas alguma fidelidade à verdade factual e alguma ética é imprescindível. Eu nunca atacaria o Barbosa, digamos, por ele ser 'gilette' (é uma hipótese argumentativa, apenas), mas sim por algum ato absurdo dele no cargo que ocupa ou usando de seu prestígio devido ao cargo. Também não inventaria nada sobre ele - como a mídia tradicional ligada ao tucanato faz. Acho que esse vale-tudo vem mais dessas hostes.
Há uma diferença FUNDAMENTAL quando se trata de emissoras de rádio e tv: elas são CONCESSÕES PÚBLICAS, e não podem ser partidarizadas. Os veículos em papel podem ser parciais, sim. Mas não podem (em tese) cometer crime de injúria calúnia, difamação ou ainda terrorismo, como no caso da falsa epidemia de febre amarela.
Como muito se tem dito,strictu sensu, a imparcialidade no jornalismo não existe. O que há é uma certa isenção narrativa cujo papel é proporcionar ao leitor a sensação de verdade. A literatura é bem familiarizada com a abordagem, que, sendo uma técnica de estilo,foi transformada pelas escolas de jornalismo em premissa de relato autêntico.
Quando Nassif critica os jornalões por aí nada mais faz que defender um ponto de vista classista correntemente desmentido pela prátca do jornalísmo empresarial.
O que existem são perspectivas e a pespectiva bebe nas águas da ideologia. O resto são detalhes que a internet vem soterrando com necessária e inevitável ferrenha luta de idéias.
Postar um comentário