Todo mundo já ouviu falar da lendária história de cem operárias em greve que morreram num incêndio provocado pelo patrão. Porém, não há registro histórico algum sobre esse incêndio ou sobre essa greve no ano de 1857 – que é o que, dizem, teria dado origem à celebração do 8 de março. O que houve, isso sim, foi muitas mulheres socialistas em luta por direitos políticos, por igualdade, por melhores condições de trabalho. Isso é importante para que se destaque, como disse Maria Lúcia da Silveira (1), que não houve uma greve heróica, mas sim, um feminismo heróico que se erguia entre as trabalhadoras.
O dia nos é muito caro. Por isso, não aceitamos e não aceitaremos que tentem transformá-lo numa data comercial como outra qualquer. E os movimentos de mulheres têm garantido isso com maestria: as manifestações, ações de rua, palavras de ordem, o lilás, o roxo, o vermelho, as batucadas, as faixas com dizeres feministas... tudo isso marca o 8 de março para não deixar que nos roubem o significado.
Amanhã, em São Paulo, e em tantas outras cidades brasileiras, é dia de ir às ruas mais uma vez. Em algumas cidades, as mulheres ocuparam as ruas e praças ontem ou hoje. A luta das mulheres é mais atual do que nunca, e sua visibilidade é fundamental para a construção da igualdade, da justiça, da solidariedade.
Neste Dia Internacional da Mulher, faço coro com o repúdio geral contra o tal arcebispo de Recife e Olinda. Solidariedade à mãe da menina, à menina, à equipe médica. Repúdio veemente ao tal arcebispo, ao Vaticano e seu apoio nefasto a esses fundamentalismos, ao homem que cometeu esse crime hediondo contra uma guria de 9 anos – e outra de 14, vale ressaltar. Se eu tivesse um Deus, o meu Deus (ou, por que não, Deusa?) excluiria esse homem, esse arcebispo, esse Vaticano, do quadro de pessoas que podem viver no mesmo planeta que eu.
Neste Dia Internacional da Mulher, peço a todos e todas que repudiem, via e-mail, os deputados federais petistas Luís Bassuma e Henrique Afonso, defensores da criminalização das mulheres, propositores da aberração que é uma “CPI do aborto” – contrariando resoluções do seu próprio partido e as bandeiras tão caras às mulheres do PT. Extravasem seu repúdio pelos e-mails presidencia@pt.org.br e sgn@pt.org.br.
Neste Dia Internacional da Mulher, gosto de pensar nas mulheres que lutaram contra o regime militar no Brasil – algumas declaradas anistiadas pelo Ministério da Justiça ontem. Tantas que morreram, que perderam familiares, amigos, que sofreram torturas, que foram estupradas, que se exilaram, que se esconderam, que tiveram medo, que lutaram por liberdade. E assim, escreveram mais uma página da história da resistência.
Neste Dia Internacional da Mulher, lembremos das tantas que ainda sofrem a violência doméstica, a violência sexual, a violência de várias facetas. Lembremos as que morrem em decorrência de abortos inseguros. Lembremos as que nunca se recuperam das seqüelas causadas por um aborto inseguro. Lembremos as que sofrem caladas no emprego, sofrendo assédio moral, assédio sexual. Lembremos que as mulheres cumprem dupla jornada porque os homens não dividem o trabalho doméstico, e porque o Estado não lhes garante igualdade de condições. Lembremos que a televisão (e a mídia em geral) nos ridiculariza, nos desumaniza, nos objetiza e nos vende, todos os dias, em seus comerciais, como se fôssemos produtos. Lembremos, portanto, que ainda há muito mais por lutar.
E lembremos, acima de tudo, das mulheres que, neste século, no século passado, no retrasado, no anterior... lutaram sempre, com as armas que tinham. E que é por isso que existe o nosso dia. Porque a nossa luta não acabou. E afinal, as mulheres – embora a História nos invisibilize – nunca fugiram da luta do povo.
(1)Recomendo fortemente a leitura do artigo “8 de março – Em busca da memória perdida”, de Maria Lúcia da Silveira, que encontra-se disponível na página eletrônica da SOF (Sempreviva Organização Feminista): www.sof.org.br
*Retirado do Blog Terribili - http://terribili.blogspot.com/
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