Mais uma amostra que a campanha de 2010 já começou...
Abaixo artigo de Bernardo Cotrim do ex-diretor da UEE/RJ e da direção do PT/RJ
Por que Vereza ataca a UNE?
Bernardo Cotrim*
O artigo de Carlos Vereza, publicado no Globo de ontem, é uma obra difícil de ser esquecida. Pretensamente um texto de análise política, o artigo do ator destila adjetivos a torto e a direito, juntando no mesmo saco a UNE, Lula, os governos do Paraguai, Bolívia, Coréia do Norte e Venezuela; Antonio Gramsci, a CUT, o MST - classificado como "bandoleiros" - e, claro, a indispensável alusão às FARC. Assim, sem mais delongas nem explicações.
No que se baseia Carlos Vereza para vomitar tanta bile num artigo sem pé nem cabeça? Na vontade do seu partido, o PSDB, de antecipar a campanha eleitoral e atacar a esquerda? Na necessidade de ser mais realista que o rei e, cobrindo de verniz "intelectual", legitimar o discurso expresso nos editoriais do jornal produzido pela empresa que paga o seu salário? Tudo ao mesmo tempo agora, como cantavam os Titãs?
Voltando aos Titãs, na mesma música: uma coisa de cada vez. Ao incluir no breve artigo ataques a todos aqueles que o seu partido (e os seus patrões) enxergam como adversários, que precisam ser deslegitimados, criminalizados ou, no mínimo, achincalhados, Vereza comete erro grave. Não desenvolve argumento algum, jogando no texto um punhado de opiniões preconceituosas e de ofensas distribuídas ao léu.
Por exemplo: de onde Vereza tirou a pérola "a nova UNE, raquítica de ideais"? Definitivamente, não foi a partir da análise concreta dos materiais, discursos e resoluções congressuais da entidade. Se tivesse se dado ao trabalho de visitar o site da UNE, Vereza descobriria, por exemplo, um projeto completo apresentando o modelo de universidade que os estudantes defendem; teria encontrado, por exemplo, um posicionamento claro pela realização da Conferência Nacional de Comunicação - algo que arrepia a espinha dos seus patrões chantagistas, que tentam, em conluio com outras entidades empresariais, atrapalhar ao máximo que a conferência aconteça.
Poucas linhas abaixo, Vereza chama Chávez de psicopata. Psicopata, a rigor, designa toda pessoa que sofre de doença mental, seja neurose ou psicose, ou tem personalidade psicopática. Não me parece que seja este o caso de Chavez. O que será que incomoda Vereza na Venezuela? A gradativa perda de influência política das elites locais e dos partidos venezuelados aliados ao seu?
Vereza ataca a política externa do governo federal, descrita como a pior de todos os tempos. Eu pergunto: Por quê? O que, objetivamente, o Brasil perdeu por conta da alteração de prioridades de relação? É muita vontade de ajoelhar novamente para dizer amém aos interesses dos EUA...
Depois de destilar todo o seu veneno, o pequeno panfleto de Vereza encerra dizendo que a "nova UNE" cumpre a "mais insidiosa das tarefas: manter apática e colonizada culturalmente" a juventude brasileira, que teria "potencial para rever uma prática política cruel e apodrecida". Na opinião de quem, cara pálida? Do bloco PSDB/DEM e das grandes empresas de comunicação do Brasil? Com certeza. Mas convenhamos, caro Vereza: a capacidade dos seus patrões de influenciar a opinião do povo diminui gradativamente a cada ano. A prova deste processo é o desespero da direita, que tem no seu artigo um símbolo, e cuja falta de conteúdo não poderá esconder-se debaixo da imagem de "elite cultural e intelectual" do velho ator tucano-global. A "nova UNE" segue tendo lado na História - e, definitivamente, não é o mesmo lado que você, seus patrões e seu partido desejam.
*Bernardo Cotrim é secretário de assuntos institucionais do PT-RJ ex-diretor da UEE-RJ
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