Artigo de Joaquim Soriano e Juarez Guimarães discute o cenário pré-2010 no Brasil e o caminho que a candidatura do PT deve seguir, com identidade pública socialista e democrática, para conquistar uma importante vitória eleitoral.
por Juarez Guimarães e Joaquim Soriano*
Pesquisa realizada entre 31/08 e 04/09 pela CNT/Sensus informa que 20,8 % dos entrevistados só votam em um candidato apoiado por Lula; 31,4 % podem votar e 24,6%, só conhecendo o candidato. Dados semelhantes a esses são encontrados em outras pesquisas de outros institutos. Isso quer dizer que a possibilidade da eleição de Dilma Roussef como próxima Presidenta da República está ancorada principalmente como representação de um projeto de governo que tem a aprovação da maioria do povo e que deve continuar. Tem a aprovação porque o governo Lula fez escolhas políticas, antes, durante e depois da crise, que conduziram o Brasil para um ciclo virtuoso de crescimento econômico com distribuição de renda.
Durante o governo Lula, o Brasil conheceu uma verdadeira avalanche de mobilidade social para cima. Milhões saíram da pobreza, milhões melhoraram e muito a sua condição de vida. Isso não é fruto só da ampliação estupenda do Bolsa-Família. É principalmente pelo aumento consistente do Salário Mínimo e a ampliação do emprego, pelas políticas públicas de crédito, defesa da Agricultura Familiar, pelos investimentos públicos em infraestrutura.
A possível adesão de diferentes partidos à candidatura Dilma se dá pela força que ela tem. Defendemos a constituição de um bloco de esquerda com PC do B, PSB e PDT como núcleo estratégico do próximo governo. Isso conferiria mais identidade de esquerda à candidatura e contribuiria para formação de alianças nos estados. Essa é a base que defendemos para alterar a correlação de forças institucionais para a esquerda no país e nos estados.
Muito possivelmente, estaremos frente à decisão de incluir o PMDB na chapa presidencial. Uma política de máxima segurança para garantir a vitória não deve desprezar a maioria formal do PMDB apoiando nossa candidata, mesmo sabendo que em vários estados o PMDB é o adversário ou está aliado com o PSDB. Não é desprezível mais tempo de rádio e TV para mostrar o Brasil que mudou, o projeto de futuro, e apresentar a nossa candidata. Essa aliança nacional não deve submeter o nosso partido a constrangimentos regionais para abrir mão de candidaturas competitivas. Faz parte da nossa tática, além de continuar o projeto nacional e ampliar a bancada no Congresso Nacional, conquistar governos estaduais liderados pelo PT e pelo bloco de esquerda.
Consolidação da candidatura Dilma e avanços programáticos
O avanço no programa da candidatura Dilma pode cumprir três funções fundamentais: colocar em ponto morto a estratégia transformista da oposição ao relacioná-la com mais nitidez ao programa neoliberal; afirmar a singularidade e centralidade hegemônica da candidatura Dilma frente a outras pré-candidaturas que se reivindicam do governo Lula e, não menos importante, construir uma identidade pública socialista democrática.
A luta democrática se revela centralmente, na luta pela reforma política (através do financiamento privado, as grandes empresas e bancos disputam com vantagens a representação), na luta aberta e intransigente contra a corrupção sistêmica e na conquista da democracia participativa no plano nacional.
Essa dimensão da revolução democrática, que convoca abertamente todos os movimentos sociais para a disputa, combina-se com a proposta anunciada pelo presidente Lula de enviar ao Congresso Nacional uma Consolidação das Leis Sociais. A candidatura Dilma tem toda a possibilidade de programatizar a distribuição da renda e da riqueza e o fim da miséria no Brasil. A aceleração da expansão do ensino público, um novo patamar dos direitos das mulheres, um decisivo avanço nas políticas para os negros, o aprofundamento da inclusão do Brasil rural com os Territórios da Cidadania, a plena construção do SUS, podem ganhar mais atualidade integrados no programa da revolução democrática.
De forma macro-social, isso significa a integração plena como cidadãos daqueles e daquelas que começaram a ter seus direitos reconhecidos com o Bolsa-Família e outras políticas de inclusão. Nesse quadro, o combate à violência social que hoje dizima milhares de jovens pobres ocupa um lugar central. Uma nova classe trabalhadora de dezenas de milhões, com mais acesso à educação, qualidade e acesso à cultura, reforçará as fileiras do classismo brasileiro.
Esse centro social do programa, assim como o seu eixo democrático, solda as alianças entre os pobres, os trabalhadores e as chamadas “classes médias”. Também reivindica o controle republicano e a reorientação desenvolvimentista do sistema financeiro, a ampliação do emprego com ampliação dos direitos da classe trabalhadora, a agricultura familiar com reforma agrária e a formação de um sistema nacional de inovações com revolução educacional. Contra o liberalismo ecológico, é essa construção da economia com planejamento e condução pelo Estado democratizado que é capaz - e não a lógica mercantil, mesmo regulada - de incorporar e fazer florescer um novo paradigma de defesa do meio-ambiente.
A identidade programática da candidatura Dilma
A imagem pública de Dilma hoje é mais pragmática do que utópica, mais de gestora do que líder política, mais desenvolvimentista do que ecológica, mais candidata mulher do que de mulher candidata. Nenhuma dessas identidades é, no entanto, inerente e definitiva, derivando mais de sua condição e função no governo. Sobre estas identidades parciais é que já trabalha, com violência cotidiana, a mídia oposicionista.
Nenhuma delas, no entanto, explica a força interior, a paixão e a inteligência que levaram a jovem estudante aos cárceres da ditadura, a ser capaz de sair íntegra da experiência da tortura e, numa grande aventura existencial, de ir ao centro do segundo governo Lula. A utopia de Dilma é a utopia de uma geração de socialistas democráticos em comunhão com a emancipação do povo brasileiro. Quanto mais a identidade pública, socialista e democrática de Dilma revelar e expressar a utopia de sua geração, mais ela será abraçada pelo povo brasileiro.
*Membros da Democracia Socialista - DS (Tendência interna do PT) e dirigentes do PT
por Juarez Guimarães e Joaquim Soriano*
Pesquisa realizada entre 31/08 e 04/09 pela CNT/Sensus informa que 20,8 % dos entrevistados só votam em um candidato apoiado por Lula; 31,4 % podem votar e 24,6%, só conhecendo o candidato. Dados semelhantes a esses são encontrados em outras pesquisas de outros institutos. Isso quer dizer que a possibilidade da eleição de Dilma Roussef como próxima Presidenta da República está ancorada principalmente como representação de um projeto de governo que tem a aprovação da maioria do povo e que deve continuar. Tem a aprovação porque o governo Lula fez escolhas políticas, antes, durante e depois da crise, que conduziram o Brasil para um ciclo virtuoso de crescimento econômico com distribuição de renda.
Durante o governo Lula, o Brasil conheceu uma verdadeira avalanche de mobilidade social para cima. Milhões saíram da pobreza, milhões melhoraram e muito a sua condição de vida. Isso não é fruto só da ampliação estupenda do Bolsa-Família. É principalmente pelo aumento consistente do Salário Mínimo e a ampliação do emprego, pelas políticas públicas de crédito, defesa da Agricultura Familiar, pelos investimentos públicos em infraestrutura.
A possível adesão de diferentes partidos à candidatura Dilma se dá pela força que ela tem. Defendemos a constituição de um bloco de esquerda com PC do B, PSB e PDT como núcleo estratégico do próximo governo. Isso conferiria mais identidade de esquerda à candidatura e contribuiria para formação de alianças nos estados. Essa é a base que defendemos para alterar a correlação de forças institucionais para a esquerda no país e nos estados.
Muito possivelmente, estaremos frente à decisão de incluir o PMDB na chapa presidencial. Uma política de máxima segurança para garantir a vitória não deve desprezar a maioria formal do PMDB apoiando nossa candidata, mesmo sabendo que em vários estados o PMDB é o adversário ou está aliado com o PSDB. Não é desprezível mais tempo de rádio e TV para mostrar o Brasil que mudou, o projeto de futuro, e apresentar a nossa candidata. Essa aliança nacional não deve submeter o nosso partido a constrangimentos regionais para abrir mão de candidaturas competitivas. Faz parte da nossa tática, além de continuar o projeto nacional e ampliar a bancada no Congresso Nacional, conquistar governos estaduais liderados pelo PT e pelo bloco de esquerda.
Consolidação da candidatura Dilma e avanços programáticos
O avanço no programa da candidatura Dilma pode cumprir três funções fundamentais: colocar em ponto morto a estratégia transformista da oposição ao relacioná-la com mais nitidez ao programa neoliberal; afirmar a singularidade e centralidade hegemônica da candidatura Dilma frente a outras pré-candidaturas que se reivindicam do governo Lula e, não menos importante, construir uma identidade pública socialista democrática.
A luta democrática se revela centralmente, na luta pela reforma política (através do financiamento privado, as grandes empresas e bancos disputam com vantagens a representação), na luta aberta e intransigente contra a corrupção sistêmica e na conquista da democracia participativa no plano nacional.
Essa dimensão da revolução democrática, que convoca abertamente todos os movimentos sociais para a disputa, combina-se com a proposta anunciada pelo presidente Lula de enviar ao Congresso Nacional uma Consolidação das Leis Sociais. A candidatura Dilma tem toda a possibilidade de programatizar a distribuição da renda e da riqueza e o fim da miséria no Brasil. A aceleração da expansão do ensino público, um novo patamar dos direitos das mulheres, um decisivo avanço nas políticas para os negros, o aprofundamento da inclusão do Brasil rural com os Territórios da Cidadania, a plena construção do SUS, podem ganhar mais atualidade integrados no programa da revolução democrática.
De forma macro-social, isso significa a integração plena como cidadãos daqueles e daquelas que começaram a ter seus direitos reconhecidos com o Bolsa-Família e outras políticas de inclusão. Nesse quadro, o combate à violência social que hoje dizima milhares de jovens pobres ocupa um lugar central. Uma nova classe trabalhadora de dezenas de milhões, com mais acesso à educação, qualidade e acesso à cultura, reforçará as fileiras do classismo brasileiro.
Esse centro social do programa, assim como o seu eixo democrático, solda as alianças entre os pobres, os trabalhadores e as chamadas “classes médias”. Também reivindica o controle republicano e a reorientação desenvolvimentista do sistema financeiro, a ampliação do emprego com ampliação dos direitos da classe trabalhadora, a agricultura familiar com reforma agrária e a formação de um sistema nacional de inovações com revolução educacional. Contra o liberalismo ecológico, é essa construção da economia com planejamento e condução pelo Estado democratizado que é capaz - e não a lógica mercantil, mesmo regulada - de incorporar e fazer florescer um novo paradigma de defesa do meio-ambiente.
A identidade programática da candidatura Dilma
A imagem pública de Dilma hoje é mais pragmática do que utópica, mais de gestora do que líder política, mais desenvolvimentista do que ecológica, mais candidata mulher do que de mulher candidata. Nenhuma dessas identidades é, no entanto, inerente e definitiva, derivando mais de sua condição e função no governo. Sobre estas identidades parciais é que já trabalha, com violência cotidiana, a mídia oposicionista.
Nenhuma delas, no entanto, explica a força interior, a paixão e a inteligência que levaram a jovem estudante aos cárceres da ditadura, a ser capaz de sair íntegra da experiência da tortura e, numa grande aventura existencial, de ir ao centro do segundo governo Lula. A utopia de Dilma é a utopia de uma geração de socialistas democráticos em comunhão com a emancipação do povo brasileiro. Quanto mais a identidade pública, socialista e democrática de Dilma revelar e expressar a utopia de sua geração, mais ela será abraçada pelo povo brasileiro.
*Membros da Democracia Socialista - DS (Tendência interna do PT) e dirigentes do PT
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