
Sua saga da na região de Santo Antonio da Purificação no recôncavo baiano em meados da década de de 1920.
Artigo de Clédisson “Jacaré” Junior*
Após mais de 3 décadas em que a escravidão fora legalmente abolida no Brasil, a condição de vidas dos ex escravos e dos negros nascidos após a ela, não mudara muito. No interior do pais e principamente nas fazendas usineiras da região nordeste as leis ainda eram feitas pelos coroneis e aplicadas pelos jagunços. É a partir deste enredo que temos o pano de fundo para a historia de nosso herói contada no filme de João Daniel Tikhomiroff.
Para alem de ter a capoeira como principal elemento deste filme e este elemento não é de menor importância, também podemos acompanhar a relação “mão de obra escrava versus meios de produção capitalista” sugeridas pelo filme.
Segundo Florestam Fernandes “preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma rede da exploração do homem pelo homem e que o bombardeiro da identidade racial é prelúdio ou o requisito da formação de uma população excedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal pago...” construimos referencias com passagens do filme aonde Besouro em ato de resistencia para dar fim aos desmandos e maus-tratos sofridos, cristaliza sua ação em ataques ao canavial e ao maquinário da usina , por compreender ser o meio de produção o principal motivo da opressão vivida pelo povo negro.
Analisando o filme a partir da obra de Florestam Fernandes “luta de raça e de classes” é exposto a idéia de que o “trabalhador” negro necessita superar ideologias que as classes dominantes do capitalismo criaram. Relaciona-se à idéia de que os negros fazem parte de uma raça inferior, não dotada de razão e civilidade, em relação aos brancos. Sendo assim o negro carrega nas costas o peso de ideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é pouco propenso ao trabalho e de que é “inferior”.
A luta do povo negro é a de desmistificar as razões pelo qual foram escravizados e o porque de sua submissão ao racismo pela elite fundamentalmente branca. Atingir tal nível de compreensão é tarefa revolucionaria para um projeto de nação que queremos e alavancar de vez os niveis de sociabilidade e mobilidade do povo negro.
O escolha por resistir de Besouro, mesmo após a abolição de 1888, nos responsabiliza canalizar em nossas formulaçoes e ações a busca pela abolição “de fato”, que devera partir de baixo para cima ao contrario de que foi a primeira.
O que esta implícito no filme é a relação dicotômica na estrutura da classe trabalhadora brasileira aonde ela é composta não somente pela questão social, mas também pela questão racial, o que concretiza a particularidade da luta de classes no Brasil.
Ao final do filme fica a mensagem de que nós temos com importante tarefa travar uma batalha contra as desigualdades sociais e raciais, quanto também buscar uma unidade de grupo (negros e negras) realmente definido e coeso perante a sociedade. Neste sentido, para que possamos de fato dar continuidade ao ato de resistência de Besouro e avançarmos na luta contra-hegemônica ante ao capital que oprime e descrimina, devemos garantir formação que nos instrumentalize para a luta política-ideológica e que essas sejam ligadas aos rumos teóricos pelos quais a relação raça/classe se desenvolveram.
* Clédisson “Jacaré” Junior é diretor de Combate ao Racismo da UNE e capoeirista.
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