No papel, José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) , o maior partido de oposição do Brasil, deveria ser capaz de vencer a eleição presidencial de 3 de outubro sem suor. Ele teve muitos grandes cargos políticos em uma longa e bem sucedida carreira, inclusive como deputado, senador, ministro do Planejamento e depois da Saúde, e prefeito e agora governador de São Paulo, a maior cidade e o estado mais poderoso do Brasil. Ele está diante de uma neófita política: uma assessora e burocrata que era quase desconhecida há apenas alguns anos, que nunca antes disputou, muito menos venceu, uma eleição.
Em vez disso, o sr. Serra está lutando para se manter na disputa. Pesquisas o colocam de cinco a dez pontos atrás de Dilma Rousseff, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT). O problema não é a apresentação, embora o sr. Serra pareça maçante a não ser quando sorri, quando parece alarmante. A sra. Rousseff não tem nada de carismática e sua fraqueza é oferecer respostas de meia hora para perguntas de uma linha.
O problema do sr. Serra é que a sra. Rousseff é a sucessora escolhida de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Quatro-quintos dos brasileiros aprovam Lula e quase a metade diz que numa eleição presidencial votaria ou nele (se a Constituição não o impedisse de disputar um terceiro mandato consecutivo) ou no candidato dele. Desde que selecionou a sucessora, Lula a tem elevado aos céus (ela é “como Nelson Mandela”) e cruza o país com ela a tiracolo. Agora a maioria dos brasileiros sabe qual é a candidata do Lula — e cada vez mais brasileiros pretendem votar nela.
No dia 5 de agosto, o dia do primeiro debate televisionado entre os candidatos, uma empresa de pesquisas colocou a sra. Roussef com 41,6%, uma vantagem de dez pontos sobre o sr. Serra. Marina Silva do Partido Verde veio em terceiro com 9%. Excluindo as respostas inválidas, a sra. Rousseff está perto de vencer no primeiro turno. Essa pesquisa pode ser fora da média, mas outras dão a ela uma liderança crescente.
A sra. Rousseff parecia nervosa no debate e teve dificuldades para manter suas respostas curtas. O sr. Serra parecia melhor. Mas como o debate aconteceu ao mesmo tempo que uma importante partida de futebol, quase ninguém viu.
Mais preocupante para o sr. Serra, o debate demonstrou as dificuldades que ele vai enfrentar no resto da campanha. Provavelmente com razão, o sr. Serra decidiu que atacar um presidente tão popular quanto Lula não daria a ele muitos votos. Ele discorda da sra. Rousseff em algumas coisas, como a política externa e o papel do estado na economia. Mas ele concorda em outras. Ele foi obrigado a prometer continuidade de alguns dos programas de Lula, como o Bolsa Família, um empréstimo para famílias pobres. Enquanto isso, com a economia em forte crescimento, os brasileiros estão aproveitando a vida: “o fator do bem estar” agora faz parte da língua portuguesa.
Mas a estabilidade vende melhor para os governistas do que para os desafiantes. O slogan do sr. Serra, “Brasil pode mais”, exemplifica a dificuldade. Ele luta para capitalizar seu currículo. Ele é mais conhecido pelo papel que teve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995-2002, os quais, apesar de algumas conquistas sólidas, são relembrados pelos brasileiros sem carinho.
“Para Dilma é simples: persuadir o povo de que ela representa Lula”, diz Rubens Figueiredo, um consultor político de São Paulo. “Mas Serra precisa relembrar as pessoas de que Lula não é o candidato — mas de um jeito que não seja oposição, preferivelmente sem nem mesmo mencionar Lula”.
A liderança da sra. Rousseff ainda não é insuperável. Se o sr. Serra conseguir evitar a vitória dela no primeiro turno, pode ter chance no segundo. E no Brasil sempre há a possibilidade de um escândalo ou de um desastre de campanha.
Mas ainda existem alguns votos que a sra. Rousseff pode conseguir por ser a mulher do Lula. Cerca de 8% dizem a pesquisadores que querem votar no candidato do presidente, mas não citam o nome dela.
Ela em breve terá mais oportunidades para reforçar essa ligação. A partir de 17 de agosto as estações de rádio e TV brasileiras são obrigadas a colocar anúncios políticos gratuitos, com mais tempo para os candidatos cujas alianças tem maior número de assentos no Congresso. Isso significa que a sra. Rousseff terá mais de dez minutos, três vezes por semana; o sr. Serra precisa se arranjar com pouco mais de sete minutos. Essa vantagem pode acabar sendo a decisiva.
*Leia a versão original em inglês (clique aqui)
**Versão traduzida retirado do site VioMundo (clique aqui)
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