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Antonio
Perez (Valor, 17/04/12) afirma que “a vida mansa dos milionários acabou. Pelo
menos quando o tema é investimentos”. Com a taxa Selic em 9% ao ano apesar da
elevada e renitente “inflação de serviços” que atinge mais o bolso dos ricos, a
era do ganho real, isto é, descontada a inflação, fácil das aplicações ligadas
ao CDI está para chegar ao fim. Uma conta simples expõe o drama dos
endinheirados. Com Selic a 9%, um fundo DI com taxa de administração de 0,5%
proporciona em um ano ganho líquido de IR de 6,80%. Levando em conta o IPCA
estimado para os próximos doze meses (5,47%), segundo o boletim Focus, o
investidor ainda teria um ganho real. Mas quando se considera a variação dos
preços de serviços, cuja taxa anual geralmente supera 8%, o poder de compra
acaba corroído pela alta dos preços. O Private Banking sempre teve que buscar
um ganho maior porque estava mais sujeito à inflação de serviços. Com a queda
dos juros, isso se torna mais difícil.
Por Fernando Nogueira da Costa*
Em
outras palavras, a diferença é que agora a inflação de serviços, em alta nos
últimos dois anos, é acompanhada por uma mudança no comportamento do Banco
Central do Brasil, que vem tolerando um IPCA acima do centro da meta (4,5%),
puxado sobretudo pelos preços dos serviços. A Selic praticamente no mesmo nível
da inflação de serviços é uma quebra de paradigma para o Private Banking.
Quem
mais pena com a Selic cadente é o chamado rentista,
aquele investidor que vive apenas dos juros de suas aplicações financeiras. Uma
simulação simples mostra o tamanho do [triste] problema. Um investidor com R$
20 milhões que obtém ganho real de 4% ao ano terá R$ 800 mil para gastar
anualmente. Se essa quantia for suficiente para ele manter seu padrão de vida,
quer dizer, comprar todos os bens e serviços que deseja, tudo bem. Mas se o
investidor gastar mais do que isso, sacando além dos 4% de ganho real,
[coitado] vai ver sua capacidade de consumo minguar ano a ano, já que seus R$
20 milhões podem não ser corrigidos todos os anos pela variação da inflação.
E
se o ganho real desse suposto investidor de R$ 20 milhões e gastos mensais de
R$ 800 mil cair, por conta da redução da Selic, de 4% para 1,5% ao ano,
considerando-se a inflação de serviços e não a média ponderada geral dos
preços? Bem, nesse caso há algumas alternativas. Uma delas é arriscar mais para
tentar manter o ganho real de 4%, abandonando o conforto das aplicações
conservadoras. Outra é não mudar nada e continuar sacando os R$ 800 mil,
aceitando a corrosão do patrimônio, o que pode significar perder milhões no
longo prazo. [snif, snif...] Há também a opção de apertar o cinto e aprender a
viver com menos. [bué, bué, bué!] Em geral, o mais recomendável é uma
combinação da primeira estratégia (arriscar um pouco mais) com a terceira
(diminuir os gastos).
O
investidor tem que tomar cuidado para não ir “abrindo novas fronteiras de
diversificação” e se expor a riscos que, pelo próprio perfil, não é capaz de
suportar. A mudança da carteira pode até ocorrer, mas o principal é se
conscientizar sobre o padrão de vida para proteger o patrimônio. Vivia com R$ 1
milhão por ano, agora vai viver com R$ 800 mil; blindava todos os carros, agora
não vai blindar mais… [Vida difícil, né?]
A
recomendação é que o investidor calcule o ganho real para calibrar os gastos
com base em um índice de inflação que corresponda a, pelo menos, uma vez e meia
o IPCA. Como o índice subiu no ano passado 6,5%, a taxa de inflação do Private
banking em 2011 foi de 9,75%. Se o IPCA subir 5,08% em 2012 (previsão do
boletim Focus), a inflação do Private este ano seria de 7,62%. Quem não prestar
atenção nisso, não vai conseguir nem preservar seu patrimônio. Há clientes que
se lamentam: “Há 20 anos, com o dinheiro que apliquei no início comprava a
empresa do meu concorrente, hoje não compro nem um imóvel”.
Com
a taxa Selic abaixo da inflação dos milionários, o setor de Private Banking tem
que reforçar os serviços de orientação e assessoria patrimonial. O primeiro
passo é apresentar o “novo mundo” dos juros reais menores aos clientes e, a
partir daí, engajá-los em um processo de educação financeira. Esse investidor
do Private sempre foi muito acomodado por conta dos juros altos.
Em
primeiro lugar, o investidor vai ter que abrir mão do vício do curto prazo, da
liquidez imediata, ou seja, da possibilidade de ter o dinheiro acrescido de
juros compostos à mão a qualquer momento. É hora de comprar mais papéis
públicos prefixados e ligados à inflação longos, aceitando a oscilação dos
preços no curto prazo em nome de um juro maior lá na frente.
Entram
no cardápio do Private com mais frequência papéis do crédito privado. E não se
trata apenas das Letras de Crédito
Imobiliário (LCI), que, além da isenção de IR, o que por si já turbina os
ganhos, têm a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para aplicações
até R$ 70 mil. O investidor do Private vai ter que sair realmente da sua zona
de conforto.
As
apostas em crédito privado devem avançar, em um primeiro momento para as
debêntures (papéis de dívidas de empresas) de primeira linha. Há oportunidades
com as chamadas “debêntures de infraestrutura” emitidas por Sociedades de
Propósito Específico (SPEs). Os ganhos com esses papéis, segundo o pacote de
estímulo ao crédito do longo prazo lançado pelo governo, são isentos de IR.
Está aí a modernização dos aeroportos, que pode ser financiada com essas
debêntures.
É
possível elevar o rendimento com operações ligadas ao setor agrícola, como as Cédulas do Produtor Rural (CPRs). Dá
para realizar operações pontuais que fazem a diferença para o resultado da
carteira.
Mas
nem todos veem o aumento da parcela de crédito privado no portfólio como um
caminho natural para o Private. Não é recomendável manter o investidor preso a
um título de dívida privada de longo prazo, dada a dificuldade de avaliar a
capacidade de pagamento de empresas em quatro ou cinco anos. Além disso, é
difícil vender o título no mercado secundário por um bom preço, o que
compromete a rentabilidade.
A
melhor opção de diversificação é a Bolsa de Valores. Mas o investidor deve
esquecer o Ibovespa, sujeito a oscilações agudas no curto prazo, e buscar
fundos mais refinados, que carregam por volta de 15 ações. Usa-se um exemplo
para tentar “educar” os clientes. De 2006 até o fim de março deste ano, período
marcado por anos de grandes altas e baixas anuais da bolsa, o CDI acumulou
variação de mais de 90%, enquanto o Ibovespa subiu menos que 90%. A escolha
óbvia é o CDI, que rende mais e é menos arriscado. Então, mostra-se ao
investidor um grupo de fundos de ações com ganho de 170% nesse período. Aí, ele
percebe que pode ganhar mais na bolsa se souber escolher.
Embora
não veja a queda da Selic como fatal para o bolso dos milionários, acredita-se
no crescimento das chamadas operações estruturadas no Brasil. Por exemplo, em
um fundo com prazo de 18 meses que aposta na variação de uma cesta de moedas
emergentes ante o dólar e o euro, o investidor pode ter um retorno potencial de
até três vezes a valorização da cesta. Se o dólar e o euro subirem, ele tem
garantido o capital que aplicou. São soluções criativas, para diversificar além
da bolsa e dos fundos multimercados, onde o criador da inovação financeira
naturalmente ganha mais e corre menos risco… ‘Tadinho do rico desamparado…
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