Ontem deu início o julgamento no Supremo Tribunal
Federal – STF acerca da ação de inconstitucionalidade impetrada pelo DEM
(Partido Democratas, ex-PFL), contra a política de cotas da UNB (Universidade
de Brasília). Tal decisão pode afetar a política de cotas de outras universidades.
O único a votar foi o relator da ação o ministro Ricardo Lewandowski. Seu voto
foi favorável às cotas. (leia a íntegra do voto aqui)
A ação do DEM tem por motivação, além de seu indelével
caráter elitista e conservador, o falso argumento de que as cotas ferem a constituição
de 1988, na dignidade da pessoa humana (?).
Logo o DEM preocupado com a dignidade da pessoa
humana? O DEM que tem sua origem como ARENA, partido da ditadura. Logo o DEM
que quando surgiu o debate das cotas na UNB sua bancada, em especial o
Demóstenes, afirmou que as relações sexuais entre os senhores de engenho ou de
café e suas escravas tinham o consentimento destas?
Logo o DEM... Tão paladino das liberdades
individuais? (Ironia mode on)
O pior disso tudo é o racismo velado que vem à
tona. Consciente ou inconscientemente.
Por anos nos fizeram acreditar que no Brasil não
existe segregação de cor ou gênero. Mas vamos aqui nos ater a questão de cor.
Tanto é assim que tem muito negro que não se
considera negro. Tanto é assim que as mulheres negras são induzidas a fazer
alisamento nos cabelos, porque cabelo bom é cabelo liso.
Tanto é assim que os negros recebem salários
menores que os brancos.
Tanto é assim que os mais de 15.000 professores das
univ. brasileiras menos de 70 (0,4%) são negros.
Tanto é assim que as salas de aulas dos cursos de medicina (ou de qualquer outro chamado de curso de elite, Direito ou Engenharia) são compostas predominantemente pro pessoas brancas.
Isso num país onde a maioria é negra.
Não, não existe racismo no Brasil. (ironia mode on de novo)
No próprio STF só temos um ministro negro.
Aí vem os defensores da igualde racial plena: “Tem é que ter educação de qualidade pra
todo mundo!”
Como se uma coisa anulasse a outra.
De fato ainda não vivemos num país onde a educação
de qualidade é para todos e todas.
E porque vivemos assim?
Um dos motivos é porque a educação enquanto sistema
organizado de aprendizagem em massa foi coordenado por uma elite branca.
Ou não?
Na assinatura da Lei Áurea, os negros ao serem
libertos, não tiveram condições de se estabelecer dignamente, viver dignamente.
Muito quiseram até voltar à escravidão, porque pelo menos comiam uma vez por
dia.
Olha que situação degradante. A anestesia mental
feita nessas pessoas.
O capitalismo enquanto sistema, que ainda
conquistava sua hegemonia, não deu chances à mão de obra desqualificada. Em muito
por conta do preconceito também. “Onde já
se viu pagar salários a negros” – Algo do tipo era o raciocínio dos
pré-empresários da época.
Surgiram as primeiras favelas do Brasil. Favelas,
aliás, em todo o país, negras.
E por que será?
Será que é porque os negros gostam de morar
precariamente? Será?
Ou será que isso é fruto de uma condição histórica construída
por um Estado branco?
Sobre a educação de qualidade para todos, esta
bandeira está na ordem do dia. Sempre esteve, aliás. Os movimentos sociais de
educação sempre pautaram esse debate.
Mas é justo deixar esperando ainda mais quem nuca
teve acesso à educação superior até que essa condição seja universal?
Aí falam de casos onde se alcançou o acesso à
universidade sem politica de cotas e tal... São exceções que confirmam a regra.
Só um lembrete importante: a política de cotas
do governo federal é de 50% para estudantes oriundos de escolas públicas. Dentro
deste corte se faz, de acordo com dados do IBGE, o corte de cor. Ou seja, a
quantidade de negros por cotas na Bahia não é o mesmo que em Santa Catarina. Mas
de acordo com a lógica da autonomia universitária, cada instituição federal de
ensino pode ou não aderir a politica de cotas do MEC.
Outra fala é de que cotas só aumentam a intolerância
e o racismo. Será?
Aumentam ou só afloram?
De repente ter “um neguinho” na sala de aula ao seu
lado pode te incomodar, não é?
Mas de todos os argumentos contrários o pior é de
que com as cotas é mais fácil passar no vestibular. Mas fácil em relação a quê?
Com as cotas é como se houvessem dois exames para
ingresso na instituição de ensino. Exemplo: num curso que tem 40 vagas na sua
turma inicial, ao invés de todo mundo concorrer as 40 vagas, agora (no caso de
50%) cotistas e não-cotistas concorrem a 20 vagas cada segmento. E caso um
deles não preencha a totalidade das vagas o outo segmento o faz.
Não existem vagas ociosas e sim, existe uma nota mínima para aprovação no
vestibular.
Outra questão importante é que os cotistas tem o
melhores desempenhos acadêmicos nas instituições que adotaram a política de cotas.
Basta conferir nos sites das universidades com este sistema.
Então não vem com essa de que um cotista é menos
capaz.
Menos capaz está sendo a sua capacidade de se
libertar de seu racismo inrrustido.
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