sábado, 23 de junho de 2012

Lugo: "Que o sangue dos justos não se derrame"


Foto: AFP
E aconteceu o que já se anunciava. O mundo viu a concretização de um golpe político, orquestrado por oligarquias, em um país latino-americano: o Paraguai. Dessa vez, ao contrário dos golpes da década de 60, o golpe foi institucionalizado. O Congresso paraguaio, de maioria ligada às elites daquele país que historicamente concentram terras e riquezas, caçou sumariamente o mandato legitimamente eleito de Lugo.

Os golpes agora são assim. Sutis. Com o máximo de institucionalização possível.

Vários países se manifestaram contra o golpe em Lugo, ou como o próprio Lugo disse em seu discurso de saída da presidência: “Quem foi golpeado não foi Fernando Lugo, foi a democracia paraguaia”.

Apenas o EUA, de forma envergonhada, apoiaram o golpe. Pedindo “respeito aos princípios democráticos” do Paraguai.

Chefes de Estado do mundo inteiro estivam no Rio de Janeiro participando da Rio+20 e Hilarry Clinton, chefe de Estado dos EUA, chegou apenas ontem, dia do golpe.

Coincidência?

Foi como se quisesse ver de perto o melhor ofício de seu país: golpes de Estado.

Os anos 60 nunca passaram.


Apenas se sofisticaram.

A História ta aí para provar o que digo e o tempo vai dizer o tamanho da participação estadunidense no golpe do Paraguai. O segundo, PIS lá também teve ditadura e lá também foi apoiada pelos EUA.

E também foi com o apoio do mesmo partido da ditadura, o Partido Colorado.

O partido de Franco, que assumiu no lugar de Lugo, também está no poder a décadas.

O motivo "oficial" do impeachment de Lugo, foi a morte de 17 pessoas num conflito agrário. O latifúndio é um problema seular no Paraguai, assim como no Brasil. Até latifundiário brasieiro tem por lá.

Se impcheacharam Lugo por causa de 17 pessoas mortas num conflito por terra, FHC deveria ter ido à forca por conta do massacre de Eldorado dos Carajás.

São da elite paraguaia.

Um parêntese para uma brincadeira: foi só eu quem achou Franco igualzinho ao Kiko da “Turma do Chaves”?

Enfim, só nos resta agora, como disse acima, resistir. Não me espantaria se uma nova onda de golpes se instalasse nos países latino-americanos.

A participação do Paraguai no Mercosul precisa ser debatida. Existe uma clausula democrática no acordo que cria o bloco.

A América Latina continua com seu viés de resistência a mil. É o que cabe pra nós. Ontem nós e o mundo vimos a importância da luta por nossa autonomia e real liberdade. Vimos também como nossa elite não perdoa e (novamente) vimos como a grande imprensa regojisa-se na sanha golpista das elites latino-americanas.

Apesar de já saber o perfil da Globo, não consigo me acostumar com o golpismo. Na Globo News, durante a transmissão da saída de Lugo e da posse de Franco, a “jornalista” Leilane “sei lá o quê” insistia em chamar a posse de ranço em transição democrática.

A Globo uma vez golpista, sempre golpista.

Disso tudo temos uma certeza: ser latino-americano e não lutar é uma contradição histórica.

Viva o povo paraguaio!

Viva o povo latino-americano!


Abaixo leia a íntegra do discurso de Fernando Lugo ao deixar a presidência do Paraguai

Boa noite.

Muito obrigado por vocês se interessarem pela mensagem deste cidadão paraguaio.

Hoje não é Fernando Lugo que recebe um golpe. Hoje não é Fernando Lugo que é destituído. É a história paraguaia, sua democracia, que foi ferida profundamente. Foram transgredidas todos os princípios da defesa, de maneira covarde, de maneira traiçoeira, e espero que seus executores tenham em conta a gravidade de seus feitos.

Como sempre atuei no marco da lei, embora essa lei tenha sido torcida como um frágil ramo ao vento, me submeto à decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre por meus atos como ex-mandatário nacional.

Aos concidadãos e concidadãs: que não se negue o direito a manifestar sua opinião - e faço um chamado a que qualquer manifestação seja pacífica. Que o sangue dos justos não se derrame nunca mais por causa de interesses mesquinhos em nosso país.

Quase quatro anos depois de exercer a presidência da República do Paraguai, hoje me despeço como presidente da República. Mas não me despeço como cidadão paraguaio, e hei de servir a esta nação onde necessitem, como na área rural.

Fernando Lugo não responde a classes políticas, nem à máfia, nem ao narcotráfico. Este cidadão respondeu e seguirá respondendo ontem, agora e sempre ao chamado dos compatriotas, dos mais humildes e excluídos - e dos que, gozando de bom viver e inclusos da abundância, sabem que temos um dever de solidariedade por nossa pátria, por nossa história.

Depois de quase quatro anos, este cidadão paraguaio quer agradecer profundamente a todos os paraguaios e paraguaias que puseram seu ombro, seu tempo, seu valor para consolidar esta democracia que se vive neste país.

Em primeiro lugar, aos companheiros e companheiras colaboradores deste governo. Não quero esquecer das forças militares, dos comandantes, dos oficiais, da força pública, de todos. Aos movimentos sociais, aos campesinos, indígenas, líderes, homens e mulheres que sustentaram e vão continuar sustentando este país.

Não quero deixar de agradecer, sinceramente, aos companheiros da imprensa. Independentemente de compartilhar ideias, projetos, estamos consolidando a democracia da história paraguaia.

Nesta noite saio pela maior porta da pátria, pela porta do coração de meus compatriotas. Aos companheiros, companheiras, cidadãos, cidadãs, que hoje estão nas praças, nos caminhos, nos assentamentos, nas campinas, nas cidades, nos sindicatos. Aos paraguaios e paraguaias de bom coração que sonham com um Paraguai diferente, simplesmente lhes digo que sempre podem seguir contando com Fernando Lugo.

Muito obrigado a todos e a todas por seu apoio, e muita força, muita força, muita força. Viva o Paraguai!

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