"O julgamento do século": Um jogo de cartas marcadas?
O que
esperar de um julgamento que não pode ter outro resultado aceitável,
a não ser a condenação dos réus, não obstante a falta de provas
que os incrimine?
*
Por Kid Jansen de Alencar Moreira
Se você
estivesse preste a enfrentar um Tribunal cujos juízes se deixassem
pressionar por um poder paralelo que demonstra uma enorme capacidade
de influenciar as decisões de seus julgadores, a ponto de inverter a
pauta de julgamento desse tribunal apenas para atender a um clamor
midiático em nome de posições políticos/ideológicas bem
definidas e a esse clamor chama de opinião pública.
Muito
embora a verdadeira opinião pública já tenha dado um veredito de
absolvição naquilo que poderia fazê-lo, aos réus que deveriam
enfrentar um julgamento técnico, quando chamada a emitir um juízo
de valor por meio do voto, mas irão se confrontar com um novo
julgamento político, numa casa que se supunha a guardiã da
constituição? Como você se sentiria? Imagino bastante desalentado.
E se os
crimes de que você é acusado se originassem de um esquema que já
tinha sido usado anteriormente pelo mesmo financiador, apenas com
personagens diferentes, os quais também são réus de um processo
semelhante ao seu que se encontra no mesmo tribunal e é muito mais
antigo, devendo portanto ter entrado na pauta de julgamento primeiro
mas a ele não foi dada a mesma dimensão porque o poder paralelo que
se arvora em fiscal da lei, função que a constituição não lhe
atribui, age com forte pressão sobre os juízes que irão julgar
você, determinou sua culpa e por isso deve ser julgado com grande
estardalhaço e os réus do outro processo não, uma vez que eles
defendem as posições políticas dos que querem sua condenação
conseguindo que a corte que fará seu julgamento se vergue a
pressões, confiaria numa sentença isenta, livre de pré-julgamentos?
Acredito que não.
E se
aquele que é acusado de ter sido o chefe da quadrilha, ainda que não
faça parte do rol dos denunciados, seja imposta a mordaça, não se
lhe permitindo que proteste, que grite contra as pressões que jogam
sobre os juízes que determinarão que você ficará preso ou em
liberdade, não se contenha e acuse a farsa, se levante contra a
armação, imediatamente passe a sofrer da falsa acusação de querer
"melar" o julgamento.
Quando
está somente no legítimo direito de fazer o contraponto, de tentar
se sobrepor as pressões, de frear o movimento de condenação
antecipada, diga que os crimes atribuídos aos réus são imputações
desprovidas de provas, único a ter voz ouvida entre todos que
desejam que você seja condenado, sofra também da parte do
acusador-mor, o Procurador Geral da República e de um de seus
juízes, ministro do STF, a vil acusação de querer influir nas
decisões do tribunal para adiar seu julgamento ou levá-lo a
prescrição, quando a cada minuto quem está agindo assim é
exatamente aqueles que fazem campanha para que você seja trancafiado
numa prisão.
O fazendo
pelo piores motivos, o primeiro porque não deu curso a uma
investigação federal vindo a ser acusado de prevaricar e o segundo
por ter sobre a cabeça a suspeita de haver manchado a reputação
num esquema criminoso e os demais juízes que deveriam guardar o
decoro do cargo se submetem a tais argumentos e de afogadilho marcam
o dia e a hora de seu julgamento para dá azo a vaidade de um dos
juízes que irá julgá-lo e quer entrar para história do tribunal
que preside como o ministro que julgou o processo a que você está
arrolado como réu contra todo o bom senso que deveria prevalecer em
tais situações porque vai aposentar-se, acreditaria que seus
julgadores lhe dariam um julgamento justo? Dificilmente!
Pois um
julgamento assim está em curso com todos os personagens acima
descritos. A mídia que faz as vezes de poder paralelo conseguiu
dobrar os juízes do processo, os ministros do STF que capitularam
ante as pressões da "opinião publicada" na grande
imprensa tida como opinião pública.
Os
ministros do STF que dizem ser imunes a pressões, avocando a
vitaliciedade do cargo como demonstração de sua capacidade de não
deixar-se influenciar-se por pressões externas, não conseguem
explicar porque o mensalão denunciado por Roberto Jefferson está
com data marcada e o mensalão mineiro precursor do mensalão que vai
a julgamento em agosto não entrou na pauta de julgamento do supremo,
se a denúncia deste mensalão mineiro é cinco anos mais antiga do
que o "mensalão" do governo Lula.
Não é
possível acreditar num julgamento isento com todos os fatos que
estão postos na mesa. Procurador que deixou de cumprir com a
investidura de seu múnus no caso da operação Vegas, ao ser
cobrado, liga as cobranças ao julgamento do mensalão.
Ministro
do STF que pegou carona num avião fretado por um criminoso diz ter
sido pressionado pelo ex-presidente a usar de sua influência para
adiar o julgamento do mensalão em troca de uma suposta blindagem
numa CPMI aberta pelo congresso. Mídia que pressiona juízes a
marcar uma data para um julgamento cujo processo é semelhante ipsis
litteris a um outro, o mensalão mineiro, e não há a mesma
cobrança.
Ministro
que é pressionado a declarar-se suspeito porque foi Advogado Geral
da União do governo que estará sob julgamento e ministro que a
mídia insiste em desconhecer suspeição embora tenha sido Advogado
Geral da União do governo anterior que é o principal interessado na
condenação dos réus do processo do mensalão. Presidente da corte
que irá julgar o processo do mensalão e vai aposentar-se e quer
entrar para a história do tribunal como presidente que colocou em
pauta o julgamento do mensalão.
Ex-presidente
tido e havido como o chefe da quadrilha que não está em julgamento,
mas é sistematicamente impedido de manifestar-se como cidadão sobre
os rumos do processo, enquanto quem o acusa usa de um grande meio de
comunicação social para fazer pressão sobre o STF. Tudo isto
posto, o resultado não pode ser outro que não a condenação.
*Retirado
do Portal Luis Nassif On Line – clique aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário