Mar de
lama. Esse sempre foi o recurso usado pelas elites brasileiras para
tentar frear os avanços de forças progressistas no país. Em
recente conversa com o professor da UFAL, Amundson Portela,
ex-militante da Ação Popular – AP, organização que combateu a
ditadura militar no Brasil, o uso dessa tática foi relembrada.
As
conversas com o professor Amundson são sempre muito ricas. Ele tem
uma memória e um conhecimento da História do Brasil invejáveis.
Lembrou
que quando do suicido de Getúlio Vargas, o discurso recorrente das
elites era o mar de lama. A “grande imprensa” da época ecoava
isso aos quatro cantos. Mesmo com todas as contradições de Getúlio,
não dá pra não dizer de sua influência no país e sua importância
para a conquista de direitos dos trabalhadores até hoje defendidos.
Amundson
também lembrou de JK, que como ele mesmo disse, não era lá nada
demais, mas tinha uma visão desenvolvimentista, coisa que as elites
da época odiavam. Também sobre ele incidiu-se o discurso do mar de
lama.
Por conta
desse discurso Udenista (UDN – partido político de extrema
direita), que já tinha provocado o suicídio de Vargas, turbulências
no governo JK, o Brasil acabou elegendo Jânio Quadros ou como disse
o professor, “um maluco com uma vassoura na mão”. O uso da
vassoura era parte do discurso de Jânio, simbolizava que ele
varreria a corrupção do país. À época presidente e vice eram
votados separadamente. O vice era João Goulart, que também tinha
sido o vice de JK.
Nem Jânio
aguentou a pressão das elites conservadoras e renunciou. Anos mais
tarde, confessou que o fizera na expectativa que o povo o
reconduzisse e assim ele conseguiria se livrar das pressões.
Realmente,
era um maluco de vassoura na mão.
João
Goulart assume, e com ideias como as reformas de base logo lhe cai o
discurso do mar de lama, acrescido do querer instalar uma república
sindicalista.
O
resultado foi golpe militar de 64.
Essa é a
tática das elites brasileiras desde sempre no Brasil. E à medida
que o veículos de comunicação foram se tornando verdadeiramente de
massas, piorou.
Esse
discurso se dá de forma mais sutil ou explícita. Depende do momento
e de quem o faz.
Assim
como as técnicas de comunicação se aperfeiçoaram, o discurso do
mar de lama também.
De 2003
pra cá, anos em que o PT está a frente do governo federal, o
discurso do mar de lama é de fazer inveja a Carlos Lacerda,
principal expoente da antiga UDN no Brasil.
As
política de desenvolvimento com inclusão social, ampliação da
democracia, inclusive com maior divisão dos recurso de publicidade
estatal através de um maior número de veículos de comunicação.
Até 2002 eram apenas 499 os veículos que recebiam verba de
publicidade, hoje mais de 4000.
Por mais
que a Globo ainda seja quem mais receba, a autoproclamada grande
imprensa, hoje, recebe bem menos. Mesmo, como foi publicado
recentemente, recebendo uma fatia demasiada grande e os “blogueiros
sujos”, migalhas. O que desconstrói a tese de militância virtual
paga feita pelo Partido da Imprensa Golpista – PIG.
Se a
forma do discurso do mar de lama sofisticou-se junto com a
comunicação no Brasil, o mesmo não dá pra dizer sobre a relação
de poder da imprensa hoje. Continua a mesma coisa. Manda fazer e
desfazer. Ninguém quer aparecer em uma matéria ruim ou lhe ter
algum “carimbo” negativo imposto por ela na testa.
Mas a
Veja tem perdido a linha de forma descomunal. Perdeu a vergonha
mesmo. Como já disse outras vezes, é apenas uma coisa feita em
papel couché.
Veja
divulgou em capa – e suas capas são a marca registrada da revista
– uma entrevista com Marcos Valério, o “banco” do suposto
“mensalão” do PT e do PSDB. Claro que a entrevista é sobre o do
PT e para incriminar Lula. Ainda mais com o julgamento do processo
de 50 mil páginas sem provas acontecendo no STF.
A própria
revista confirmou – dentro, no texto – que a entrevista foi feita
com pessoas próximas a Valério e não com o próprio. Numa confusão
inigualável, Veja, após o desmentido de Valério através de seu
advogado, afirmou ter a fita da entrevista com Marcos Valério.
Mas ela
mesma confirmou na revista que não entrevistou Valério. Pense numa
publicação de palavra.
Ricardo
Noblat logo assumiu o papel que melhor cumpre no momento que é o de
defender as indefensáveis posturas da grande imprensa. Mas até ele
em alguns momentos sucumbiu à verdade e chegou a cobrar em seu
perfil no twitter a divulgação da fita de Veja.
Essa fita
é que nem pé de cobra, quem vê, morre.
Na
verdade, se houve alguma entrevista, essa foi com alguém que disse
alguma coisa sobre não se sabe quem que teria dito sabe-se lá o
quê.
Tudo isso
para golpear Lula. Impedi-lo de disputar eleições futuras. O PSDB,
o DEM e o PPS já disseram que vão cobrar investigações sobre Lula
e que ele deveria desmentir a entrevista que não existiu.
É como
desmentir a existência de Papai Noel.
Junta-se
a isso a eminente derrota de Serra em São Paulo, a máscara de Veja
caída com suas relações com o bicheiro Cachoeira escancaradas e a
direita sem nome e sem agenda para o país, o que sobra?
O
discurso do mar de lama. Tudo isso agora é pra tentar condenar Lula,
em primeira instância mesmo. Assim cairia na Lei da Ficha Limpa.
Essa é a
tese golpista.
Vê se
pode. Sérgio Guerra, anão do orçamento no governo Collor é ficha
limpa. Essa Lei é mais perfumaria do que aparenta, mas esse é outro
debate.
Como a
direita está aos frangalhos e o julgamento do suposto “mensalão”
no STF só interessa a uma esmagadora minoria do povo, vão, por
sobrevivência, para o tudo ou nada.
Sempre no
discurso do mar da lama.
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