quinta-feira, 21 de março de 2013

Classe média sofre: servilismo em xeque



Foi aprovada em primeira instância a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que regulariza a profissão de empregada/o domestica/o (PEC 66/2012). Agora também terão os mesmos direitos que qualquer profissional de qualquer área. Fica proibido o não pagamento de horas extras, INSS, FGTS, 13º salário e férias. Isso é um “chute no peito” de nossa classe média tradicional.

Mesmo assim apenas 27% dos trabalhadores domésticos têm carteira assinada - cerca de dois milhões dos mais de sete milhões do país, segundo a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad). Noventa e três por cento desse contingente é de mulheres.

A cultura do servilismo ainda é existente no Brasil. É visível a prática de senzala em apartamentos e casas. A dependência completa de empregada (DCE) é a sua versão moderna. São quarto pequenos, geralmente com janelas também pequenas ou de frente para o nada e sem ventilação. Ficam obviamente na “ÁREA DE SERVIÇO”.

Outra característica do servilismo é o fato de que muitas domésticas dormem nas casas em quê trabalham. Nesse caso, não existe hora de descanso. A qualquer tempo, por qualquer motivo, ela está ali pronta para atender as necessidades e vontades dos patrões. É ou não igual aos tempos da “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre?

Ainda é possível encontrar gente que afirma que – geralmente quando tem muito tempo de serviço – a profissional é como se fosse da família. Nada mais dominador. Essas profissionais estão em todos os momentos festivos, mas nunca participam deles como membros da família. Por vezes até ganham algum tipo de presente e até são levadas a restaurantes, mas quando não comem comida em separado, estão ali apenas para ficarem à disposição dos patrões. Qual a diferença – exceto características temporais – das mucamas?

As mucamas eram as escravas que vivam dentro da casa grande. Elas tinham alguns privilégios em relação aos escravos da senzala, como três refeições diárias e estavam sempre à disposição para todas (todas, todas mesmo!) as necessidades e vontades dos amos. Era natural haver algum sentimento de afinidade, mas nem de longe faziam parte da família que a possuía. Apesar de fatalmente alguns donos de escravos afirmarem que elas “eram parte da família”.

Tanto que eram as mucamas que cuidavam dos filhos dos Senhores, inclusive sendo ama de leite. Ainda hoje se vê babás passeando com bebês para que as mães façam outra coisa. Claro que hoje as mulheres em geral possuem outras ocupações, mas não é raro vermos o uso de babás para que as mães vão aos shoppings ou salões de beleza. Uma família que vai a um restaurante e leva uma babá para cuidar do filho enquanto comem é ou não manutenção da prática servilista dos tempos das mucamas? Não dá para cuidar de um filho no restaurante? Precisa de babá para isso?

Tanto ainda se mantem essa lógica que no Rio de Janeiro existe uma agência de “baby-sitters de luxo” e segundo Taluana Adjunto, sua dona, há quem escolha a babá pelos mesmos métodos que se escolhiam os escravos nas feiras, pelos dentes. Ela também diz orientar suas babás para que tenham pouco contato mais carinhoso com as crianças. “Pedimos para não beijar as crianças no rosto, porque as clientes odiavam, sentiam nojo.” Essa reportagem foi publicada na edição 732 de CartaCapital e seu texto foi reproduzido na íntegra aqui.

Agora com a aprovação da PEC que eleva a condição das empregadas domésticas à de profissional e não serviçais tem muita gente reclamando que “estão cheias de direito”. Enquanto nossa “grande imprensa” se preocupa em mostrar “os custos” para os empregadores e não a conquista de cidadania para as empregadas. Está aí mais um assunto para os salões de belezas das áreas nobres das cidades. Como sofre a nossa classe média!

4 comentários:

Rita Candeu disse...

sofrem e choram e reclamam

hoje li um comentário no blog do Sakamoto de um homem que se dizia classe média e bem sucedido, reclamando por pertencer a "única classe" sem direito a leis especiais e "quotas" srsrsrs

morro de dó dessa sofrida classe rsrssr

Unknown disse...

CADU ontem vi o FDP presidente do sindicato das empregadas domesticas,o infame falando que havera desemprego...o cara de pau quer mais que o Governo assuma os direito trabalhistas .fiquei indiguinada...

Anônimo disse...

Excelente. Mais um resquício da cultura escravocrata brasileira é vencida, só espero que haja uma fiscalização sobre isso e que punam quem insistir em tratar as pessoas como se fossem coisas.

Que nenhuma empregada doméstica precise atrelar sua sobrevivência a uma família dessa para poder sobreviver.






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Helder

Jesus Divino Barbosa de souza disse...

Cadu,

Quando tiver um tempo e quisaer rir um pouco da classe média leia: Classe Media Way Of Life

http://classemediawayoflife.blogspot.com.br/