No
último 1° de abril completou-se 49 anos do golpe civil-militar que instaurou uma
ditadura de 21 anos no país. Recentemente, tivemos algumas comprovações de “paranoias”
da esquerda. A influência decisiva dos Estados Unidos no golpe bem explicitado
no documentário “O Dia que Durou 21 Anos”, do diretor Camilo Tavares, que estreou
no país na última sexta-feira. Outra é o estado de ditadura permanente que se
mantém a nossa “grande imprensa”.
Criada
a partir da intenção dos governos ditatoriais de criar uma sociedade de massas,
mas mantendo o controle ideológico das informações circulantes no país, toda a
estrutura de nossa mídia foi construída a partir do poderio estatal dessa
época. Com raras discordâncias pontuais com o governo, “grande imprensa” se
tornou o que ela é hoje: um conglomerado que, na democracia, detém não somente
poder econômico, mas político.
A
construção dos meios de comunicação de massa dos governos civis-militares se
deu sob a ótica da concentração. Em troca os veículos garantiam que os valores
defendidos pelo golpe de 64 fortalecessem sua hegemonia. Não que fosse um sacrifício
para os donos desses veículos de comunicação pautar tais posicionamentos, mas
por vezes deveria ser incomodo receber ordens diretas de militares.
A
concentração dos meios de comunicação no Brasil é a manutenção da lógica
ditatorial ainda se fazendo valer no Brasil. Seria cômico se não fosse trágico,
mas é essa mesma turma que foi de suma importância para o êxito do golpe por 21
anos que agora fala em censura sempre que se questiona essa estrutura.
No
livro, “As Duas Guerras de Vlado Herzog”, de Audálio Dantas, o autor é textual
ao afirmar que toda a “grande imprensa” apoiou o golpe militar. “O jornal O Estado de S. Paulo [...] um dos
jornais mais importantes do país e que, como os demais da grande imprensa,
havia apoiado o movimento que culminou com o golpe militar de 1964”. (pág. 97,
1ª edição).
Não
é a toa que os valores da organização de extrema direita Tradição, Família e
propriedade (TFP) ainda têm muita força no país. De forma explícita ou implícita,
nossa “grande mídia” a reproduz com fervor. Exceto quando a explicitação desses
valores entra em confronto com os lucros dessas empresas. Entre esses valores
está o moralismo seletivo, sempre tão presente nos editorias e entranhado nas
notícias e reportagens da “grande imprensa”.
Um
bom exemplo foi dado pelo senador Roberto Requião (PMDB/PR). Em discurso no
Senado ele demonstrou mais um episódio dessa seletividade, usando a Folha de S.
Paulo como exemplo. Como ele bem lembrou, a nossa mídia nativa, ataca o
ex-presidente Lula porque empreiteiras estariam patrocinando suas viagens ao
exterior, mas em nada diz sobre o fato de o banco Itaú e a estatal paulista
Sabesp patrocinarem viagens de Fernando Henrique Cardoso. E como afirmou
Requião “Fernando Henrique viaja para falar mal do país”. Clique
aqui e assista a íntegra do discurso
Sem
falar no número de pessoas presas e torturadas nos porões da ditadura. Se antes
se achava que apenas militantes de esquerda eram presos e torturados, após a instalação
da Comissão Nacional da Verdade já se sabe que só de indígenas esse número
passa dos mil.
Mesmo
sendo de fundamental importância para o Brasil que saibamos que eram os
torturadores e de onde vinham as ordens para as ações desumanas, se não
mudarmos também estruturas criadas a partir do golpe de 1964, pouca coisa
avançará do ponto de vista do fortalecimento da democracia em nosso país. Os
aparelhos ideológicos do Estado (escolas, faculdades, igrejas, imprensa) ainda
reproduzem, em boa medida – se não integralmente, os valores dos setores do
golpe.
3 comentários:
Parabéns pelo belo texto! Nossa estrutura midiática caminha a passos lentos. Penso eu que, a duras penas, chegaremos um dia a liberdade plena, sem que tenhamos que servir a determinados setores do País.
Jamais esquecerei este dia,estávamos no dentista , em Fortaleza Meu pai meus dois irmão e eu com meus 8 anos .De repente tanque do Exercito Policia montada a cavalo gente a perder de vista .Meu pensamento era uma guerra ??? .meu pai nos sentou no banquinho da praça distante do frege ,la se vai ele se juntar ao coro da multidão e gritar com muita força “ABAIXO A DITADURA E VIVA A DEMOCRACIA....no fim do dia fomos para nossa casa a pé sorrindo achando que aquilo era uma brincadeirinha de nosso querido pai .dentro dos seus 84 anos milita no PC do B ..comunista de Carteir
que linda história Rebeca me emocionei aqui
que belo texto Cadu - temos que falar muito sobre esse assunto e sobre os efeitos que ainda sofremos dessa tão malfadada época
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