quarta-feira, 29 de maio de 2013

Precisamos sair do atraso


Charge de Ênio Lins publicada no Jornal Gazeta de Alagoas - 29/05/2013




Alagoas é o estado nordestino com o pior indicador de miserabilidade. De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), mecanismo criado pelo governo federal para medir a pobreza no Brasil e que leva em conta fatores como condições habitacionais, vulnerabilidade familiar, acesso ao conhecimento e ao trabalho e, desenvolvimento infantil.

O estado também está abaixo da média nacional, conforme os números que servem como medida. Enquanto o país tem média 0,61, Alagoas registra 0,58. O melhor estado nordestino é o Ceará com 0,62. Em vulnerabilidade familiar Alagoas empata com o restante do país em 0,73. E acesso ao conhecimento Alagoas tem 0,33 e o Brasil 0,37. A cada estudo sobre a miséria no país Alagoas encontra na ponta de baixo da tabela.

Sempre lanterninha, a terra de Zumbi dos Palmares não consegue superar tais mazelas. A principal delas é a concentração de terra e riqueza. A economia alagoana é centrada no latifúndio da cana-de-açúcar. Desde antes de Alagoas ser estado. A percepção de mundo dos senhores de engenho impera, inclusive, nos valores medianos de sua população, do mesmo jeito que os valores neoliberais impregnam boa parte do planeta. Aqui, com uma pitada de açúcar.

Nos últimos anos essa lógica se agravou. Hoje os senhores de engenho voltaram a unificar o poder político com o econômico. O governador é usineiro; o presidente da Assembleia Legislativa é usineiro e; o Judiciário está cheio de usineiros e prepostos. Portanto, assim como no século XVIII, vale para o restante da população a servil relação com o principal setor da economia alagoana. É como se todos que não são originários das usinas fossem seus empregados.

Os boias-frias, nome pejorativo dado para os cortadores de cana, vivem em uma relação com seus patrões similares aos dos tempos do Brasil Império. Se paga, para se ter uma ideia, R$ 3,00 por tonelada cortada. E como fatores objetivos determinam os subjetivos, boa parte da população alagoana se comporta como, ou boia-fria ou como satélite da aristocracia açucareira.

Em resumo: ou você é peão e vai viver no “assando e comendo” ou vive no sonho de um dia se tornar um deles (usineiros). Não que necessariamente as pessoas desejem adquirir usinas ao seu patrimônio, mas levar o mesmo estilo de vida. Quem questiona essa lógica ou é tachado de radical ou atrasado.

Se não existissem os programas sociais do governo federal, seria possível afirmar que ir a Alagoas é o mesmo que voltar no tempo. Se bem que os índices de violência também são os maiores do país e um dos maiores do planeta. Mata-se mais aqui do que em guerras. O que se morre nos corredores dos hospitais também não está no gibi. E o Estado, ao invés de promover política que combatam a causa dos problemas, prefere se armar. Quem é que está mesmo com postura atrasada?

Um comentário:

TANIA ORSI VARGAS disse...


E eu que me considero relativamente bem informada sobre Brasil, estou pasma com o que li neste artigo. Mas a partir daí pode-se entender como é que o país ainda tem um pé bem plantado no coronelismo e isso se reflete diretamente no cenário político, ondea os interesses particulares conseguem facilmente se impor. O nosso inimigo maior ainda está aqui dentro do país, são os que querem somente o poder a qualquer custo, ainda que abrindo as porteiras para que sejamos sempre e cada vez mais, colônia e quintal de uma voracidade preigosa que se agiganta no planeta.