O
Brasil é hoje uma dos países mais influentes do mundo. Estamos na Organização
Mundial do Comércio (OMC) e na Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO – sigla em inglês). Temos uma das maiores economias, com forte
mercado interno e com cada vez mais peso internacionalmente.
Dentro
dos marcos do capitalismo, estamos com pleno emprego e, também diante dessa
ótica, nossa democracia é tida como sólida e exemplar. (apesar de esse debate
ser mais complexo do que isso!)
Somos
exemplo para o restante do mundo em redução das desigualdades, sob todos os
aspectos. Em suma, somos os que muitos gostariam de ser – mesmo países centrais
na geopolítica mundial.
Mas
então por que estamos tão atrasados em nossos valores? No Brasil, ainda
debatemos se pessoas podem ou não ter os mesmos direitos civis se se
relacionarem com o mesmo sexo, ou mesmo as empregadas domésticas que, apesar da
recente PEC, ainda se discutem como “viabilizar” sua implementação. Sempre sob
a ótica do patrão.
Como
se alguém tivesse que se submeter a condições de trabalho que não queira. Não há
ninguém que reclame da PEC das domésticas que aceitaria trabalhar nas condições
em que elas trabalhavam antes da emenda constitucional.
Mesmo
com todos esses avanços ainda há pessoas que reproduzem preconceitos de toda ordem.
Seja contra nordestinos ou contra negros ou contra mulheres ou seja lá o que
for que esteja fora do padrão branco, hetero, masculino e “nobre” das elites
brasileiras.
Se
o tema são as cotas, fala-se em meritocracia. Como se meritocracia não fosse
uma ilusão. Como cobrar o mesmo rendimento escolar – no caso – entre duas
pessoas com condições de vida totalmente distintas.
Um
vai à escola de carro; o outro, de ônibus – não incomum se pega duas ou mais
conduções, pelo menos nas grandes cidades. Um mora em um bairro onde se pode
dormir sossegadamente; o outro precisa chegar em casa cedo por causa do toque de
recolher. Um dorme de oito a dez horas por dia; o outro quando dorme cinco é
por causa do feriado.
Um
não trabalha, seus pais pagam seus estudos; o outro trabalha o dia todo e
estuda a noite ou estuda pela manhã e trabalha o restante do dia. Um se
alimenta corretamente. Faz pelo menos três refeições; o outro mal come um pão
seco na correria para pegar o transporte público que se ele perder, não chega ao
trabalho.
Como
utilizar a meritocracia para escolher entre um e outro? Em um exame onde um
está descansado, bem alimentado e tranquilo e o outro está cansado, faminto e
tenso.
Ainda
estamos tão atrasados que debater o gozo alheio é tema polêmico e pode decidir
até eleições. Se não fosse assim, relações homo afetivas não seriam nem pauta. Em
lugar algum, em mídia alguma.
Ainda
somos tão atrasados que os negros à marginalidade. A maioria dos negros no
Brasil é pobres, fruto da barbárie cometida por anos a fio no país. Essa linha
de pensamento é resquício dos tempos da escravatura. “negro é subgente”. Tem muita
família branca das coberturas de orla marítima que não permite que seus filhos
de olhos azuis se relacionem com pessoas negras. Não é à toa o ódio ao Programa
Bolsa Família.
No
fundo, no fundo o pensamento é assim: eles que se virem ou dar dinheiro a essa
gente preguiçosa. E isso com uma negra lhe servindo o café da manhã.
Sem
contar que as pessoas não podem ter conquistas, lutar por direitas ou melhores
condições de vida se não comerem, vestirem ou morarem. Sem essas condições
básicas, a exploração se torna ainda mais fácil. Ainda somos atrasados em
diversas questões por que nossa classe dominante é atrasada. Cada sociedade
reproduz os valores da classe dominante e a classe dominada segue na mesma
lógica. O velho Marx tinha razão.
4 comentários:
Desculpe-me se não entendi o 5º parágrafo:!""Como se alguém tivesse que se submeter a condições de trabalho que não queira."" Na minha humilde opinião, uma das ilusões que a sociedade cria é o de trabalhar no que quer. Existe até ditado popular tipo "não trabalho no que gosto mas amo o que faço". Milhares de pessoas estudam para uma coisa e fazem concurso para fazer outra coisa. Problemas regionais, do sujeito ficar preso a horários e lugares para honrar seus compromissos com filhos ou parentes dependentes. A ignorância, a falta de capacitação técnica, a acomodação diante dos problemas da vida prendem milhares, ou milhões de pessoas, a empregos e, por consequência, a condições inerentes ao trabalho. Nem falei no pior, na tal condição de escravos. Se entendi do jeito que entendi esta sentença é uma contradição dentro do texto.
É comum ver pessoas reclamando que empregadas domésticas estariam "cheias de direito". O que afirmei foi que todos que falam coisas do tipo jamais acietariam trabalhar nas condições que querem que elas (domésticas), por exemplo, aceitem
Que um banqueiro defenda a política neoliberal (menos empregos e mais juros) é natural. Ele está defendendo a si mesmo. O que é chocante é ver os comentários de internautas no UOL, Terra, IG, etc, defendendo o neoliberalismo. Simplesmente estão indo contra si mesmos.
Esses comentaristas aí citados do Uol, IG, Terra, não pensam, são de direita!
E quanto ao atraso do Brasil, não devemos esquecer que temos só 200 anos de existência, considerando que somente após a vinda de João é que começamos a "virar" gente e mesmo assim com uma eterna classe dominante no nosso calo perpetuando esses podres valores que passaram pelo século XIX e ainda hoje estão aí fazendo a cabeça. Provavelmente as gerações que virão, renovadas com essas mudanças todas é que criarão um novo parâmetro de modernidade.
Graças a Deus, a Terra gira, o tempo passa e tudo se renova! Devagar... mas renova, senão....
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