Estive
ontem no ato do passe livre (?) em Maceió. A concentração marcada para a Praça
Centenário, no bairro do Farol, reuniu mais de 10 mil pessoas e seguiu em
direção ao Centro. De lá seguiram para a orla da cidade, mas nesse momento eu
não mais estava no ato. Quero deixar claro que mesmo discordando de alguns dos
cartazes ali levantados, defendo o direito das pessoas se manifestarem.
O
direito à manifestação foi conseguido nesse país a duras penas. Do fim da
ditadura até os dias de hoje, 28 anos, é o período democrático mais longo da
história do Brasil. Nossa frágil democracia existe, em boa parte por causa dos
partidos políticos. O direito de poder se filiar a um ou não é um valor
importantíssimo em um regime que se diz democrático.
No
ato em Maceió, como, segundo relatos, em outras cidades, um pequeno, mas
barulhento e agressivo grupo parte para a intimidação física para TOMAR as
bandeiras. Não apenas de partido, mas de qualquer organização da sociedade
civil. Postura similar no país, só nas marchas da Tradição, Família e
Propriedade (TFP), que ajudaram a criar o clima de insatisfação do “povo” para
a instauração do golpe de 1964.
Dentre
os cartazes e falas durante a caminhada se podia ver diversas disparidades como
“A PEC 37 é autoria do PT” ou “a Dilma é culpada pelos aumentos das passagens
do transporte público”. A PEC 37 é de autoria de um parlamentar do PTdoB e sua
relatoria de um parlamentar do PSDB, mas aqui não entro no mérito do seu texto.
Aumento de passagem é atribuição das prefeituras e em alguns locais ou, no caso
de São Paulo os trens e metrô, dos governos estaduais.
Duas pautas
unificam
boa parte dessas pessoas que saem às ruas em Maceió: contra partido e contra
corrupção. Contra corruptores na há nada; quase nada pedindo reforma política
ou agrária. E, me parece, não é coincidência a similaridade dos atos desses
dias com os da década de 1960. Não que todos que ali estavam, por vezes
repetindo tais palavras de ordem, desejem a volta da ditadura civil-militar,
mas reproduz essa política mesmo sem saber ou mesmo negando a política.
Também
cabe deixar claro que havia muita gente se manifestando contra os partidos, mas
defenderam o direito de levantar a bandeira de um durante a caminhada.
Essa
negação também era parte do discurso da TFP. “isso aqui é manifestação social e
não política”. Como se existisse qualquer manifestação que não seja política.
Outra característica da manifestação aqui e segundo me disseram pessoas do Rio
de Janeiro, por exemplo, boa parte dos mais agressivos é jovem de periferia.
Em
boa medida usando máscaras, eles soltavam bombas, fizeram “bombas relógio” com
cigarros e deixaram em passagem de pessoas entre as plantas na Praça
Centenário. Quase todos mascarados, escondendo o rosto. Seja com máscaras de
oxigênio ou de pintura e, um número excessivamente grande do personagem V do
filme hollywoodiano baseado em um gibi, V de Vingança. O que mostra a
imaturidade foram de comportamento baseado nos conflitos do Oriente Médio, lá
se usa bandana por questões climáticas e culturais e usar uma máscara que viram
em um filme.
Aliás, todo um
“movimento”
é baseado nesse filme. O Anonymous é um conjunto de crackers que invadem sites
na internet e gravam mensagens em vídeos no Youtube. O anonimato é a arma dos
covardes e esse movimento não é diferente. Usa da vontade de mudanças de jovens
espalhados por aí para que esse realizem seus desejos e se algo der errado, não
foi ninguém. “Somos anônimos”.
Após
o ato de ontem, me encontrei com alguns amigos que também participaram do
evento. Contaram-me que vários assaltos aconteceram dentro do ato. Uma dessas
pessoas quase foi assaltada também. Por sorte, o dono de uma padaria localizada
no percurso a avisou e seu namorado chegou.
O sentimento de
insatisfação
de parte da população deve ser levado em conta. Deve ser debatido pelos poderes
constituídos e sim, pelos partidos políticos. Mas não se pode tirar da grande
mídia a responsabilidade por certas posturas. Criminalização da política;
moralismo e individualismo doentio são alguns de seus valores passados
diuturnamente e, qualquer semelhança com os movimentos do “povo” que antecederam
ao golpe de 1964 não são mera coincidência.
Àquela
altura tínhamos no país um presidente de caráter trabalhista. Que propôs as
reformas de base e foi para a linha de frente da ação política para torná-las
realidade. Com uma postura menos agressiva, mas os governos Lula e Dilma
mexeram alguns interesses nunca antes incomodados. Assim como os governos Lula
/ Dilma não são iguais ao de João Goulart, essas manifestações também não
iguais às da década de 1960. São semelhantes.
Negam tudo o que veio
antes. Está tudo banhado em um “mar de lama”. E outras coisas do gênero. Se duvida,
procure na internet os editorias dos jornalões de 1° e 2 de abril de 1964 ou
dos meses que antecederam o golpe civil-militar. Nada onde há intolerância pode
ser chamado de “lindo”. Ate o Movimento Passe Livre (MPL) que iniciou todos
essas atos em São Paulo saiu da manifestação por conta das posturas fascistas
que estavam acontecendo. Fica aqui a dica para caso alguém que esteja extasiado
com o ato de ontem para saber que tudo isso pode dar em algo que,
provavelmente, você não quer.
8 comentários:
Cadu, não sei em Maceió, mas em São Paulo não foi um pequeno grupo. Foi um grupo muito bem organizador, que ganhou apoio de gente da rua, e pregava abertamente o fim dos partidos e derrubada do governo constitucionalmente eleito.
Meu depoimento sobre o ato na Paulista (escrito em 20/06, por volta das 20h30)
Fascistas, Fascistas! Não Passarão!!! - Acabo de voltar da passeata na Av. Paulista, convocada pela direção nacional do PT. Éramos não mais de 200 militantes.
Quando cheguei à concentração, na Av. Angélica, vi que talvez não conseguíssemos caminhar nem 100 metros... O ódio dos que estavam na Paulista e que ocupam as ruas há dias era total. Mas esse ódio não era direcionado apenas ao PT. Era contra qualquer bandeira, qualquer movimento social organizado. A CUT estava presente. O Movimento Passe Livre. E a UNE também.
Durante a passeata, várias bandeiras foram atacadas, rasgadas e queimadas sob gritos de "Fora PT, vai tomar no cu!", "o povo acordou", "oportunistas" e, last but not least, "mensaleiros"!!!
Desde o início, foi necessário formar um cordão humano para "proteger" o final da passeata. Às vezes, formava-se um cordão também na lateral.
Os ataques acompanharam toda a passeata. Fomos vaiados na maior parte do tempo (por milhares, milhares de manifestantes). O silêncio só veio quando cantamos um trecho do hino nacional. Também gritávamos: "Sem violência", "Democracia", "Vem pra rua, vem contra a tarifa", "olha que loucura, contra partido, parece ditadura" e "R$ 3 não dá, contra a tarifa, é passe livre já".
Durante o trajeto, tentaram invadir a passeata, ameaçaram, provocaram, partindo para a agressão, xingando o tempo todo. Foi tenso. Deu um medo danado.
Um dos gritos que se expandia com muita facilidade, espalhando-se pela Paulista, era: "O povo unido não precisa de partido". Enquanto gritavam, as pessoas, que ocupavam as laterais da avenida, colocavam os braços para cima, em gesto típico do nazismo/fascismo.
Seguimos até o Masp. Não sei nem dizer como conseguimos. Nessa hora, os gritos de "abaixa a bandeira" tornaram-se cada vez mais fortes. E os ataques também. Chutes e ameaças, de um grupo de "carecas" e fortões, que seguiu a passeata durante todo o trajeto, tornavam a cena totalmente assustadora.
Na altura da estação Trianon-Masp fomos cercados. A passeata tornou-se, praticamente, um cordão humano, de um lado e de outro. Começaram a jogar rojões em cima da gente e bolas de papel com fogo.
Nessa hora, correram avisos para que a gente guardasse as bandeiras. Eu, por exemplo, estava empunhando uma bandeira da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (acho que era isso) e desfilei o tempo todo enrolada numa bandeira do PT. Alguém pegou a bandeira da UEE e outro me avisou para tirar a bandeira do PT e guardar na mochila (para evitar linchamento e coisas do tipo, caso a passeata se dispersasse).
Para vocês terem uma ideia, eu estava compondo o segundo cordão no fim da passeata. Não foi nada fácil.
Nesse momento surgiu o grito: "Fascistas, Fascistas, Não Passarão!!".
O grito foi entoado em uníssono, com muita força. Embora o momento não fosse propício, cheguei a rir quando uma moça, que estava atrás de mim, soltou: "gente, não adianta gritar isso, eles não sabem o que é, vão achar que é só provocação e, ao que parece, somos minoria!!".
E éramos. Depois de alguns minutos, abaixamos as bandeiras, a passeata foi invadida. Dispersamos.
Voltei para casa, com a bandeira na mochila, pensando. Pensando muito. Lembrei do Allende.
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/20/xad-na-paulista-se-lembrou-do-allende/
li chorando
é isso mesmo
e nem sei onde isso tudo pode nos levar
já se fala de cancelamento da Copa
já pensou o prejuízo?
O PT, que foi o grande condutor da redemocratização do Brasil, ao assumir espaços de poder significativos acabou desdenhando o papel dos movimentos sociais e nem sequer tomou conhecimento das redes sociais. O povo que inconscientemente se manifesta contra a corrupção e contra os partidos precisaria ter tido acesso a uma bandeira histórica do PT, proposta desde nosso 3º Congresso Nacional, já durante o Governo Lula: Constituinte Exclusiva e Soberana para fazer a Reforma Política. Se o PT, os petistas e os militantes dos movimentos sociais estivessem orientados para fazer este debate, não consigo mesmo e os seus, mas justamente com estes outros, que conversam na Redes Sociais, não teríamos chegado a isto. Agora só resta retomar a ação militante e tentar evitar que este país, no melhor momento de sua história, ande para trás.Outro dia escrevi um artigo no meu Blog sobre a manifestação "pela família tradicional", realizado em Brasília, e eu terminei o artigo assim: Acorda PT. http://luizmullerpt.wordpress.com/2013/06/05/a-reedicao-da-marcha-da-familia-com-deus-pela-liberdade-foi-em-brasilia/
Parabéns pela coragem,mas como ex-Secretario de Comunicação,dos PT-Rio,te confesso que previ esta hostilidade
Há vários sites que divulgam dia e noite memes negativo e mentiroso do PT Dilma,Lula e outros. eles chegam no face e o pessoal comecam a compartilhar. Tenho uma irmä, que tomou um ódio täo grande da Dilma e do PT por causa destes memes. Säo com fotos trabalhada e os texto escrito em letras bem coloridas, em verde/vermelho/branco, coisa bem para chamar a atencäo. Acho que chegou a hora da ABIN entrar nisso. Chegar até esses nazista/fascistas e prende-lo.Na quarta feira, o meu face estava cheios de memes era um após outro só negativo e agressivos sobre os políticos Dilma/Lula e PT. Precisei sair da página e voltei sómente hoje. Como a passeata em Campinas teve quebradeira, hoje eles estäo com o rabo entre as pernas, ninguem comenta, estäo deprimídos (bem feito). Gente, alguem tem que pedir à Dilma para que a ABin tome essa providencia. Um sindicalista que é do PSOL, foi candidato ano passado a prefeito de Campinas e recebeu uns 200 votos, está aparecendo em toda, parecendo o salvador da pátria. Pedi voto para ele, mas na próxima eleicäo será definitivamente esquecido por mim. Pelo contrário farei campanha contra, pois na minha opniäo, ele tá sendo irresponsável, vendo como está violento esse movimento, näo desiste, e quer tirar proveito eleitoral.
Aqui em SP não foram apenas algumas pessoas, foi um grupo bem organizado e diversificado, desde de tucanos à paisana com o tal "contra corrupção", até ultra-direita, neo-nazi que agrediam quem pertencia a algum partido ou vestia vermelho e criminosos simplesmente. Também havia um grande grupo de gente que estava ali só pela 'festa', conteúdo zero, tirando e filmando pra postar para os amigos nas redes sociais
De MPL sobrou pouco...
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Helder
Desde a saída do MPL, no dia 21, quem está “liderando” as trocentas páginas do MOVIMENTO DA DEMOCRACIA SEM PARTIDO no Facebook é o Anonymous. Imagina ser liderado por "alguém" que pede transparência em tudo e não mostra a própria cara?
Demorei pra entender o que estava acontecendo, mas, no dia 20, encontrei Jesus!! (kkkkk!!!).
Tive que me jogar na Paulista, enrolada na bandeira do PT e, por conta disso quase ser linchada (junto com os outros integrantes da pequena passeata), pra entender que o ideário desses protestos é FASCISTA.
Por mais que o MPL tenha se declarado de esquerda, eles incentivaram a criação dessa massa amorfa de gente porque queriam engrossar as manifestações pela redução da tarifa. No dia 20, na Paulista, eles viram o monstro que ajudaram a criar. Foram xingados, ameaçados e avacalhados junto com os partidos e demais movimentos sociais organizados de esquerda.
É FASCISMO. O movimento foi "abduzido" pela extrema direita.
E, para vocês não acharem que eu foi acometida por algum tipo de paranóia, segue lista de vinte comunidades do facebook que convocam o ato da extrema direita para o dia 10 de julho. Sem partido? Not!
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=538407982884717&id=149047141820805
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