Alagoas é o segundo
menor estado da Federação e suas relações econômicas, políticas e sociais se
mantém semelhantes as do século XVIII. Tudo em Alagoas gira em torno da cultura
da cana-de-açúcar. Não à toa que é comum os discursos dos governantes locais de
promoção da industrialização. Se o ditado popular diz que se precisa combinar
com os russos, em terras Caetés se precisa combinar com os usineiros (nome
moderno para senhores de engenho).
O professor do
curso de Economia da Universidade Federal de Alagoas, Fábio Guedes, escreveu um
artigo onde desmonta a propaganda oficial de “boom” na industrialização do
estado. Na verdade, Guedes vem escrevendo uma série de artigos sobre o tema.
O economista mostra
bem a relação da produção de cana na economia alagoana. Como Alagoas é
dependente de esse setor. E não precisa ser doutor em economia para saber que a
dependência de um único setor econômico torna a economia de qualquer que seja o
local mais frágil. No caso de Alagoas, pior. Por que não só as relações são as
mesmas do século XVIII, como a mentalidade empresarial dos usineiros alagoanos.
Os
Descaminhos da "Industrialização" Alagoana
Por Fábio Guedes
Gomes*
Na
série de cinco artigos publicados nesse espaço, defendemos o argumento que a
economia alagoana não enfrenta um surto industrial, ou como queiram, uma
“explosão” industrialista. Muito pelo contrário, a vinda de algumas poucas
indústrias não caracteriza um fenômeno intenso, provocando a diversificação do
parque fabril, com forte expansão do emprego formal. Por isso sugiro a leitura
dos demais textos, em sequência, para não se fazer uma avaliação parcial,
equivocada ou tosca das análises.
Apresentamos
o desempenho da geração de empregos formais na indústria de transformação em
comparação com outros estados do Nordeste. Observou-se que entre 2007 e 2012, o
estoque de empregos industriais no estado cresceu apenas 0,13%, bem diferente
da realidade nordestina, que apresentou uma expansão de 20,1%. Os dados mais
recentes divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, na terça-feira
[21/01], aponta um decréscimo no emprego industrial de 8,6%, entre 2007 e 2013!
Alguns
fatores são responsáveis por esse medíocre e grave resultado no período.
Pode-se elencar, entre outros: (1) a reestruturação tecnológica, com o emprego
de novas máquinas de colheita no setor sucroalcooleiro; (2) a estiagem que
afetou a plantação de cana; (3) a desaceleração do ritmo de exportações de
açúcar; (4) a significativa diminuição da produção de biocombustíveis, em
especial o etanol; e, (5) os problemas de gestão e financeiros que passam
alguns grupos empresariais nesse setor. Somente para se ter uma ideia, entre
2011 e 2013 destruíram-se mais de 12,9 mil postos de trabalho, principalmente
no complexo sucroalcooleiro, sem expectativa de reversão desse movimento nos
próximos anos.
Soma-se
aqueles elementos o resultado pífio, o rastejante crescimento do emprego formal
em outras áreas industriais. Comemora-se no estado a instalação de novas
fábricas e, para minha obtusa perplexidade, fala-se em 100 novas unidades
industriais gerando 100 mil empregos, diretos e indiretos. Se esses números
fossem reais, estaríamos não somente compensando a perda de empregos na
indústria sucroalcooleira e em outras áreas, mas, talvez, alcançando um saldo
favorável espetacular no estoque total de assalariados.
Mas,
para aumentar nossa incredulidade na religiosa mensagem e propaganda oficial,
os dados sobre o emprego, entre outros já utilizados nessa sequência de
artigos, não permitem que sejamos tão crentes assim no sucesso da política de
desenvolvimento estadual. Muito pelo contrário, os resultados de nossas
análises nos trazem para a realidade estrutural, e não para o caminho da
pregação panfletária e ideológica.
O
Ministério do Trabalho e Emprego disponibiliza o estoque de empregos formais
total em todos os setores econômicos, e para todos os estados, até 2013. Ainda
não estão disponíveis os dados desagregados por subsetores econômicos. Para
analisar a estrutura do emprego formal na indústria alagoana, tivemos que
recorrer ao banco de dados do IBGE, conhecido pelos especialistas pela sigla
SIDRA. São 23 subsetores industriais e destacamos aqueles que apresentam mais
de 1% de participação do total da força de trabalho assalariada no setor. Com
isso chegamos alguns resultados interessantes.
Conforme
o leitor pode observar no quadro abaixo, o setor produtor de gêneros
alimentícios continua sendo o maior empregador na indústria do estado,
alcançando quase 84% do total, em 2011, com destaque para a fabricação e refino
de açúcar [78%]. As usinas de açúcar aumentaram a participação na geração de
empregos formais entre 2007 e 2011, principalmente em virtude do excepcional momento
para as exportações do produto, nos anos de 2010 e 2011, conforme discutimos no
artigo intitulado Aparências e Evidências, o primeiro da série [para conferir clique aqui]. Por sua vez, o subsetor produtor de outros produtos
alimentícios diminuiu sua participação de 1,8% para 1,6%, significando,
portanto desemprego nessa área. Com os novos dados Divulgados pelo Ministério
do Trabalho e Emprego, com certeza a participação da Indústria açucareira
diminuiu sensivelmente.
A
produção de biocombustíveis, principalmente o etanol, já chegou a representar
15,4% da geração de empregos do estado, em 2007. Caiu 11,4 pontos percentuais
(p.p.) em 2011, alcançando 4% do total, em 2012. Em termos absolutos, isso
significou uma redução de aproximadamente 13.000 empregos formais nesse
subsetor, no período.
Com
exceção da indústria de produtos metálicos [exceto máquinas e equipamentos],
que praticamente ficou estagnada na geração de empregos [1,2% contra 1%], os
demais ampliaram a participação entre 2007 e 2012. Destacaram-se as indústrias
de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, muito
influenciada pelas usinas de açúcar, [aumento de 0,6 p.p.] e de material
plástico, influenciada pela consolidação da cadeia de químico-plástico [aumento
de 0,7 p.p].
Importa
notar que os empregos perdidos na indústria química foram, praticamente,
compensados pela ampliação de vagas na indústria de plásticos, conforme indica
o gráfico abaixo.
Nos
demais 17 subsetores da indústria alagoana a evolução do percentual de
participação no emprego total assalariado foi praticamente nulo, passando de
4,4%, em 2007, para 4,6%, em 2012.
Desse
sumário levantamento, considerando, ainda, as análises realizadas nos artigos
anteriores, podemos tecer as seguintes considerações:
1)
O setor usineiro continua sendo, majoritariamente, o maior empregador
industrial em Alagoas. Entretanto, o momento de reestruturação tecnológica por
que passa, os problemas na produção e comercialização internacional e o fechamento
de unidades fabris, trarão sérios problemas ao mercado de trabalho local;
2)
O forte desemprego no subsetor produtor de biocombustíveis em Alagoas, piorou,
sensivelmente, os resultados do mercado de trabalho e contribuiu para a tímida
evolução da indústria alagoana, do ponto de vista da expansão da oferta de
vagas de trabalhos formais;
3)
Observa-se na indústria de transformação alagoana uma velocidade incrível de
destruição de empregos em alguns subsetores importantes do estado [Complexo
sucroalcooleiro e indústria têxtil), ao tempo que é muito lento e insuficiente
o aumento de postos de trabalhos em outros subsetores;
4)
A expansão da cadeia químico-plástico, por sua natureza intensiva em capital,
apresenta limites à criação de empregos.
Pode-se
afirmar, sem receios de incorrer em equívocos, que se não fosse a expansão da
economia pelo lado do comércio, serviços e construção civil, fenômeno também
observado em todo o Nordeste [vale a pena repetir novamente], em virtude das
políticas econômicas, de expansão do mercado interno, e sociais, através dos
Programas do Governo Federal, a situação econômica do estado de Alagoas seria
ainda mais dramática, dependesse do desempenho industrial nos últimos anos.
Vale salientar que a construção civil já começou apresentar desaceleração na
geração de empregos entre 2012 e 2013, acusando a perda de pouco mais de mil
postos de trabalho
Outro
importante aspecto que tem contribuído para minimizar a situação dramática de
geração de empregos na indústria alagoana, é o investimento realizado no Porto
de Maceió. Por decisão do Governo Federal, instalou-se naquele local uma
empresa de engenharia com a responsabilidade de montar quatro plataformas para
a indústria petrolífera, com perspectiva de ampliação para mais duas. Com um
investimento de cerca de 1,5 bilhão de reais, esse empreendimento, no auge de
sua operação, gerará cerca de 2.500 empregos, diretos e indiretos. Entretanto,
essa operação teve data para começar e finalizar suas atividades no estado no
curto prazo.
Infelizmente,
a ampliação da planta industrial da Braskem, em meados de 2012, com um
investimento anunciado de 1,1 bilhão de reais, não provocou forte impacto na
geração de empregos. A planta é automatizada, criando poucos postos de trabalho
[cerca de 200], com impactos marginais do ponto de vista do estoque total de
empregos no estado.
Concluindo,
se tivéssemos 100 novas indústrias instaladas em Alagoas entre 2007 e 2013, o
quadro do emprego não seria esse analisado e em noutros artigos já publicados
nesse espaço.
Temos
realmente uma situação estrutural muito difícil no tocante a geração de emprego
e renda em nossa indústria. As escolhas de política de desenvolvimento
industrial, nos últimos anos, foram muito tímidas e lenientes em fazerem a
leitura do que estava acontecendo no Nordeste e diagnosticar nossa real
situação estrutural. Não foi muito bem calculado como a região estava se
inserindo no rol dos grandes investimentos nas indústrias de base [metalúrgica
e petroquímica) e transportes, infraestrutura e logística. Isso diminuiu nossas
possibilidades de intergração inter-regional do ponto de vista dos
investimentos e efeitos de encadeamento industriais.
Infelizmente, o
indivíduo otimista em Alagoas quanto à propaganda industrialista, não passa de
um pessimista mal informado. A culpa realmente não é dele.
Um comentário:
BOM AS OPORTUNIDADES PARA O ALAGOANO MUDAR ISSO ESTAO AI EM OUTUBRO DE 2014 TIRAR O GOVERNADOR QUE ´[E INIMIGO DO POVO E DA PRESIDENTE E ELEGER UM GOVERNADOR DO PT PARA MUDAR A ESTRUTURA DO ESTADO.E ALAVANCAR O PROGRESSO NA REGIAO.
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