Foto: Marco Antônio/Secom - Maceió |
Foi
criada em Maceió nas avenidas Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro – são duas,
mas formam uma linha reta – a chamada Faixa Azul para uso exclusivo de veículos
para transporte público: ônibus e complementares.
Logo
chiadeira começou por parte de usuários de veículos particulares que reclamavam
da perda de uma faixa para circularem nessas avenidas. Ao mesmo tempo, também
chiaram os taxistas e, em seguida, os donos de transporte escolar privado.
A
prefeitura de Maceió já autorizou o trânsito de taxistas na Faixa Azul e os
proprietários de vans para transporte escolar privado aguardam decisão do executivo
municipal à sua demanda.
Nem
bem começou uma das ações mais importantes e necessárias para melhorar o
deslocamento de pessoas na capital alagoana e já temos um recuo que pode desencadear
o fim da finalidade inicial da Faixa Azul: maior mobilidade do transporte
público.
Táxi
não é transporte público. É um serviço particular prestado como outro qualquer.
O veículo é de propriedade privada. Pode ser vendido como qualquer outro
automóvel, desde que a licença para atuação como táxi seja transferida para o
outro veículo em nome do taxista.
Conforme
a determinação da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) de
Maceió, os táxis somente poderão circular na Faixa Azul se estiverem com
passageiros.
Se
os taxistas querem ser considerado como transporte público que o Artigo 100 da Lei Orgânica do Município de Maceió (Constituição Municipal) também seja aplicado a
eles.
Diz
o caput do Artigo que “Os serviços de
transportes coletivos têm caráter essencial, podendo ser prestados diretamente
pela administração, ou ainda, feitos executar mediante permissão, na forma do
que estabelecer a lei”.
Diz
no parágrafo 3° que “Assegurar-se-á
gratuidade nos transportes coletivos urbanos, exclusivamente na forma do que
dispuser a lei:
I - aos portadores
de deficiência;
II - aos maiores de
sessenta (60) anos que percebam até dois salários mínimos;
III - aos
pracinhas;
IV - aos militares
em serviço;
V - aos carteiros,
quando em serviço;”
E
no parágrafo 4º que “Aos estudantes será
garantida redução em cinquenta por cento (50%) nas tarifas em transportes
coletivos urbanos”.
E desde quando táxis
e transporte escolar privado são de caráter essencial? Essencial é transporte
coletivo bom, rápido e barato.
É
bem provável que os taxistas estejam perdendo clientes. Afinal, para quê pegar
um táxi em uma dessas avenidas, pagar entre 15 e vinte reais – pelo menos –, se
o ônibus custa R$ 2,50 (o que não é pouco como tarifa de transporte coletivo em Maceió) e
gastar quase o mesmo tempo, senão menos, na viagem?
Como
também não é transporte público van de transporte escolar. Isso também é um
serviço privado. Pago por pouca gente que pode custear esse tipo de serviço
para levar e trazer seus filhos das escolas. Se a permissão lhes for concedida,
é pior até que a situação dos taxistas. Esses ainda têm a desculpa de
transportar passageiros que embarcam a desembarcam em qualquer ponto da cidade.
As vans de transporte escolar, não.
Transporte
escolar é um serviço previamente acordado, pago por boa parte dos clientes,
mensalmente. O carro vai buscar o estudante em sua residência e o deixa na
porta da escola e depois faz o trajeto inverso.
Tente
dar a mão para uma van dessa no meio da rua para usá-lo como transporte para
ver o que acontece. A maior probabilidade é que o motorista ou pense que você é
louco ou erga o dedo médio para você.
Os
transportes complementares de passageiros são regulamentados pela Agência
Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (ARSAL) do governo
estadual e, salvo engano, não há nenhuma gratuidade, contemplada pelo Estado. Mas
deveriam ter! Pelo menos para estudantes e idosos.
E
se a moda pega, logo os serviços de entrega em domicílio exigirão a permissão
para trafegar na ex-faixa exclusiva de transporte público. Pois precisam
entregar a mercadoria com “mais rapidez”. Em seguida, antes até, será a vez dos
moto-taxisitas.
E
como cara de pau não tem limite, logo as pessoas que dão carona a colegas de
trabalho ou de faculdade também vão requerer a permissão de trafegar na Faixa
Azul. Sim, estão fazendo um serviço público ao tirar mais três ou quatro
veículos das ruas. E ainda ajudam na despoluição do ar.
Em
pouco tempo, se isso continuar, a Faixa Azul será apenas uma pincelada de tinta
“cor do céu” no chão das avenidas Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro. E
quem mais precisa de do serviço público de transporte – trabalhadores e
trabalhadores eu moram longe do centro da cidade, que acordam de madrugada para
chegar a seu local de trabalho – que “deixem de ser preguiçosos, trabalhem e
comprem um carro!”.
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