Renan, Lula e Renan Filho, futuro ministro dos Transportes (Foto: Ricardo Stuckert) |
O anúncio de Renan Filho (MDB) como ministro dos Transportes de Lula (PT), feito no dia 29 de dezembro em Brasília, é mais uma amostra da força que Alagoas tem no cenário político nacional. E isso é ainda mais dimensionado se se levar em conta o fato de que a terra de Zumbi dos Palmares é o segundo menor estado do país.
Aliás, Zumbi também em seu tempo, marcou a vida política brasileira em sua luta no Quilombo dos Palmares, algo lembrado até os dias atuais.
Em praticamente todos os momentos da construção do Brasil, para o bem ou para o mal, um alagoano esteve presente. Só para um registro rápido, os dois primeiros presidente do Brasil foram de Alagoas: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Ninguém pode negar a importância de Teotonio Vilela, o “Menestrel das Alagoas”, na luta pela redemocratização. Tampouco não se pode se esquecer do operário Manoel Fiel Filho, natural de Quebrangulo no interior de Alagoas, e assassinado pela ditadura civil-militar-midiática de 1964 pelo DOI-CODI em 1976, acusado de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Sua morte abalou significativamente a estrutura da ditadura e gerou o afastamento do general Ednardo D'Ávila Mello.
A União Nacional do Estudantes (UNE) – que tive a oportunidade de ser diretor entre 2007 e 2009 – teve como primeiro presidente após sua reconstrução o alagoano Aldo Rebelo. O irmão de Aldo, Apolínário, chegou a presidir a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
Na primeira eleição direta no Brasil, após o fim da ditadura, em 1989, Fernando Collor – carioca de nascimento, mas criado e saído da política alagoana, foi eleito presidente da República.
Desde então, a presença de alagoanos em postos-chave da República passou a ser constante. Em especial, com a presença do senador Renan Calheiros (MDB), pai do futuro ministro Renan Filho, que governou Alagoas entre 2015 e 2022. No governo FHC, Teotonio Vilela Filho presidia nacionalmente o PSDB e Renan Calheiros foi ministro da Justiça.
Durante o primeiro governo Lula, houve um momento que as principais lideranças políticas no Congresso Nacional, seja na base ou oposição, eram de Alagoas. No Senado, Renan Calheiros presidia a Casa. Na Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo presidiu e Thomaz Nonô – então do PFL – liderava a oposição.
Renan Calheiros nunca mais saiu do centro da política nacional desde o governo Collor e mais recentemente outro alagoano figura como peça-chave da República, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP).
Independente da opinião sobre a atuação dos personagens que citei, não se pode negar a influência política destes no Brasil.
Durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado – que foi golpe, ressalte-se! –, Renan Calheiros articulou para que a ex-presidenta não perdesse seus direitos políticos. Algo que marcou a relação entre o parlamentar alagoano e Lula e o PT. O próprio Lula ressaltou isso em entrevista que me concedeu em 2017, quando esteve em Maceió com sua caravana (FIM DO TEXTO)
Agora, Renan Filho assumirá um ministério, logo após ser eleito senador e deixar o Governo de Alagoas. Em grande medida, isso se deve à influência do pai, especialmente junto a Lula.
Para a eleição deste ano, Renan Calheiros defendeu desde o início que o MDB ou apoiasse Lula ou liberasse o partido. Com isso, ele conseguiu aglutinar em torno da campanha do petista boa parte dos líderes da legenda.
Mas o que faz Alagoas produzir quadros políticos com tamanha capacidade ao ponto de saírem de um estado praticamente irrelevante do ponto de vista eleitoral? Cabe lembrar que Alagoas só possui cerca de 1,5% dos eleitores do Brasil.
Talvez o histórico político local, baseado sempre na articulação e acordos políticos e no entendimento da direção à qual o vento sopra. Durante a luta de Pernambuco para se ver livre de Portugal, A comarca de Alagoas – pertencente a Pernambuco e composta por cerca de 25 famílias ligadas ao engenho de açúcar – ficou ao lado da Coroa. Assim, mas não só por isso, Portugal tornou Alagoas estado independente de Pernambuco.
Isso é o resumo do resumo do resumo desse processo!
Na proclamação da República, Deodoro da Fonseca era ligado a Dom Pedro II, mas tinha influência na elite da época e entre os militares. Afinal, era um Marechal.
Voltando para o tempo presente, não foram poucas as manifestações nas redes sociais com dizeres “Alagoas, não reeleja Arthur Lira”. Além de ser um superdimensionamento das redes, foi também falta de compreensão da realidade política, tanto nacional quanto local de Alagoas.
Por quê?
Por que os eleitores de Arthur Lira não estão nas bolhas das pessoas que compartilharam isso (e aqui me refiro somente aos que têm acesso às redes sociais); segundo porque é preciso entender como os eleitores de Arthur Lira recebiam as informações sobre sua atuação em Brasília; e por fim, porque Arthur Lira é apenas um. Sua força política está nos eleitos em todo o Brasil. Não fosse ele a cumprir o papel que desempenhou no governo Bolsonaro, seria outro.
Situação semelhante já ocorreu com Renan Calheiros no passado e mesmo assim, efeito eleitoral mínimo. E nacionalmente, também. Apesar de o emedebista ter sofrido reveses ao longo dos anos.
Enquanto os holofotes ficarem voltados somente à política na região centro-sul, mas especificamente em São Paulo, muita gente seguirá sem entender a força política de personagens oriundos de outros estados, principalmente os pequenos e distantes do centro do país, como Alagoas.
Talvez esteja aí, na dificuldade de chegar ao centro do poder político nacional, a resposta para o alto grau de capacidade políticas das figuras destacadas que saem de Alagoas. É preciso ter mais habilidade e melhor entendimento da conjuntura que figuras que saem de situação mais próxima ao centro político nacional.
Trocando em miúdos, é teoricamente mais fácil alguém se destacar na politica nacional saindo de São Paulo ou Rio de Janeiro, centros financeiros e midiáticos do país, do que de Alagoas.
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