terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Jair Bolsonaro, o minúsculo

Bolsonaro, o presidente mais desqualificado que o Brasil já teve (Foto: Reprodução)

O governo Bolsonaro – na verdade, de militares e do centrão, que teve o ex-capitão como presidente – chega ao fim mediante escancaramento da esculhambação, tanto administrativa quanto moral e também política. Bolsonaro entra para a História como “o minúsculo”.

Jair Bolsonaro exerceu por décadas mandatos como deputado federal e sempre, sempre foi daqueles que ninguém sabia quem era. Eventualmente, no Pequeno Expediente da Casa – aquele que não tem ninguém no plenário ou acompanhando eletronicamente o que se passa –, fazia o uso da palavra para abordar ou temas que ninguém se importava ou para vociferar preconceitos ou adular governos. Até o governo Lula recebeu bajulações do “mito”.

Após as manifestações de 2013, quando toda a chamada “classe política” entrou em descrença, Bolsonaro começava a figurar nas redes sociais como um meme e a dar entrevistas em programas de baixaria de auditória na tevê. A alcunha de mito vem daí, por exemplo.

Mas alguns militares de alta patente viram no “mau militar”, como afirmou o ex-ditador Ernesto Geisel, o único que passar pela caserna com alguma chance de voto devido à visibilidade, mesmo que tal visibilidade se desse como uma aberração retórica e social. E diante da depreciação da política – e dos políticos tarimbados –, não foi tão difícil conseguir o apoio do capital brasileiro, do tal mercado.

Mercado que, aliás, não dá a mínima para a democracia ou qualquer resquício de civilidade. Este setor só quer saber de suas carteiras cheias.

O nome de Bolsonaro ganhou o tal mercado por oferecer o desmonte do Estado brasileiro e por falar abertamente o que os engravatados de Armani pensam ou, quando muito, falam a sós em suas suítes com “closets” do tamanho de apartamentos populares.

E, em paralelo, para desmontar a política nacional e, consequentemente, a economia, se tinha a Lava Jato. Era a tempestade perfeita porque uma vez eleito, Bolsonaro não teria estofo político para peitar ninguém e faria tudo o que o tal mercado e militares quisessem. Colocaram no Planalto um espantalho falastrão.

Eleito, após a prisão ilegal de Lula em 2018, Bolsonaro passa a ser porta-voz do desmonte do Estado brasileiro, cujos primeiros passos ocorreram com Michel Temer (MDB), que assumiu a Presidência após o golpe que tirou Dilma Rousseff (PT) do Planalto em 2016.

Incapaz de sugerir, formular ou mesmo debater qualquer política ou ação de governo voltado ao bem-estar da população, Bolsonaro passou a usar o cargo que ocupava para viver uma vida de luxo e a vociferar ofensas por onde passava.

Sobre o luxo, basta ver os gastos com cartão corporativo, os passeios com jet-ski e a transformação de viagens oficiais em turismo farofeiro com dinheiro público, passaporte diplomático e avião oficial.

Só para se ter ideia dos gastos com cartão corporativo, nos meses de agosto, setembro e outubro deste ano, as faturas somaram R$ 9.188.642,20. Média de R$ 3.062.880,73 mensais.

Bolsonaro estava na praia, em Santa Catarina, enquanto cidades da Bahia e Minas Gerais estavam submersas por causa de enchentes, que também ocorreram em outros estados do Nordeste, a exemplo de Alagoas, de onde escrevo esse texto.

Durante a pandemia de covid-19, Bolsonaro foi o porta-voz da promoção de um negacionismo que levou à morte centenas de milhares de brasileiros. Seu governo atrasou em meses a compra de vacinas e tentou subornar a aquisição de imunizantes da empresa indiana Covaxin por um dólar a dose. Sem falar na propaganda de medicamentos ineficazes contra o novocoronavírus. Até se deixar fotografar mostrando a caixa de um desses remédios para uma ema do Palácio do Planalto, ele deixou.

Os militares compraram picanha, lagostas e cervejas importadas a rodo, mas tudo somente para os oficiais.

Enquanto destruía a capacidade do Estado brasileiro atuar no desenvolvimento nacional, ao destroçar a máquina pública por dentro, Bolsonaro foi o porta-voz de retórica reacionária, misturada com uma pseudo teocracia, que tem como aliados pastores de diversas igrejas no país, especialmente esses que vivem na tevê e nas redes sociais.

Numa enxurrada de falsa narrativa da realidade que, convenhamos, começou ainda antes de Bolsonaro ser escolhido como o a ser votado por militares e pelo tal mercado, o “sainte” obteve uma base fiel que é desconexa da realidade e, em certo ponto – como vimos no último dia 24 de dezembro em Brasília –, perigosa.

Mesmo assim, Bolsonaro não comanda nada disso. E justamente por saber disso e que não tem mais “poder de fogo”, deixa o Brasil rumo a Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos, neste dia 28 de dezembro. Assim como os ratos abandonam o navio quando este começa a afundar, Bolsonaro foge ao ver à frente sua realidade paralela de poder virar pó. Por isso, ele jamais admitiu a derrota eleitoral para Lula.

E também tem o fato de que algum maluco originado do tanto de narrativa falsa da realidade vier a bancar o terrorista e der em algo mais grave, o “mau militar” terá a desculpa de estar fora do Brasil. Mas ele voltará extraditado na medida em que seus crimes forem sendo comprovados.

Bolsonaro termina seu mandato como presidente do Brasil menor do que quando entrou.

Se antes, quando ele era apenas um deputado do Rio de Janeiro, muito achavam que ele era somente um “doido” baba-ovo de militar do golpe de 1964, bajulador do governo da vez e vociferador de impropérios contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos, nortistas e pobres, agora todos temos certeza disso. E pior, ele é uma figura que se sujeito ser usado para viver quatro anos de luxo com dinheiro público. Sim, porque trabalhar, ele não trabalhou. Então, passou quatro anos, aproveitando as benesses que o cargo de presidente da República dispõe.

Antigamente, isso tinha um nome curto, com quatro letras, mas não a escrevei aqui para não ofender ninguém.

Não duvidem se daqui a algumas décadas, quando escreverem nos livros de História sobre os anos 2019-2022, disserem que o Brasil teve como presidente um tal de “Bolsonaro, o minúsculo”.

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