sábado, 14 de janeiro de 2023

Com golpe impresso, prisão de Anderson Torres chegará em Bolsonaro e por aí vai

Jair Bolsonaro e Anderson Torres (Foto: Alan Santos/ PR)

Por volta das 7h30 da manhã de 14 de janeiro, o ex-ministro da Justiça e Jair Bolsonaro (PL) e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, chegou ao Brasil após ter sua prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e receber ultimato do ministro da Justiça Flávio Dino de que se não retornasse até o dia 16, a Interpol o traria de volta. Na véspera, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro foi incluído no inquérito que apura os atos terroristas de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes em Brasília.

Anderson Torres teve sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes logo após os atos terroristas de 8 de janeiro devido à evidente participação dele – por ação ou omissão – no ocorrido com a sede dos três poderes da República. Durante cumprimento de mandato de busca e apreensão em sua residência, a Polícia Federal (PF) encontrou uma minuta de golpe, o que garantiu, ainda mais, o referendo do Plenário da Corte sobre a prisão do ex-ministro de Bolsonaro.

Isso mesmo, um esboço de um decreto presidencial no qual se imporia um Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com direito a quebra de sigilo telefônico e telemático de seus ministros, para mudar o resultado das eleições de 2022. O golpe foi impresso e auditável. Seria cômico, não fosse trágico.




Assim que Anderson Torres teve sua prisão decreta pelo STF, afirmei em vídeo – em meu canal no Youtube – que ele abrirá o bico e “cantará como um passarinho” o esquema armado para a tentativa de golpe de Estado ocorrido no fim da primeira semana de 2023. Muita gente não acredita nisso, seja pelo fato de o ex-ministro também ser delegado da PF, seja por medo de morrer.

É justamente por isso que aposto no contrário. Por ser da PF, Anderson Torres sabe que o órgão já sabe de praticamente tudo que o envolveu nesse esquema e sabe também que colaborar com o inquérito pode lhe render alguns benefícios legais. Sobre o medo de morrer, se for para o que matem, o farão independente de ele abrir o bico. E ele, evidentemente, sabe disso, como também sabe que o histórico dos golpistas é abandonar os seus pelo caminho.

É evidente que o ex-ministro não fará isso sem que o Estado brasileiro lhe dê algumas garantias como, por exemplo, a segurança de familiares.

De acordo com a jornalista Natuza Ney, da Globonews, Anderson Torres chorou de soluçar ao receber a notícia de sua prisão. Isso não é postura de quem pretende se manter firme ao lado dos golpistas/terroristas.

Outro fator é a enorme pressão política, tanto dentro quanto fora do Brasil, para que “cabeças rolem” em todos os níveis do terrorismo da extrema-direita.

A ver.

Anderson Torres abrindo o bico ou não, a PF chegará em Jair Bolsonaro, para além dos visíveis estímulos aos patriotários que ficaram dois meses acampados e destruíram a sede dos três poderes da República.

Tudo o que os terroristas tentaram fazer só acelerou as ações do Estado brasileiro para se proteger. Seja a baderna na noite da diplomação de Lula pelo TSE, em 12 de dezembro, seja a bomba colocada nos arredores do Aeroporto Internacional de Brasília, seja os ataques de 8 de janeiro.

E a minuta do golpe é forte instrumento de puxar esse fio. O “golpe impresso” é auditável. Todas as impressoras têm sua “impressão digital” e rastreável. Se Anderson Torres bancar o rouxinol, melhor para ele.

O cerco a Jair Bolsonaro tem se fechado rapidamente. Nos Estados Unidos, já há forte mobilização política para que ele seja retirado de lá. Na Itália, país ao qual sua família deu entrada para tirar cidadania, também há o mesmo movimento.

A escolha do capitão fujão passa por ele decidir voltar ao Brasil e ser preso mais rápido do que espera, ou realizar sua segunda fuga que, como comentei em texto anterior, será para os Emirados Árabes. Inclusive, Eduardo “bananinha” Bolsonaro foi flagrado no aeroporto de Dubai em 13 de janeiro. A rota de fuga dessa gente foi divulgada primeiro pelo jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Felipe Pena, em suas redes sociais (MAIS AQUI).

Os Emirados Árabes não possuem acordo de extradição com o Brasil. Daí, o motivo, objetivo, dessa escolha.

A partir de Anderson Torres – e também dos milhares de presos e, agora, investigados – pelo terrorismo de 8 de janeiro, o inquérito, além de chegar aos Bolsonaro, também chegará aos militares, seja das Forças Armadas, seja das polícias militares, especialmente a do Distrito Federal.

Fora o fio do dinheiro, não é? A partir do financiamento dos acampamentos e da ida dos cerca de quatro mil golpistas a Brasília, que fizeram questão de produzir provas contra si, também dá para chegar ao epicentro disso tudo. Via Anderson Torres é mais rápido, óbvio.

É preciso que tudo seja juridicamente perfeito para que não haja nenhuma sombra de dúvida sobre a culpa de quem quer que seja, especialmente os “peixes grandes”. Se para mim ou para você que lê esse texto, a culpa de Bolsonaro e de generais, a exemplo de Heleno ou Braga Neto, é mais que evidente, juridicamente ainda há margens para contestação.

Em 18 de novembro, Braga Neto falou com apoiadores da extrema-direita brasileira – e se deixou filmar – todo serelepe e afirmando que “coisa boa vem por aí”. A tal coisa boa era a discussão do golpe esboçado em documento.

Os militares sempre deram ar de legalidade a seus golpes. Em 1964, por exemplo, eles não fecharam o STF e garantiam que só ficariam no poder por um ano. Ficaram 21 anos e o STF foi destroçado com a cassação de ministros, além do Congresso Nacional, vítima de ação semelhante.

O tal decreto de Estado de Defesa no TSE é ilegal até em Saturno, mas daria ares de legalidade aos patriotários, que são a base social dessa gente. Por isso, uma coisa que parece ser estapafúrdia ocorreu.

Mas no seu tempo, os terroristas responderão à Justiça. Se não por senso de justiça, por defesa de um Estado que está sob risco de se desmoralizar – para muita gente, “ainda mais!”.

E isso precisa ser feito em todos os níveis, inclusive com os apoiadores dessa gente nos estados Brasil afora. Muitos dos quais não verbalizaram abertamente o golpismo por não perderem espaços públicos que ocupam, inclusive com mandatos eletivos.

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