Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) |
O novo ministro da Fazenda Fernando Haddad será o “queridinho” da mídia grande durante o governo Lula 3. Por “queridinho” entenda “alvo”. O ex-prefeito de São Paulo é o oposto de Paulo Guedes, único poupado das críticas da imprensa durante o governo Jair Bolsonaro (PL) por seu viés entreguista e financista. O perfil de Haddad é desenvolvimentista e isso é tudo que o tal mercado detesta.
E a mídia grande é, acima de tudo, porta-voz e partícipe desse tal mercado.
Não é à toa que qualquer fala feita por Fernando Haddad, ou por Lula em relação à economia, surgem manchetes ressaltando a desaprovação do mercado. Até aí, nenhuma novidade. Nos outros governos Lula - e também de Dilma Rousseff (PT) – esse comportamento era o mesmo.
Mas teremos – ou deveremos ter – algumas diferenças na forma como a imprensa grande tratará o governo Lula 3. Seguirá com críticas, mas num tom abaixo dos governos anteriores encabeçados pelo PT.
Por quê? Por que a mídia sabe que se esticar demais a corda, o que volta é Bolsonaro ou um congênere, uma vez que o setor liberal civilizado da política nacional não possui nome competitivo eleitoralmente.
Eventualmente, a mídia trará situações de contradição política do governo Lula 3 e isso é natural e até parte do trabalho de imprensa. Investigar e trazer à tona situações de ministros ou de ocupantes de cargo de segundo e terceiro escalões do governo é, sim, tarefa da imprensa. Mas não é seu papel pôr lente de aumento para transformar formiga em elefante, nem colocar tudo como se fosse parte de um grande esquema sob a elaboração de uma cabeça pensante. No caso, Lula.
Cito como exemplo o caso da ministra do Turismo Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho, que em 2018 fez campanha – ou teria feito – ao lado do miliciano Juracy Alves Prudêncio, o Jura. Na mesma leva noticiosa, uma irmã da ministra teria recebido um automóvel Corolla em retribuição a uma facilitação de licitação da prefeitura de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
O primeiro caso se trata de contradição política e, em meu ver, tem muito mais espuma que coisa concreta. Não que as milícias no Rio de Janeiro devam ser naturalizadas, nada disso. Mas na atual situação do estado, que políticos de centro-direita ou de direita nunca tiveram algum tipo de relação política com alguém da milícia? Essa é uma pergunta sincera, inclusive, pois não domino a situação política local dos fluminenses. Quem souber, coloca nos comentários deste texto.
O segundo caso é mais grave, deve ser apurado e, se for o caso, haver punição aos envolvidos. Todo modo, essa denúncia, por si só, não significa dizer que a Daniela Carneiro tem relação direta. Não somente porque sua irmã teria recebido – ou recebeu – um carro como propina. Ninguém pode responder por maus feitos de outros, independente da ligação que possuem, seja do ponto de vista jurídico, seja do ponto de vista moral.
Mas o caso da ministra do Turismo não deve render em médio ou longo prazos. O trato dificultoso – por assim dizer – será com Fernando Haddad. Seja por ele estar no Ministério da Fazenda, de onde sairão as diretrizes econômicas e fiscais do governo Lula 3; seja por ele não ser um financista, ser do PT e da confiança de Lula, logo possível nome – mesmo que ainda muito cedo – para ser candidato em 2026; seja, e aí o principal, porque o mercado e, consequentemente, a grande mídia, queriam que Simone Tebet (ou equivalente) ocupasse essa pasta. Mas a emedebista ficou com o Planejamento, pasta que também atuará nessa seara, porém com menos peso.
O trato com Fernando Haddad sempre será na base do “mas”, especialmente com o governo Lula 3 dando resultados econômicos, sociais e estruturais. Será algo do tipo, “isso melhorou, MAS, na Fazenda…”.
Mesmo assim, repito, o tom das críticas tende a ser abaixo que nos governos anteriores encabeçados pelo PT. Um dos motivos, já citei: falta de nome eleitoralmente competitivo. Outro motivo é figuras que sempre foram porta-vozes do liberalismo econômico sem pudor passaram a falar em combate à fome. Isso mesmo, combate à fome.
Já faz meses, por exemplo, que Miriam Leitão volta e meia em seus artigos cita a importância de o Estado intervir para resolver o problema da fome no Brasil. Até a eleição de 2018, ela nunca escreveu ou falou nada que demonstrasse preocupação com isso. Qualquer passeio pelo Twitter de Miriam Leitão causa espanto o grau na diferença de abordagem no comparativo com os anos entre 2003 e 2016.
Outro nome do jornalismo liberal que criticou o tal mercado foi Josias de Souza. Ele questionou a postura adotada pelo mercado com a dupla Lula/Haddad em comparação à postura com a dupla Bolsonaro/Guedes.
Em seu comentário no canal do UOL, em 2 de janeiro, Josias de Souza afirmou que “há um exagero do mercado, que se comporta em relação a Lula e a Haddad de forma inversa ao comportamento que adotou diante de Paulo Guedes e Bolsonaro, que era o anti-São Tomé, acreditava em tudo antes mesmo de ver. Agora quer ver primeiro para crer”.
Em outro trecho de seu comentário, Josias afirmou que Fernando Haddad “não recusou a ideia de que é preciso ter nova âncora fiscal e fala em costurar uma nova âncora que seja ambiciosa e factível. A responsabilidade fiscal do governo Bolsonaro foi uma fantasia”.
Quem também andou recentemente questionando a postura do tal mercado e falando em fome foi Vera Magalhães, a mesma do “Sergio Moro enxadrista”. Ela chegou a comparar operadores do mercado com os “patriotários” (palavra minha).
“Os operadores de mercado parecem tomados da mesma cegueira de quem está na frente dos quartéis. Só isso explica se desesperarem com qualquer discurso e não ligarem para medidas de última hora de Bolsonaro que deixaram rombos extras no casco do navio fiscal”, afirmou Vera Magalhães em postagem no Twitter no dia 2 de janeiro.
Além disso, a Globo News tem dado importante espaço para Otávio Guedes, que de bolsonarista ou “direitoso reacionário” não tem nada.
Cito esses exemplos para mostrar que entre as estrelas da mídia grande também há contradições sobre como abordar o governo Lula 3, especialmente na economia. Por isso, afirmo que a postura da imprensa grande será um tom abaixo do que foi nos outros governos de Lula e nos de Dilma Rousseff.
O ambiente mais favorável, digamos assim, para que a mídia seja a velha mídia de sempre é a economia, que tem agora Fernando Haddad à frente com seu jeito tranquilo e professoral.
Teremos aí uma disputa de paciência, de ver quem se cansará primeiro. E pode ser que nenhum dos lados se canse, é verdade.
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2 comentários:
Bom texto, mas acho que a trégua da imprensa vai durar pouco
Ítalo Gouveia
É clara a má vontade da mídia com o Haddad e não tinha visto as falas dos jornalistas que mostrou no texto. Vou acompanhar mais pra ver se mudam. Mas não dá pra confiar na mídia brasileira. Eles deram golpe na Dilma e elegeram o Bolsonaro
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