quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Negam o golpe de 2016 por vergonha do que veio a seguir: Bolsonaro

Dilma após o golpe: "Voltaremos" (Foto: Reprodção)

O presidente Lula (PT) tem reafirmado diversas vezes que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016 foi golpe. Isso nem deveria gerar polêmica alguma, mas aqueles que agora fingem não ter sua parte na conta que gerou o governo Jair Bolsonaro (PL) bradam a negar tal fato. É a mais pura vergonha de como deixaram o Brasil, muito bem ilustrado com o genocídio dos Yanomami e dos ataques de 8 de janeiro às sedes dos três poderes da República.

Isso sem contar nas centenas de milhares de mortos durante da pandemia de covid-19 por causa do negacionismo do governo Bolsonaro ou mesmo as inúmeras bizarrices de seu período no Planalto. O que se vê na tentativa de negar que o golpe de 2016 foi golpe é o clássico “não tenho nada a ver com isso”.


O impeachment de Dilma ocorreu para frear o projeto desenvolvimentista em curso, que visava colocar de vez o Brasil em posição central no mundo daqui alguns anos. Mas como os endinheirados brasileiros sempre se mantiveram assim na base do entreguismo, era preciso – na ótica deles – barrar isso.

Há outras nuances nisso tudo e não, o governo Dilma não foi livre de falhas. Mas nem de longe gerou causa concreta para ser golpeado.

Na narrativa formal, Dilma foi arrancada da Presidência da República por “pedaladas fiscais”, termo que nem existia até então. E esse argumento, por si só, aponta para um golpe, uma vez que logo após tomar posse por ser o vice-presidente, Michel Temer (MDB), recebeu do Congresso Nacional mudança na lei complementar que lhe permitia fazer aquilo que motivou formalmente o golpe em Dilma.

Até tirar Dilma não podia fazer “pedalada”, depois podia. Simples assim.

Michel Temer, aliás, que desde logo assumir a Presidência da República, admitiu que o golpe foi golpe por mais de uma vez, tanto no programa Roda Viva quanto em entrevista coletiva, no qual ele credita o golpe à negação de Dilma em executar a “ponte para o futuro”, cujo teor era a destruição do poder do Estado de atuar como indutor da economia.

E ainda teve essa outra vez aqui.

Outro fato que reafirma que o golpe de 2016 foi golpe é a infame fala do então senador Romero Jucá: “um grande acordo nacional, com Supremo, com tudo”.

Aquele diálogo estava no contexto da Lava Jato, que parlamentares exigiam que Dilma usasse a Presidência da República para frear a operação que, mais tarde, se comprovou se tratar de instrumento de poder político e financeiro para Sergio Moro, Deltan Dallagnol e cia. Somado a isso, o desgaste público desdobrado das patacoadas de 2013.

Dilma Rousseff pagou o pato naquele momento.

Já em fevereiro de 2022, o ministro do STF, Luís Barroso admitiu que o golpe de 2016 foi golpe, sendo uma vez num artigo para a edição de estreia da revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “A justificativa formal foram as denominadas 'pedaladas fiscais' —violação de normas orçamentárias—, embora o motivo real tenha sido a perda de sustentação política”.

Ora, o sistema de governo brasileiro não é o parlamentarismo. Logo, perda de apoio no Congresso não gera afastamento do Chefe de Governo. Portanto, golpe.

Quem também admitiu que o motivo real do impeachment de Dilma não foi as “pedaladas” foi Janaína Pascoal, professora da USP e uma das signatárias do pedido que iniciou o processo de cassação da petista na Câmara dos Deputados.

Em 21 de setembro de 2019, Janaína Paschoal, já eleita deputada estadual em São Paulo, publicou no Twitter: “Alguém acha que Dilma caiu por um problema contábil?”.

Agora, os envergonhados tentam negar o que fizeram e até fazem falsa equivalência com o 8 de janeiro. Nem todo golpe de Estado se dá pela mesma forma, mas em sua maioria há alto grau de aparência de legalidade. Até o de 1964, que foi nos moldes clássicos de golpe, teve sua aparência de legalidade, com o Congresso e o STF avalizando aquilo.

Então por que Lula se aliou a quem apoiou o golpe de 2016? Porque o fascismo – mesmo o à brasileira – é muito pior. E, sejamos francos, há também muitos arrependidos do que fizeram sete anos atrás. Mesmo que alguns sequer verbalizem isso.

O bom daqueles que se doem com a reafirmação de que o golpe de 2016 foi golpe, especialmente entre aqueles querem se mostrar longe do chamado bolsonarismo, é que dá para saber que são a mesma coisa, só não falam palavrão.

É muita vergonha de ser quem são: golpistas.

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