terça-feira, 9 de maio de 2023

Gilmar Mendes falou a verdade sobre a relação Lava Jato/bolsonarismo; mas ele deveria?

Gilmar Mendes no Roda Viva de 8/5/2023 (Foto: Reprodução)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, 8 de maio. E o trecho que mais chamou a atenção foi a associação correta entre a operação Lava Jato e a ascensão do que se chama bolsonarismo ao poder.

“Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive todas as práticas que desenvolvem. Investigações a sorrelfa e atípicas. Não precisa dizer mais nada. Não é por acaso que os procuradores dizem, por uma falta de cultura, que aplicaram o Código Processual Penal do Russo”, afirmou. “Depois Moro vaza a delação do Palocci entre o primeiro e o segundo turno [das eleições de 2018]. Participa, portanto, do processo. Assume posição em favor da extrema-direita de uma maneira muito clara”, completou Gilmar Mendes.

Apesar de o bolsonarismo não ser somente fruto da Lava Jato, o ministro do STF acerta na relação. Contudo, a grande é questão é: ele deveria manifestar opinião política, ainda mais tendo relação com o Poder Judiciário?


Em meu ver, não.

Não é de hoje que a presença de magistrados na mídia dando opiniões sobre a política nacional e local está naturalizada. Esse processo não começou há pouco tempo, mas teve seu ápice durante o julgamento da Ação Penal (AP) 470, apelidada pela imprensa grande de “mensalão”, em aproveito do termo usado por Roberto Jefferson ao acusar – sem provas – José Dirceu de comandar esquema de compra de apoio parlamentar.

José Dirceu foi cassado por conta disso, ao tempo que Roberto Jefferson foi cassado por não ter provado o esquema. Parece loucura, mas foi isso mesmo.

O ponto desse texto não o que Gilmar Mendes falou, mas se ele deveria ter se manifestado.

Durante o processo da AP 470, o Brasil assistiu à midiatização do Judiciário. Promotores e procuradores, e ministros de cortes superiores se tornaram estrelas de televisão. O julgamento em si foi transmitido ao vivo, por exemplo, com o ministro Joaquim Barbosa, relator da ação, se tornando o “batman” do país.

Nesse período, a TV Justiça, que deveria servir para mostrar à população o funcionamento do Poder Judiciário, se tornou em holofote para os egos daqueles que ganham a vida vestindo uma toga. E se naqueles anos já vivêssemos o bum das redes sociais como agora, a coisa seria muito pior.

Após isso, ocorreu hipertrofia da midiatização do Judiciário até a naturalização da presença destes em veículos de imprensa.

Juízes e promotores/procuradores só deveriam se manifestar nos autos. Se querem opinar sobre a vida política do país, mudem de emprego.

Em toda a imprensa, seja a nacionalizada, seja a local, não é raro ver juízes e promotores opinando, falando sobre temas aos quais não passam de leigos que se informam – male, male – pelo grupo da família no seu aplicativo de mensagens. Outros, possuem um grande ativismo político.

A inserção da política está completamente naturalizada no Poder Judiciário, que deveria passar ao largo das disputas políticas e ideológicas da sociedade.

Como não entender que as grandes decisões que magistrados tomam não por questões políticas, concordemos ou não com elas?

Se antes dessa midiatização já era assim, imagine agora.

E o bum das redes sociais também afeta a política. Detentores de mandato agora se preocupam mais em gerar cortes para suas redes do que debater política, de propor medidas e ações que avaliem ser mais benéficas, ao menos para a maioria das pessoas. Não, agora a meta é engajar nas redes.

As redes são – ou podem ser – ótimo instrumento de amplificação de discursos e posicionamentos, mas não podem ser seu objetivo final. Contudo, esse é um tema para outro texto ou vídeo no Youtube.

Voltando à naturalização da política no Judiciário, o mesmo vem ocorrendo com a presença de militares – seja da Forças Armadas ou das polícias – nessa seara. E já estamos vivendo o potencial estrago disso.

A midiatização da Lava Jato, além de politização, é resultado direto do que ocorreu durante o processo a AP 470. Sergio Moro e cia “são filhos” de Joaquim Barbosa e cia, à época no STF. Os padrinhos? A mídia grande.

2 comentários:

Alessandro Morais disse...

O poder judiciário é o mais influente e o mais político dos poderes.

Anônimo disse...

Com essas premissas a tendência ao exibicionismo e o desejo de ser o centro das atenções é um convite irrecusável. Alguns juízes não passam de pavões nada misteriosos.